FÉ NA FESTA-Anatomia dos Festejos de Santo Antônio na Bahia.

 "O carregador caolho " (ou Zarolho)

Mesrou era um carregador, que não possuía um olho, mas era feliz e não se importava com o fato de ter só um olho só.

No conto o filósofo Voltaire explica que temos um olho que só vê as coisas boas, e o outro as coisas más, mas, por sorte ou destino, Mesrou, tinha o olho bom. Após uma bebedeira, Mesrou sonha que é o herói de uma princesa linda, que mora em um palácio maravilhoso, possui grandes riquezas e tem o amor de Melinade (a princesa).

Assim que passou o efeito da bebida, ele acorda e vê a sua realidade, mas não fica triste,( o olho bom) passa a amar a bebida ,por gratidão ,na esperança de sonhar com sua amada .

Faço está introdução para apresentar Vera Lucia Martins, nascida no Sertão da Bahia, município de Santanópolis, no distrito de Irará chamado Quaresma.
Vera se dedica a muitos anos, à alimentação natural, é uma alquimista na cozinha, e não perde suas raízes sertanejas.
E se por ventura você pensa que aqui vamos falar em jejum, ou fome, está muito enganado, em suas lembranças não cabem desesperança, muito menos tristeza, o santinho, é cultuado todos os anos, o que prova, que "Mais vale um olho bom, a fé e a alegria no coração."

m toda minha infância vivida por lá lembranças são presentes em minha memória até os dias atuais, as festas da nossa cultura popular e principalmente do nosso querido e amado santo Antônio, quantas lembranças boas nos traz as trezenas.

Era algo mágico para toda a criançada da roça onde não havia muitas diversões.
Lembro que íamos para igreja rezar, cada dia era responsabilidade de um morador local tendo que ficar com os cuidados de ornamentar com flores a igreja e depois o banquete de comidas e bebidas típicas da época da colheita no nordeste como milho assado, cozido, canjica, mingau, pamonha, amendoim, laranja, bolos de carimã, bolo de aipim, sem faltar o nosso querido licor de jenipapo, tamarindo laranja e como sempre depois de comer e beber o samba era garantido.
Não posso esquecer das fervorosas crenças, de colocar o santo de cabeça para baixo, ou mesmo, dentro de um vaso com água, para alcançar os pedidos, ou retirava o menino dos braços de santo Antônio para algum pedido ser atendido.

Confesso à vocês que não ia para igreja por pura devoção, percebi que o local tinha uma acústica maravilhosa, e como a oportunidade surgiu, vi o caminho para realizar meu sonho, que era ser cantora.
Meu maior interesse era cantar, ouvir minha voz no eco da igreja, me sentindo a própria Angela Maria.
Anos depois, já morando em Salvador, criamos um movimento de luta política em defesa do parque de Pituaçu, e do movimento Salve a Lagoa, e com tristeza, vimos nossa luta morrer na praia,
Foi então, que nós do movimento resolvemos apelar para Santo Antônio, criando assim o "Alto de Santo António da Lagoa", com uma imagem feita com papel machê pelo artista Ismine Lima, com uma peculiaridade:

O santo era zarolho, o que foi motivo durante as rezas, de muitas gargalhadas pois brincávamos com ele, se não resolver esse nosso problema da lagoa iria passar a vida toda zarolho.
A reza acontecia em 13 casas de famílias e na penúltima noite, a farra era boa, muita comida e bebida encerrando a reza cantando e zoando o santo:
Antônio meu pai cadê o pileque que não sai o pilé que saiu só que santo Antônio não viu e atribuímos ou não vê ao santo Antônio zarolho. 
As brincadeiras eram grandes, saiamos em procissão com o andor pelas ruas do bairro, e finalizava no dia 13 no quiosque do parque de Pituaçu, numa grande festa e cantoria para Santo António da lagoa.
Recitávamos poemas, discursos, músicas, e as piléria para o santo.
Nossas trezenas se mantém até os dias de hoje, onde amigos são convidados, bem como os moradores locais, com isso, vimos crescer o interesse da festa para o bem da comunidade como integração, partilha, com união, alegria e muito amor no ar. 
Como não sabíamos as músicas e os hinos, cantávamos errada muitas vezes, desafinadas e fora do tom, e tudo isso era motivo de muito riso e alegria. 
Descobrimos músicas de outras pessoas, e acrescentamos ao nosso rezo:
Eu pisei na pedra, a pedra do mar rolou o mundo tava torto, santo Antônio endireitou ,/o mundo tava doente santo Antônio nos curou,/ afastados pela pandemia santo Antônio nos juntou/ ajuda eu santo Antônio ajuda eu ajudar eu santo Antônio ajuda eu/  eu sou das águas/ eu vim das águas/ eu vou voltar para o mar/ doce é o mar/ doce é o mar .


Hoje tenho um carinho muito especial pelo santo, ouvi muitos depoimentos de milagres, curas e livramentos atribuído a Santo Antônio.
Lembrando que cada pessoa faz seu altar, cada um mais bonito, decorado do seu jeito, e com todas as comidas maravilhosas.
Além disso, criamos músicas novas, e convidamos artistas para escrever novas letras o ano passado 

 Ai santo Antônio/ santo Antônio por favor /faz a minha alegria /no casamento do amor/ tá caindo flor ê ô/tá caindo flor /cai do céu /cai da terra /ê tá caindo fulô /santo Antônio faz a festa /e também faz casamento/ e a chuva na lavoura/ faz brotar nosso alimento.





Em Quixeramobim no Sertão da Bahia, é forte a devoção a Santo Antônio, apóstolo da solidariedade e da paz, o ciclo de festejos se inicia no dia primeiro, e terminam somente no dia 13 de junho, com uma procissão, considerada a maior mobilização católica de rua do Sertão Central.

A origens de Quixeramobim guardam estreita relação com os “tangedores de gado” que percorriam os vales dos rios da região, interiorizando a colonização. A Fazenda Santo Antônio do Boqueirão foi marco importante desse processo. Ali, seu proprietário, o português Antônio Dias Ferreira, mandou edificar uma capela dedicada ao lisboeta Fernando de Bulhões, canonizado como Santo Antônio, vindo o pequeno templo religioso a se tornar a primeira Matriz do Sertão Central cearense, em 1755.

Por esse motivo, neste ano, a Igreja Católica, fiéis e a administração do Município optaram por resgatar uma antiga tradição. Vaqueiros, símbolo do trabalhador que povoou essa terra, realizaram cavalgada pelas ruas da cidade até a antiga capela, hoje, Igreja Matriz. Alguns, utilizando trajes típicos, gibão e chapéu de couro. Outros, empunhando bandeiras do País, Estado, Município e religiosas, ainda um estandarte. À frente da cavalaria, Santo Antônio. Sua imagem seguiu nos braços de um menino até a Igreja Matriz.

Comentários

  1. Bela História e Reflexão, Verinha
    Muita saúde e proteção divina, para. prolongar por muito tempo , sua devoção com Santo Antônio.

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