PIXÉ, IGUARIA PARA COMEMORAR OS 306 ANOS DA CAPITAL CUIABANA


Pixé, também conhecido como Paçoca Cuiabana, é uma iguaria tradicional feita a partir do milho de pipoca torrado e moído, adoçado com açúcar, canela e uma pitadinha de sal. É um alimento ancestral, com forte presença na cultura alimentar de Mato Grosso, especialmente entre comunidades tradicionais, sendo preparado e transmitido por gerações.

Para celebrar os 306 anos de fundação da capital de Mato Grosso, Cuiabá, trazemos está receita popular esquecida, a iniciativa reforça a valorização da identidade local e a conexão entre a agricultura e a gastronomia tradicional com essa iguaria que é feita com milho.

Por toda a cidade, as celebrações não param de acontecer.

A história do Pixé, também conhecido como Paçoca Cuiabana, está profundamente enraizada nas tradições alimentares do Centro-Oeste brasileiro, especialmente no estado de Mato Grosso. Seu preparo e consumo remetem a práticas alimentares indígenas, afrodescendentes e sertanejas, sendo um símbolo da culinária de resistência.

Crônica sobre o Pixé, entre memória, cheiro de milho torrado e a poesia da resistência alimentar:

O Pixé e o Tempo das Coisas Boas

Na casa da minha avó, o tempo andava diferente. Era mais redondo, mais cheiroso, mais morno. E, entre um pilão e outro, entre o rangido do assoalho e o café recém-passado, vinha ele: o pixé. Farinha doce de milho torrado, temperada com canela, açúcar e uma pitadinha de sal — do tipo que a gente comia com a mão, devagar, pra render.

O pixé não tinha pressa. Era preciso escolher o milho com os dedos, como quem escolhe palavras num poema. Depois vinha o fogo baixo, a panela de ferro, e a paciência. Milho de pipoca, sim senhor. Mas que não estoura. Ele dança no calor até ganhar cor de ouro velho. Depois vira pó, mas não um pó qualquer — é pó de sustança, de história, de raiz.

Diziam que vinha dos índios. Que era comida de estrada, de roça, de quintal. Outros falavam que era coisa dos pretos velhos, de tempos duros e mãos firmes. Eu acho que é de todos nós que ainda sabemos mastigar a memória.

Tinha gente que comia com leite, outros jogavam no cuscuz. Lá em casa era puro mesmo, no cuia ou na palma da mão, pra lamber depois os dedos. Era lanche, era sobremesa, era café da manhã de quem não tinha muito, mas tinha o suficiente.

Hoje, quando ouço falar de superalimentos, fico pensando: se o mundo conhecesse o pixé, talvez entendesse melhor o que é resistir com doçura. Porque ele é isso: um alimento que atravessou o tempo sem pedir licença, feito de sobra e de sobra virou festa.

O pixé, pra mim, não é só comida. É um modo de viver o tempo. De guardar o milho, o gesto, o sabor. De lembrar que as melhores receitas não estão nos livros, mas nos olhos de quem ainda vê beleza no simples.

E que sorte a nossa — ainda temos tempo de torrar, moer e contar histórias com gosto de canela.

Origens Indígenas e Afrodescendentes

O pixé tem origem nas formas de conservação e aproveitamento do milho, cereal base da alimentação indígena em todo o continente americano. Povos originários do Cerrado já torravam e moíam milho para criar farinhas nutritivas de longa durabilidade. Com a chegada de populações africanas escravizadas e o contato com colonos portugueses, esse saber se entrelaçou com técnicas de pilar, adoçar e temperar os alimentos — resultando no que hoje conhecemos como pixé.

Modo de Fazer como Patrimônio Imaterial

O preparo do pixé é artesanal e transmite saberes orais e práticas comunitárias: selecionar o milho, lavar, torrar pacientemente no fogo de lenha, moer no pilão ou moinho de pedra, e por fim agregar açúcar, canela e sal. Esses gestos compõem um verdadeiro ritual, que vai além do alimento e envolve memória, cuidado e tempo.

Tradicionalmente consumido em festas religiosas, mutirões agrícolas ou como alimento de sustento no dia a dia, o pixé é considerado uma “comida de guardar”, ou seja, que não estraga com facilidade e nutre por muito tempo. Ele está associado a práticas de autossuficiência alimentar, marcando presença em casas humildes, escolas rurais e comunidades quilombolas e ribeirinhas.

Cuiabania e Cultura Sertaneja

Na região de Cuiabá, o pixé se tornou uma das expressões mais emblemáticas da cultura cuiabana, ao lado da chipa, do furrundu e do arroz com pequi. Muitos cuiabanos recordam o pixé como “comida de vó” ou de infância, preparado no pilão e servido com leite, café ou puro, como farofa doce.

Importância do milho na economia cuiabana

O vice-presidente da Aprosoja Leste e produtor rural, Lauri Jantsch, lembra que o milho é de extrema importância tanto para os seres humanos, quanto para os animais. Isso porque, pode ser encontrado em diversos alimentos e consumido diariamente. “O milho pode ser encontrado em diversos tipos de alimentos para ser usado no dia-a-dia e também como fator secundário, como na alimentação de bovinos, suínos e aves. Também é uma excelente opção para nos trazer uma energia renovável. Além de ser encontrado em alternativas renováveis nos setores industrial, alimentício e cosméticos”, disse Lauri.

O cantor e apresentador cuiabano Pescuma Morais também destaca que a culinária cuiabana carrega fortes influências das culturas africana e indígena, o que a torna rica em sabores e tradições, como é o caso do pixé, uma guloseima antiga e deliciosa. “O pixé, essa iguaria cuiabana, estava esquecida. A letra da música nada mais é do que uma receita. Foi ela que ajudou a resgatar esse doce feito com milho, um ingrediente típico da nossa terra. Mato Grosso é um dos maiores produtores de milho do país”, ressaltou.

Aqui vai uma versão resumida da receita tradicional:

Pixé (Paçoca Cuiabana Tradicional)

Ingredientes:

1 xícara de milho de pipoca cru

3 colheres de sopa de açúcar

1 colher de chá de canela em pó

1 pitada de sal

Modo de preparo:

1. Selecione e lave bem os grãos de milho.

2. Torre em fogo baixo, mexendo sempre, até que fiquem bem dourados e com aroma característico (sem estourar como pipoca).

3. Triture ou moa os grãos torrados até virar uma farinha grossa.

4. Misture o açúcar, a canela e o sal.

5. Sirva seco, como lanche ou acompanhamento.

Esse alimento tem um forte valor simbólico e nutricional, sendo energético, resistente ao tempo e facilmente armazenável. Tem ligação com as formas de vida e resistência alimentar do Cerrado e das comunidades indígenas e afrodescendentes da região.


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