Fé na Festa-Anatomia dos festejos de Santo Antônio na Bahia.

Se um caderno de receitas tivesse o poder de reviver cheiros e aromas, não tenha duvida que, os festejos juninos na Bahia, seria um grande memorial coletivo.

Tal força se relaciona com um imaginário vivido, ou para alguns construído, como um momento cheio de significados.

A memória olfativa é, comprovadamente, a maior memória que o ser humano possui!

Em 2004 dois cientistas, Richard Axel e Linda B. Buck ganharam o Prêmio Nobel de Medicina por terem descoberto uma família de genes (cerca de 1.000 genes ou 3% do genoma) intrinsecamente relacionados à nossa capacidade olfativa. 

A memória olfativa renova a vida pela singularidade do sabor, que só é sentido por causa do cheiro. 


A cozinha, como espaço de criação, assegura-se que todos os desejos, sejam satisfeitos, a través do cheiro, e do sistema límbico, abrimos uma porta de acesso do cérebro, que estimula todos os outros sentidos, nós enchendo de prazer e emoções. 

Pelo simples fato de, lembrar as comidas gostosas e das pessoas que as produziram, voltamos no tempo e no espaço pra sentir tantas vezes possíveis a mesma felicidade. 

Comer é abastecer o imaginário de boas lembranças, de reconhecer o valor ao lugar, as pessoas, as culturas e como se tudo isso fosse pouco, se esbaldar em cores, sabores, e saberes sem explicação.

Quantas definições pra dizer que comer intensifica e assegura a vida. 

Mostra que a humanidade em seu poder de orquestrar a natureza, descobriu tantas maneira de desenhar sua história sem símbolos, sem palavras, apenas com o sentimento de uma memória individual, às vezes coletiva de estar feliz a mesa.

Em homenagem a todos os sentidos e memórias da vida, celebramos todos os momentos comendo aquilo que mais gostamos. 

Sentindo o cheiro da infância, dos amores, e sendo eternamente renovados pelos novos experimentos da vida.

Isso tudo é resultado do potencializar, estimular, e entender que a vida é uma continuidade, uma inspiração, uma lembrança, a manifestação do Divino e a expansão de consciência de todos os seres em mim, em você, em todos nós. 

Na serie Anatomia dos festejos de Santo Antonio na Bahia, convidei a Índia Pamponet, 57 anos, produtora cultural, para descrever um pouco sua devoção a este rico período festivo.


Desde criança as estação do outono e as festas juninas, me despertavam um sentimento de prazer, o cheiro do incenso e do manjericão do Santo Antonio, marcavam para mim a época.

Como nasci em Ipirá, no interior da Bahia, a lembrança do dia de 19 de março, dia de São José e o plantio do milho, era de grande importância para todos nós, era como um momento de renovação, que se iniciava neste período, ali começava um novo ciclo.


"O manjerico é uma planta de folhas pequenas e arredondadas, extremamente aromática, da família do manjericão. Existem inúmeras tradições que a relacionam aos Santos Populares, especialmente a Santo António e também a São João.

A palavra "manjerico" vem do Grego 'basilikón', que significa 'erva do palácio' e que em Latim se chamava 'ocimum basilicum'. No português antigo, 'basilikón' passou a ser dito 'masilicum', e daí chegámos ao nome 'magiricum'."

Nunca fui carola, sempre entendi o lado religioso, mas não perdia o lado profano, adorava as Trezena de Santo Antônio, nesse período de festa e orações, eu como boa devota, não perdia!
 
India, se considera uma Antonina fervorosa, até hoje, segue todos os ritos e tradições, que vai de botar o Santo Antônio de cabeça para baixo, para ele atender os meus pedidos, de promover ações de caridade em gratidão as graças alcançadas e é claro, organizar as trezenas de 1° à 13° de junho, com nosso grupo de Antoninas com direito até a competição de altar mais bonito. 
"Fui dona do Raiz restaurante natural, nos anos 90, e sei da importância de uma alimentação afetiva."


"Todos os anos alcanço uma graça de Santo Antônio, em gratidão ao meu Santo, renovo meu repertório e canto com todo amor e fé no coração.
Gosto do pileque e das comidas: canjica, milho assado e cozido, pamonha, lelé, mungunzá, arroz doce, cocada de Coco e todas comidas típicas junina. 
Na juninas sou muito boa de Canjica, meu pai me ensinou aos 12 anos, a pesar disso, guardo a receita com carinho como segredo de estado.
Meu espírito entra festa até o São João tudo me encanta! 
Alimentar nossa ancestralidade, a renovação da fé, culinária, decoração, músicas e todas as nossas tradições."
Viva São José, Santo Antônio e São João!!


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