TERRAS SENSÍVEIS: ECOLOGIA, CULTURA E ALIMENTAÇÃO
O que acontece quando um artista decide cultivar, não só alimentos, mas também sensibilidade, vínculos e futuros possíveis?
Em Saint-Denis, na periferia de Paris, Olivier Darné — artista, apicultor e fundador do Partido Poético — transformou o último terreno de horta comercial da cidade em um laboratório vivo, onde natureza, cultura e alimentação se entrelaçam. Sua fazenda urbana, chamada Zona Sensível, é muito mais do que um espaço de cultivo: é um campo de experimentação onde abelhas, plantas, pessoas e ideias convivem, propondo outro olhar sobre a cidade, a produção de alimentos e as relações humanas. Ali, mel, poesia e agroecologia se tornam ferramentas de transformação social e ambiental.
Sua fazenda urbana, chamada Zona Sensível, é muito mais que um espaço agrícola — é um vasto laboratório onde natureza, cultura e alimentação se entrelaçam como práticas políticas, poéticas e sensoriais.
Ali, colmeias se tornam dispositivos de reflexão sobre a vida coletiva, a biodiversidade e os sistemas de produção. O mel, produto das abelhas urbanas, carrega não apenas sabores, mas também narrativas sobre os territórios, seus desequilíbrios e suas potências.
A Zona Sensível propõe um modelo de agricultura artística: um fazer que cultiva tanto alimentos quanto vínculos, tanto biodiversidade quanto imaginação social. É um espaço onde a arte se coloca ao serviço da regeneração dos territórios e da reinvenção das relações entre humanos e não-humanos.
Olivier Darné é um artista visual, apicultor e ativista francês que se autodefine como "agricultor artístico". Ele fundou o coletivo Le Parti Poétique (O Partido Poético), que propõe uma intervenção direta nos espaços urbanos, associando práticas artísticas, ambientais e sociais.
O Partido Poético
Criado em 2004, o Partido Poético surge como um movimento que questiona as fronteiras entre arte, ecologia, economia e política. A ideia é usar a arte como uma ferramenta de transformação concreta dos territórios e das mentalidades. Eles promovem ações que deslocam o olhar sobre a cidade, tornando-a um espaço de sensibilidade, escuta, cultivo e cuidado.
O coletivo desenvolve projetos que cruzam:
•Agricultura urbana.
•Práticas artísticas e performances.
•Produção de alimentos como gesto cultural.
•Educação ambiental.
•Reflexão sobre os modelos econômicos e sociais.
•Banco de Mel (La Banque du Miel)
Criado nos anos 2000, o Banco de Mel é uma intervenção poética e política que consiste em instalar colmeias em espaços urbanos (prédios, praças, telhados) e coletar méis urbanos. A partir da análise dos pólens presentes nos méis, o projeto revela a biodiversidade da cidade e denuncia a fragilidade dos ecossistemas.
O mel se torna:
Um marcador da saúde ambiental dos territórios.
Uma moeda simbólica e poética, que circula como bem comum e não como mercadoria.
Na Zona Sensível, Olivier Darné nos lembra que cultivar é, antes de tudo, um ato de resistência e de imaginação. Seu trabalho rompe fronteiras entre arte, agricultura e política, mostrando que é possível transformar territórios e relações a partir de gestos simples, como cuidar da terra, das abelhas e das pessoas.
Mais do que produzir alimentos, ele semeia perguntas, reconstrói vínculos e convida a repensar nossos modos de viver.
Afinal, como seria o mundo se colocássemos a sensibilidade, a coletividade e o cuidado no centro das nossas práticas cotidianas?
https://www.enlargeyourparis.fr/
https://www.fondationcartier.com/en/voix-de-la-vallee/olivier-darne-et-fabienne-serina-karsky
https://www.parti-poetique.org/
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