CULTURA ALIMENTAR É ATO ANTIRRACISTA E DE REPARAÇÃO


Valorizar os saberes alimentares de matriz africana é afirmar identidade, combater o racismo e fortalecer a autonomia dos povos. Comida é memória, é território e é também ferramenta de luta por um mundo mais justo e plural.
Apostar na cultura alimentar, conhecer nossas tradições culinárias e valorizar os saberes ancestrais é, sem dúvida, um ato político, de resistência e de reparação histórica.
Neste 25 de maio, Dia da África, celebramos não apenas a diversidade dos povos africanos, mas também as suas contribuições civilizatórias, culturais e espirituais para o mundo. Celebrar a África é, sobretudo, reconhecer que a diáspora africana, forçada pela escravidão e pela colonização, plantou raízes, saberes e práticas que estruturam, até hoje, as sociedades nas Américas — especialmente no Brasil.

Quando falamos de cultura alimentar, falamos diretamente desse legado africano que resiste no prato, no modo de plantar, de cozinhar, de comer e de se relacionar com a terra. Apostar na cultura alimentar, conhecer nossas tradições culinárias e valorizar os saberes ancestrais é, sem dúvida, um ato político, de resistência e de reparação histórica.

Quando reconhecemos os conhecimentos tradicionais, estamos desafiando um sistema que, por séculos, tentou apagar as contribuições dos povos negros, indígenas, quilombolas e das populações rurais e periféricas. A culinária desses povos não é apenas técnica de preparo de alimentos. Ela carrega memória, espiritualidade, modos de viver, de se organizar socialmente e de se relacionar com a natureza.

A cultura alimentar tradicional nos ensina a viver em coletividade, a respeitar os ciclos da terra, a consumir de forma responsável e a reconhecer que comida não é mercadoria, mas elo de pertencimento, de cuidado e de identidade.

No enfrentamento ao racismo, a cultura alimentar se apresenta como um campo de disputa simbólica e material. Disputar narrativas sobre o que é considerado valioso, sofisticado ou digno de reconhecimento é também enfrentar as estruturas que sustentam o racismo e a exclusão. Ao colocar na centralidade da discussão os saberes alimentares ancestrais, estamos afirmando que esses corpos, esses territórios e essas culturas importam, resistem e seguem vivos.

Quando escolhemos aprender com essas cozinheiras, mestres e mestras dos saberes, rompemos com estruturas racistas que marginalizam esses conhecimentos e que colocam a culinária eurocêntrica como padrão de excelência. É, portanto, um enfrentamento direto ao preconceito que tenta desqualificar o saber popular e ancestral, tratando-o como menor, como folclore ou como atraso.

O fortalecimento da cultura alimentar pode ser um caminho contra a exclusão e o racismo.

A cultura alimentar não é apenas um conjunto de receitas, ingredientes e modos de preparo. Ela é expressão de memória, identidade, território e resistência. Valorizar os saberes culinários ancestrais é reconhecer que esses saberes foram, historicamente, desqualificados por um projeto colonial e racista, que tentou marginalizar as práticas culturais de povos indígenas, africanos e das populações periféricas.

Ao longo da história, o racismo não atuou apenas nos corpos, mas também nos saberes e nas práticas alimentares. Ingredientes como o dendê, a farinha, a mandioca, o inhame, o milho, as folhas e os conhecimentos ligados à pesca artesanal, aos quintais produtivos e às roças comunitárias foram, por muito tempo, tratados como inferiores, associados ao atraso ou à pobreza. Da mesma forma, os modos de cozinhar, celebrar e compartilhar o alimento foram invisibilizados frente a uma lógica eurocêntrica, que sempre buscou validar apenas aquilo que se aproximava dos padrões coloniais.

Valorizar a cultura alimentar dos povos tradicionais é abrir caminhos para a autonomia econômica, para o fortalecimento dos territórios e para a geração de renda de forma justa. É garantir que mulheres negras, quilombolas, indígenas, pescadoras e agricultoras sejam reconhecidas não como mão de obra barata, mas como protagonistas — detentoras de um conhecimento sofisticado, potente e imprescindível para a construção de um futuro mais justo e sustentável.

Portanto, investir na cultura alimentar é investir na equidade. É enfrentar o racismo, o preconceito e a exclusão socioeconômica não apenas no discurso, mas na prática diária, no prato, na mesa e nas escolhas que fazemos como sociedade. É, acima de tudo, reconhecer que, sem a valorização dos saberes ancestrais, não há futuro possível.

Fortalecer a cultura alimentar é, portanto, um ato político que rompe com essa lógica. É reconhecer o valor dos saberes transmitidos oralmente, dos modos de preparo que atravessam gerações e dos sistemas alimentares construídos a partir da relação profunda com o território e com a natureza. É devolver protagonismo às mulheres negras, indígenas e quilombolas, que há séculos são guardiãs desses saberes, mas que seguem sendo as mais afetadas pela desigualdade e pela exclusão socioeconômica.

Neste Dia da África, reafirmamos que fortalecer a cultura alimentar é também enfrentar o racismo, o preconceito e a exclusão. É disputar narrativas, é afirmar que os saberes culinários africanos, indígenas e quilombolas não são folclore, não são atraso — são tecnologias sociais sofisticadas, formas de resistência e caminhos para construir um futuro mais justo e sustentável.

Portanto, ao celebrarmos a África, celebramos também a dignidade dos povos negros, quilombolas e das periferias, que seguem sendo guardiões e guardiãs dos saberes alimentares. Saberes que são, ao mesmo tempo, resistência, cuidado, ancestralidade e construção de um outro projeto de mundo, mais justo, mais coletivo e mais conectado com a vida.

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