Kant, mais atual do que nunca, nos lembra que a verdadeira liberdade não está em acumular, mas em ser capaz de abrir mão. Rico não é quem tem muito, mas quem precisa de pouco.
Esta frase sintetiza uma das mais potentes críticas à lógica da acumulação que atravessa a modernidade. Kant, filósofo iluminista do século XVIII, aqui rompe com a ideia de que riqueza material é sinônimo de valor, sucesso ou felicidade. Ao afirmar que o ser humano é rico não pelo que possui, mas pelo que pode dispensar, ele desloca o conceito de riqueza do campo da posse para o campo da autonomia, da liberdade e da suficiência.
No fundo, essa reflexão toca um ponto sensível da condição humana contemporânea: a dependência crescente do consumo, dos bens e do acúmulo como tentativa de preencher vazios existenciais. Numa sociedade que mede o valor de uma pessoa por aquilo que ela ostenta — casa, carro, roupas, viagens —, Kant propõe um caminho oposto, profundamente libertador. Ser capaz de dispensar, de abrir mão, é um sinal de que se é senhor de si, de que se conquistou uma riqueza interna que não depende do externo.
Sob um olhar ético, essa frase dialoga com o ideal kantiano da autonomia moral: ser livre não é fazer o que se quer, mas agir de acordo com princípios racionais e éticos, independentemente dos desejos passageiros e das pressões externas. Logo, quem se torna refém do consumo constante, dos desejos intermináveis, não é livre — é escravo de suas próprias carências fabricadas.
Além disso, a reflexão se expande para uma crítica ecológica e social extremamente atual. Num mundo marcado pela desigualdade, pela exploração dos recursos naturais e pelo colapso ambiental, a lógica do dispensar e do bastar-se ganha uma dimensão política. Quem sabe viver com menos não apenas conquista liberdade pessoal, como também contribui para um mundo mais justo e sustentável.
Por fim, essa máxima kantiana convida a uma inversão de valores. Ser rico, afinal, não é ter muito, mas ter o suficiente — e, mais ainda, ser capaz de abrir mão do excesso, daquilo que não é essencial. É um chamado à sobriedade, à ética do cuidado e ao fortalecimento da riqueza invisível: o saber, a cultura, o tempo, os vínculos e a liberdade interior.


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