SABORES QUE ATRAVESSAM O ATLÂNTICO: OSTRAS DO BENIM E NO RECÔNCAVO
Você sabia que o Benim tem suas próprias ostras?
Elas são encontradas em Ganvié, a famosa cidade lacustre construída sobre palafitas no lago Nokoué, cercada por manguezais.
O prato típico da região é uma explosão de sabores locais: ostras frescas com akassa (massa de milho fermentada) e molho apimentado. Uma iguaria que traduz o encontro entre terra, água e tradição.
Curiosamente, uma conexão rica e simbólica pode ser traçada entre o cultivo de ostras em Ganvié e nas comunidades pesqueiras do Recôncavo da Bahia, como a Baía do Iguape. Ambos os territórios, marcados pela presença africana e pela diáspora, compartilham práticas ancestrais, formas de vida ligadas ao mangue e modos semelhantes de preparo e valorização desse alimento.
Em Ganvié e no Recôncavo, as mulheres são as principais guardiãs do saber relacionado à coleta, beneficiamento e preparo das ostras. Elas conhecem o tempo das marés, os ciclos do mangue e os rituais de cuidado que esse alimento exige. O manguezal, nesses dois mundos, não é apenas um ecossistema: é escola de saberes, território de trabalho e espaço espiritual.
A ligação entre esses territórios vai além do aspecto ecológico. No Recôncavo, sobretudo em comunidades quilombolas, o alimento vindo do mangue — como ostras, mariscos e peixes — está profundamente ligado às práticas religiosas afro-brasileiras, muitas delas enraizadas nos voduns e orixás originários do Golfo do Benim. Em Ganvié, essa conexão também está viva: os rituais voduns mantêm uma relação sagrada com as águas e seus alimentos.
Comparar os modos de preparo reforça a ponte atlântica entre culturas irmãs. No Benim, o consumo das Ostras com Akassa e molho apimentado reflete os sabores vibrantes do Golfo da Guiné.
Na Bahia, o preparo com farinha, dendê ou vinagrete traduz a mesma ancestralidade, reinterpretada pelo tempo e pela travessia.
Para quem deseja vivenciar essa reconexão com o continente africano, o projeto Retour en Afrique, fundado por Haïlé Zinsou, oferece uma proposta transformadora. Através de viagens imersivas ao Benim, o programa busca reconectar pessoas da diáspora com suas raízes culturais e espirituais. Durante 12 dias, os participantes conhecem vilarejos, vivenciam rituais, dialogam com curandeiros, artesãos e mestres da cultura local — tudo guiado por uma escuta respeitosa e profunda.
Haïlé, originário da Martinica, também mantém o perfil @haile_retour_en_afrique e a bijuteria @sagbo_beauroi, de onde compartilha histórias que celebram a África viva, cotidiana e sagrada.
Essa ponte entre as ostras do Recôncavo e as de Ganvié nos lembra que a comida é mais do que nutrição: é memória, território e resistência.


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