O bruxo Krajcberg
Frans Krajcberg (Kozienice, Polônia, 1921 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017). Escultor, pintor, gravador e fotógrafo. Autor de obras que têm como característica a exploração de elementos da natureza, destaca-se pelo ativismo ecológico, que associa arte e defesa do meio ambiente.
Nascido na Polônia, Krajcberg forma-se em engenharia e artes pela Universidade de Leningrado. Mais tarde, ao mudar-se para a Alemanha, ingressa na Academia de Belas Artes de Stuttgart, onde é aluno do pintor alemão Willi Baumeister (1889-1955).
Frans Krajcberg por @Araquém Alcântara
Sua carreira artística se inicia no Brasil, onde chega em 1948, procurando reconstruir a vida depois de perder toda a família em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Reside um curto período no Paraná (isolando-se na floresta para pintar) e, em 1951, participa da 1ª Bienal Internacional de São Paulo, com duas pinturas. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1956, onde divide ateliê com o escultor Franz Weissmann (1911-2005). Naturaliza-se brasileiro no ano seguinte. Suas pinturas desse período tendem à abstração, predominando tons ocre e cinza. Trabalha motivos da floresta paranaense, com emaranhados de linhas vigorosas.
"Meu primeiro pensamento foi: 'A guerra continua'. Havia dias em que era tanta fumaça que não se conseguia ver a luz do sol. O cenário, aquela terra arrasada pela destruição, era o mesmo dos campos de batalha. E me perguntava que ser terrível era o homem, capaz de fazer aquilo. A arte foi a maneira que encontrei para reagir"
O artista retorna a Paris em 1958, onde permanece até 1964. Alterna a estada em Paris com viagens a Ibiza, Espanha, onde produz trabalhos em papel japonês modelado sobre pedras e pintados a óleo ou guache. Essas "impressões" são realizadas com base no contato com a natureza e aproximam-se, nas formas, de paisagens vulcânicas ou lunares. Também em Ibiza, a partir de 1959, produz as primeiras "terras craqueladas", relevos quase sempre monocromáticos, com pigmentos extraídos de terras e minerais locais. Como nota o crítico Frederico Morais, a natureza torna-se a matéria-prima essencial do artista.
De volta ao Brasil, em 1964, instala um ateliê em Cata Branca, Minas Gerais. A partir desse momento ocorre em sua obra a explosão no uso da cor e do espaço. Começa a criar as "sombras recortadas", nas quais associa cipós e raízes a madeiras recortadas. Nos primeiros trabalhos, opõe a geometria dos recortes à sinuosidade das formas naturais. Destacam-se as projeções de sombras em suas obras.
Em 1972, passa a residir em Nova Viçosa, litoral sul da Bahia. Amplia o trabalho com escultura, iniciado em Minas Gerais. Intervém em troncos e raízes, entendendo-os como desenhos no espaço. Essas esculturas fixam-se no solo ou buscam libertar-se, direcionando-se para o alto. A partir de 1978, atua como ecologista, luta que assume caráter de denúncia em seus trabalhos: "Com minha obra, exprimo a consciência revoltada do planeta"1. Krajcberg viaja constantemente para Amazônia e Mato Grosso, e registra, por meio da fotografia, desmatamentos e queimadas em imagens dramáticas. Dessas viagens, retorna com troncos e raízes calcinados, que utiliza em esculturas.
Na década de 1980, inicia nova série de "gravuras", que consiste na modelagem em gesso de folhas de embaúba e outras árvores centenárias, impressas em papel japonês. Também nesse período, realiza a série Africana, utilizando raízes, cipós e caules de palmeiras associados a pigmentos minerais. Krajcberg sempre fotografa suas esculturas, muitas vezes tendo o mar como fundo.
O Instituto Frans Krajcberg, em Curitiba, é inaugurado em 2003, recebendo a doação de mais de uma centena de obras do artista. Krajcberg, ao longo da carreira, mantém-se fiel a uma concepção de arte relacionada à pesquisa e utilização de elementos da natureza. A paisagem brasileira, em especial a floresta amazônica, e a defesa do meio ambiente marcam toda sua obra.
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