DOCE BAHIA: ESTADO É POTENCIA NACIONAL NA FRUTICULTURA 🥭 🍊 🍌

Frutas mais cultivadas são banana, manga e laranja, mas há espaço até para as amazônicas

Por Letícia Belém


A Bahia produz tantas variedades de frutas em abundância, em mais de 85% do seu território, e em volumes crescentes a cada ano, que poderia ser conhecida como ‘Terra das Frutas’. Pense em uma delas e se surpreenda em saber há produção local. São 664 mil hectares plantados de frutas e 28 milhões de hectares ocupados com frutas nativas, sem intervenção humana. Com pomares distribuídos por 357 municípios, a Bahia se consolida como o segundo maior estado produtor de frutas frescas do País, atrás apenas de São Paulo.

Esse número diz repeito à totalidade da produção das variedades existentes, das lavouras permanentes e temporárias, unindo os grandes, médios e pequenos fruticultores, além dos agricultores familiares. São mais de 5 milhões de toneladas de frutas cultivadas no estado por ano, o que faz com que a Bahia, sozinha, responda por mais de 10% da produção brasileira. Os dados são do Censo Agropecuário 2017 e da Pesquisa Agrícola Municipal 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri); da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI); e da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

Com toda a rica diversidade frutícola, a Bahia se destaca por liderar o cultivo de guaraná, manga e maracujá no Brasil, sendo responsável, respectivamente, por 63%,17, 42,93% e 32,65% da produção nacional. O estado é também o segundo maior produtor do País de mamão, limão, cacau, abacate, abacaxi e coco; e o terceiro maior de açaí, banana, melão e goiaba. Ocupa ainda o quarto lugar no cultivo de laranja, uva, melancia e marmelo.

Há outras frutas que também são produzidas na Bahia e que totalizam 348 toneladas, com volume de produção abaixo de uma tonelada e ainda as protegidas pelo sigilo estatístico. São elas: cajá, mangaba, seriguela, tamarindo, umbu, morango, amora preta, framboesa, ameixa, cereja, jambo, lichia, kiwi, pomelo (laranja da polpa vermelha), maçã, pera, nêspera, pêssego, damasco, macadâmia e tâmara. Ou seja, a Bahia tem uma diversidade de produção de 54 tipos de frutas e suas variedades, para todos os gostos e sabores. A título de curiosidade e para se ter uma ideia das pesagens, um carro grande SUV pesa duas toneladas e um ônibus lotado com 70 passageiros, 20.

De acordo com a Seagri, os dez maiores produtores de frutas do estado, que foram convidados a expor os seus portfólios junto ao governo da Bahia na Fruit Attraction São Paulo – a maior feira de frutas da América Latina –, em abril deste ano, são as empresas

Schmidt Agrícola (banana e cacau); Itaueira Agropecuária (melões); Grand Valle Agrícola Importadora e Exportadora (uvas e mangas); Song River Fruits (mamões papaya e formosa); Mix Fruits (duas variedades de uvas e duas de manga); Frutecon (banana prata, banana nanica e mamão formosa); Unicafés (todas as frutas e os processados); Kuará Frutas (uvas brancas, pretas e vermelhas); além das vinícolas Vaz e Miolo, cujos cultivos de uvas de mesa se destinam exclusivamente à produção industrial de vinhos e espumantes.

Schmidt Agrícola

Uma das maiores empresas do agronegócio baiano, a Schmidt Agrícola incorporou a cultura da banana em 2017 e a do cacau em 2021. A bananicultura foi ampliada e hoje ocupa uma área cultivada de 260 hectares, distribuídos em fazendas nos municípios de Barreiras, Riachão das Neves e Bom Jesus da Lapa, com produção anual de 13 mil toneladas de frutas, que dão o ano todo.

Já o plantio do cacau no semiárido é um projeto bem-sucedido da Schmidt, implantado em 250 hectares em Riachão das Neves, Barreiras e Cocos, com volume atual de produção de 260 arrobas de fruto produzido por hectare, o que soma 975 toneladas por ano. A previsão é ampliar a área total da cacauicultura para 400 hectares, o que possibilitará aumento da produção para 1,6 milhões de toneladas por ano, em parceria com a Cargill na pesquisa de produção agrícola.

