CULTURAS ALIMENTARES NEGLIGENCIADAS E SUBUTILIZADAS MELHORAM A SEGURANÇA ALIMENTAR E A SAÚDE NUTRICIONAL

É o que afirma um novo estudo, que destaca a necessidade de diversificar os sistemas alimentares, reduzindo a dependência de um número limitado de culturas e promovendo o uso de espécies negligenciadas e subutilizadas (NUS) para melhorar a segurança alimentar e nutricional, especialmente em países de baixa e média renda. 

🌿 Culturas Subutilizadas em Foco

O artigo analisa quatro culturas específicas: 

Nigéria:

Noz africana (Tetracarpidium conophorum): Rica em proteínas e gorduras saudáveis, utilizada tradicionalmente na alimentação e na medicina.

Fruta-pão africana (Treculia africana): Fonte significativa de carboidratos e fibras, com potencial para diversificar a dieta. 

Uganda:

Gergelim (Sesamum indicum L.): Semente oleaginosa rica em minerais como cálcio e ferro, com aplicações na culinária e na indústria.

Feijão-guandu (Cajanus cajan L.): Leguminosa resistente à seca, rica em proteínas e micronutrientes, adaptada a solos de baixa fertilidade. 

Essas culturas possuem alto valor nutricional e adaptabilidade a condições climáticas adversas, tornando-as estratégicas para fortalecer a segurança alimentar e nutricional. 

🚧 Desafios e Oportunidades

Apesar do potencial, diversos fatores dificultam a comercialização e utilização dessas culturas na África Subsaariana, incluindo barreiras políticas, socioculturais e infraestruturais. Além disso, há uma escassez de estudos aprofundados sobre muitas dessas espécies locais. 

IMPACTOS NO BRASIL E NO MUNDO

O artigo sugere que a promoção dessas culturas requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo pesquisadores, organizações não governamentais, formuladores de políticas e comunidades locais. É essencial desenvolver cadeias de valor adequadas, métodos de processamento viáveis e sistemas de comercialização eficientes para integrar essas culturas nos sistemas alimentares sustentáveis. 

O estudo, embora focado na Nigéria e em Uganda, traz reflexões e implicações diretas para o Brasil, especialmente em contextos rurais, quilombolas, indígenas e periféricos. Veja os principais impactos e conexões possíveis:

🌱 Impactos e Aplicações no Brasil

1. Valorização das Plantas Alimentícias Tradicionais (PAT)

Assim como na África, o Brasil possui uma imensa diversidade de espécies subutilizadas: taioba, ora-pro-nóbis, araruta, jatobá, pequi, entre muitas outras.

O estudo fortalece o argumento de que resgatar e promover essas espécies é estratégico para enfrentar insegurança alimentar, além de promover soberania alimentar.

2. Segurança e Soberania Alimentar em Territórios Vulneráveis

Quilombos, aldeias, assentamentos e periferias urbanas brasileiras vivem situações muito parecidas às analisadas na África.

O fortalecimento das cadeias produtivas dessas culturas pode gerar trabalho, renda e melhorar a nutrição dessas comunidades.

3. Resiliência Climática

Assim como na Nigéria e em Uganda, muitas plantas tradicionais brasileiras são altamente adaptadas a solos pobres, seca ou excesso de chuva.

Isso é estratégico no enfrentamento às mudanças climáticas, garantindo produção de alimentos onde culturas convencionais não prosperam.

4. Descolonização da Alimentação

O estudo traz um chamado para romper com modelos alimentares impostos pela lógica do agronegócio e da monocultura, que também acontece no Brasil.

Valorizar saberes locais, culinárias ancestrais e alimentos não hegemônicos é uma forma de resistência cultural e de reconstrução de identidades.

5. Pesquisa, Extensão e Políticas Públicas

A partir desse estudo, o Brasil pode fortalecer programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), priorizando a compra de alimentos da sociobiodiversidade.

Estimula também universidades, institutos de pesquisa e organizações da sociedade civil a produzirem mais conhecimento sobre as PAT, seus usos culinários e seus benefícios nutricionais.

6. Economia Regenerativa e Desenvolvimento Local

Assim como no contexto africano, o Brasil pode estruturar cadeias de valor sustentáveis com foco nas plantas tradicionais, promovendo geração de renda aliada à conservação ambiental.

Isso se conecta diretamente com movimentos de agroecologia, permacultura e fortalecimento de mercados locais.

Reflexão Final

O estudo é, na prática, um espelho potente para os desafios e as oportunidades que o Brasil vive. Ele reafirma que o caminho para enfrentar a fome, as desigualdades e as mudanças climáticas passa necessariamente pela valorização dos saberes tradicionais, das plantas locais e das economias comunitárias.

A revisão conclui que as culturas alimentares negligenciadas e subutilizadas oferecem uma oportunidade valiosa para diversificar os sistemas alimentares, melhorar a qualidade das dietas e fortalecer a resiliência das comunidades frente às mudanças climáticas e crises alimentares. A valorização dessas culturas pode contribuir significativamente para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente o ODS 2 (Fome Zero). 


https://www.frontiersin.org/journals/sustainable-food-systems/articles/10.3389/fsufs.2023.1126020/full


Inscreva-se na pagina @sossegodaflora.blogspot.com e receba nossa newsletter 

@elcocineroloko

📣 Conheça nossas páginas:

Facebook: @elcocineroloko

Instagram: @charoth10



Comentários

Postagens mais visitadas