CONHEÇA AS 10 PIMENTAS MAIS UTILIZADAS NA COZINHA BAIANA
Ardida, sensual, perigosa, curativa. A pimenta ocupa muitos lugares na nossa memória coletiva. Está na boca da comadre que espalha segredos, no feitiço do amor que esquenta a alma, na promessa de cura para o corpo e o espírito.
Na Bahia, a pimenta é mais que um tempero: é símbolo de identidade, expressão cultural e presença marcante à mesa. O gosto pelo que é “quente” está profundamente enraizado nos modos de comer e de representar o “bem comer” baiano. As pimentas e molhos apimentados formam uma base ancestral que remonta às tradições indígenas e africanas, fortalecidas no convívio colonial e popular.
Originárias das Américas, as pimentas do gênero Capsicum se espalharam pelo mundo nas Grandes Navegações e se tornaram indispensáveis na culinária baiana.
“(...) digamos logo da que chamam de cuihem, que são tamanhas como cerejas, (...) queimam muito, e o gentio come-a inteira, misturada com a farinha.
(...) Há uma outra pimenta, a que pela língua dos negros se chama cuiemuçu; esta é grande e comprida, e depois de madura faz-se vermelha; e usam dela como da de cima (...)”.
(Tratado Descritivo do Brasil em 1587, Hedra, 2010, p. 177-178)
As pimentas variam em cor, sabor e ardência — as vermelhas, geralmente mais fortes, são preferidas para pratos intensos. Além do sabor, elas são ricas em vitaminas e minerais essenciais. Conheça abaixo as 10 pimentas mais utilizadas na cozinha baiana e seus principais usos:
1. Pimenta Malagueta
Com ardência de moderada a forte, é pouco aromática. Seus frutos alongados são usados verdes ou vermelhos, em:
Conservas
Molhos
Acarajé
Feijoadas
Pratos com peixes e carnes
2. Pimenta Arriba Saia
Originária da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco, recebe nomes como Umbigo de Tainha.
Muito ardida, inspirou o apelido “Arriba Saia”, pois as moças abanavam a boca com a saia para aliviar o calor. É ótima em:
Ensopados
Caldos
Molhos crus
3. Pimenta Dedo-de-Moça
De picância média e aroma suave, é versátil e comum em:
Conservas
Molhos
Carnes
Massas
Versão seca como pimenta calabresa
4. Pimenta-de-Cheiro (ou Pimenta-de-Bode)
Com aroma marcante e pungência variável, vai do amarelo ao preto, com diferentes formatos. Usada em:
Saladas
Peixes
Ensopados
Farofas
5. Pimenta Biquinho
Suave e adocicada, embora da mesma família da pimenta-de-cheiro. Muito usada em:
Conservas (vinagrete ou com cachaça)
Acompanhamento de carnes
Pratos leves e aperitivos
6. Pimenta-do-Reino
Uma das mais conhecidas do mundo, tem ardência leve e sabor marcante. Utilizada em três formas:
Verde (fresca)
Preta (seca ao sol)
Branca (sem casca)
Ideal para:
Peixes
Carnes (vermelha, frango, suína)
Massas e molhos
7. Pimenta Doce (ou Americana)
Verde, alongada e brilhante, com sabor suave e adocicado. Substitui bem o pimentão em:
Molhos
Refogados
Carnes leves
8. Pimenta-da-Jamaica
Mais aromática que picante, com notas de noz-moscada e cravo. Encontrada em pó ou em grãos. Usada em:
Conservas
Carnes exóticas
Frutos do mar
Doces e pastinhas
9. Pimenta Cumari
Pequena, ovalada e de pungência alta, é colhida ainda verde. Muito valorizada em:
Conservas artesanais
Molhos intensos
A cumari é tão aromática quanto ardida, e suas plantações atraem pássaros pela doçura do fruto.
10. Pimenta Cuihem e Cuiemuçu (menções históricas)
Descritas por Gabriel Soares de Souza no século XVI, são registros importantes das pimentas ancestrais da Bahia. Utilizadas com peixes, legumes e farinha, elas demonstram como os saberes indígenas e africanos influenciaram os modos coloniais de temperar e conservar.
As pimentas da Bahia não só temperam o prato, mas também contam histórias. São herança viva dos encontros e permanências que formam o sabor baiano: forte, quente e cheio de memória.



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