O sócio da empresa, David Schmidt, conta que, somando os produtores vizinhos e amigos, existem hoje mil hectares de cacau plantados no Oeste da Bahia, mas há um déficit enorme na produção no País, que colapsou sem se atentar à modernização da cultura. “Era preciso se ter mais de 80 mil hectares de cultivo do cacau, entre implantação e renovação, para se atender à demanda interna do mercado nacional e passarmos a sermos autossuficientes na cacaicultura”, apontou. Hoje o Brasil importa cacau da África e exporta para o mundo os produtos derivados.

Com a carência na produção no mundo inteiro, a Schmidt decidiu implantar este ano o maior viveiro de mudas de cacau para a comercialização de dois milhões de unidades por ano. Além disso, vem realizando eventos nacionais para discutir o desenvolvimento de tecnologias e inovações para este novo momento de modernização da cacauicultura no Cerrado baiano, além de compartilhar conhecimento e propiciar novas oportunidades de negócios em uma época em que o fruto está altamente valorizado no mercado devido à escassez.

Para David Schmidt, a Bahia é uma terra privilegiada que tem grande potencial para a fruticultura, principalmente nas áreas áridas, o que é um diferencial competitivo. Segundo ele, além da baixa infestação de doenças, ao se fazer a gestão hídrica com a irrigação para resolver o problema da seca, essas regiões produzem frutos o ano inteiro e com maior qualidade, tendo o sol sempre brilhando.

Ele avalia que o setor poderia melhorar se o governo do Estado implantasse uma Ceasa no Oeste baiano para ajudar na logística, principalmente para as frutas, que são perecíveis, para que elas cheguem até a mesa do consumidor. Há também demanda de fornecimento de energia elétrica regular, sem tantas falhas, já que o setor depende fundamentalmente disso para a irrigação e para manter o armazenamento das frutas nas câmaras frias.

Além desses dois pontos críticos, Schmidt acrescentou que não existe nenhum programa de fomento do governo tanto para a implantação da irrigação quanto de crédito para atender a fruticultura. “O cacau é um produto de alto valor agregado. Pequenos produtores também podem atuar, reunidos em cooperativas para comercialização para os mercados. O plantio de cacau em um hectare já rentabiliza uma receita de R$ 6 mil por mês”, analisa. Atualmente, todo o cacau da Schmidt é enviado às fábricas de Ilhéus para a produção industrial de chocolate e derivados, como cachaça de cacau e nibs.



Itaueira Agropecuária

A Itaueira Agropecuária (Rei Alimentos) produz melões de qualidade superior em Ribeira do Amparo desde 1983, nas variedades amarelo, verde (Pele de Sapo), Gália (casca com textura radiculada em amarelo clarinho) e Cantaloupe (da polpa laranja e casca rendilhada), com um volume total de 44 mil toneladas de frutas em 1.400 hectares de área cultivada. A produção é comercializada em todo o mercado nacional. O amarelo é o mais produzido dentre as quatro variedades, em torno de 80%. As sementes utilizadas são exclusivas da empresa e selecionadas após testes de sabor e de resistência a pragas. Possui viveiros próprios telados para a produção de sementes e mudas e são utilizados drones para acompanhar a evolução de cada lote plantado com visualização aérea ampla para identificar qualquer necessidade de ajuste e correção.

De acordo com o diretor-presidente da Itaueira, Tom Prado, são utilizados micro-organismos para a melhora da biota do solo, para torná-lo mais saudável a cada safra, aprimorando a produtividade, além de sistema de irrigação automatizado e tecnologias de ponta de plantio e colheita. Nos primeiros dias no campo, as mudas são cobertas por um lençol de tecido especial, que as protege contra pragas enquanto ainda estão frágeis, evitando a necessidade do uso de defensivos químicos.

Os frutos são acompanhados de perto durante todo o seu desenvolvimento e a colheita. São escolhidos apenas os que estão no grau máximo de maturação natural. A Itaueira só comercializa frutos que chegaram ao ponto certo no pé e estão prontos para serem consumidos, pois a fruta não amadurece depois de colhida.

Todas são lavadas com água quente, selecionadas, secadas e embaladas individualmente, para serem, então, acondicionadas em caixas de papelão e imediatamente colocadas em câmaras de resfriamento rápido, ficando armazenadas nesses equipamentos ou nas carretas de transporte, para garantir frescor e qualidade.

Cada melão pode ser identificado por meio de um sistema de rastreabilidade com leitura de QR Code, o que permite a todos os elos envolvidos na cadeia de compra, venda e consumo das frutas saber quando a semente foi plantada, que tipo e qual frequência e intensidade recebeu de adubagem, a data da colheita, quando chegou ao depósito do supermercado, como foi processada e o tempo que levou até chegar à mesa do consumidor.

O diretor-presidente da Itaueira, Tom Prado, acredita que o mercado das frutas brasileiras no exterior continuará a se expandir, o que também puxará o crescimento da fruticultura baiana.

Agrofruta

Daniel Briso, um dos sócios da Argofruta, é um dos maiores produtores de limão taiti da Bahia, cultivando em uma fazenda de 240 hectares, em Iaçu, mais de 10 mil toneladas por ano para exportação. Ele também produz 10 mil toneladas de manga em Sento Sé. Daniel Briso acredita que a fruticultura tem muitas oportunidades de crescimento no estado para o cultivo de outras variedades, como o abacate.

“Não se tem lugar melhor que a Bahia para a fruticultura, devido à riqueza dos solos e às condições climáticas, mas é preciso investimento em infraestrutura para resolver os grandes desafios logísticos que enfrentamos. A estrada de Sento Sé a Petrolina é muito esburacada, e as frutas sofrem com isso, além dos problemas de falta de energia elétrica em várias áreas”, criticou.

Song River Fruits

A fazenda Song River Fruits produz dez mil toneladas de mamão papaya e formosa em 27,6 mil hectares em Carfanaum, sendo uma das maiores produtoras da fruta no País. Atende as grandes regiões metropolitanas do Brasil – Campinas, Ribeirão Preto, São Paulo, Uberlândia e Brasília -, e exporta 30% da produção para Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal e Itália. Também produz café em 200 hectares no município de Luís Eduardo Magalhães, e iniciou o plantio de laranja em 60 hectares para colheita futura.

Para o empresário e grande produtor da Song River, Todd Topp, apesar de a Bahia ter biomas diferentes para cultivar vários tipos de frutas com excelente qualidade, falta muito conhecimento sobre uso de tecnologia e como garantir qualidade para a exportação. Para ele, há lugares no estado em que o cenário é melhor, mas há outros onde a carência de informação e formação é grande. “A Bahia precisa de mais investimentos em um plano fitossanitário efetivo, praticado dentro do estado inteiro. Nós precisamos da Adab [Agência de Defesa Agropecuária da Bahia] mais ativa na fruticultura do estado”, analisou.

Frutecon

A Fruticultura Ecológica do Nordeste (Frutecon) é especializada na produção e distribuição de frutas tropicais desde 1992, com áreas na Chapada Diamantina e no Vale do São Francisco, operando toda a cadeia de banana e mamão até chegar ao ponto de venda. A empresa é pioneira da produção de banana irrigada (prata e nanica) no Semiárido baiano, nos municípios de Wagner e Utinga. É responsável pelo cultivo, produção, colheita, processamento, armazenagem, logística e entrega, além de distribuir seis frutas de produtores parceiros.

Segundo a diretoria, o grande diferencial da Frutecon são os constantes investimentos em consultorias, pesquisas, estrutura e treinamento de mão de obra, processo que consolidou técnicas de última geração.

Isso inclui o plantio de mudas isentas de doenças, desenvolvidas em laboratórios e viveiros com todas as garantias fitossanitárias; a seleção das mudas e plantas ao longo do tempo de produção, propiciando a formação de uma genética única em sabor, valor nutricional, padronização e durabilidade; a utilização de sistemas de irrigação adequados, automatizados e atualizados; um processo cuidadoso de colheita, pós-colheita, seleção, climatização, embalagem e transporte, garantindo a proteção da fruta a danos mecânicos e pragas.

Unicafés

A União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafés) abrange 83 cooperativas, associações comunitárias, sindicatos rurais, empreendimentos econômicos solidários e agricultores familiares do Sertão e do Semiárido, em 18 macrorregiões da Bahia, representando o setor dos pequenos produtores e agricultores familiares. O objetivo é ampliar a comercialização da produção das cooperativas baianas em todo o território nacional, acessando os mercados tradicionais, institucionais e solidários.

Só em relação à bananicultura, um seleto grupo de produtores se uniu para assegurar escala e padrão de qualidade para atender aos mercados mais exigentes do Brasil. Juntos, eles somam mais de 200 hectares de plantio de banana.

Todas os fruticultores associados contam com a qualificação do processo produtivo da agricultura familiar, a agroindustrialização e a comercialização, feitos pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), que certifica os produtos para garantir acesso aos mercados e eleva a qualidade dos sistemas produtivos tantos das frutas, quanto das polpas, doces, geleias, sucos e demais processados de 37 variedades cultivadas no estado, frescas e desidratadas. A Unicafés não informou o volume total da produção.

Uva se destaca no Vale do São Francisco

Dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) mostram que a região de Juazeiro, no Vale do São Francisco, tornou-se um grande polo da fruticultura irrigada, sendo a cultura da uva um exemplo do sucesso da inovação tecnológica na região, que também é grande produtora de manga. Destacam-se também na fruticultura baiana as regiões de Barreiras e Bom Jesus da Lapa.

Criada em 1988, a Grand Valle Agrícola Importadora e Exportadora, localizada em Casa Nova, é uma das empresas pioneiras na produção de uva e manga irrigadas no Vale do São Francisco, durante todo o ano, devido às condições extremamente favoráveis de clima, abastecimento de água, correta utilização do solo e controle de geração zero de resíduos químicos.

Segundo a diretora executiva Lara Secchi, a companhia produz 24 milhões de toneladas de mangas em uma área cultivada de 600 hectares, e 10 milhões de toneladas de uvas em 120 hectares. As frutas são comercializadas no mercado interno, em todas as regiões do Brasil, e exportadas para mais de 40 países, nos continentes europeu, asiático, norte-americano, além dos Emirados Árabes e dos integrantes do Mercosul.


Lara conta que, mesmo estando distante do litoral, a empresa consegue escoar bem a produção tanto pela via área quanto marítima, podendo atender ao mundo todo. Ela ressalta o impacto social que a fruticultura tem no desenvolvimento econômico de toda a região, porque é uma atividade que demanda mão de obra do plantio à colheita. “Quem colhe as uvas e as mangas são pessoas, que não serão substituídas por máquinas”, ressaltou Lara, que emprega 1.200 trabalhadores da região.


Outro grande player do setor é a Kuará Comercial e Exportadora de Frutas, que além de produzir em Juazeiro 11 variedades de uvas brancas, pretas e vermelhas, também comercializa no estado e exporta 14 variedades de uvas doces com características únicas, quatro de manga e uma de mirtilo produzidos em nove grandes fazendas tanto da Bahia quanto de Pernambuco, além de avocado, limão siciliano e dois tipos de melão.


Fabricação de vinhos


A Vinícola Vaz, em Morro do Chapéu produz 30 mil quilos de uvas por ano em cinco hectares de área, exclusivamente para o cultivo industrial de 20 mil litros de uva, ou 25 mil garrafas de vinho. Já a Miolo Terra Nova, localizada em Casa Nova, produz três milhões de litros de vinho por ano em 150 hectares de plantio de uvas.


O secretário estadual da Agricultura, Wallison Tum, que também é produtor e exportador de uvas e mangas em Casa Nova, avalia o peso da fruticultura baiana para todo o agronegócio nacional. “O mercado exportador de frutas, que está em constante crescimento, alcançou um recorde de faturamento em 2023, atingindo US$ 1,2 bilhões (cerca de R$ 120 bilhões), sendo a Bahia responsável por 20% do valor exportado (R$ 24 bilhões)”, afirmou.


Fonte: A Tarde Agro



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