COMO É A ALIMENTAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DA BAHIA? Veja papo com líder da aldeia

A comunidade indígena Txag'rú Mirawê é chefiada por Janauí Makiame Kahtãgá, que contou os rituais de alimentação do povo Pataxó em entrevista exclusiva para Band.com.br

Por Júlia Cabral 
Falar de Brasil é falar dos povos originários. No Sul da Bahia, a Txag'rú Mirawê é uma das comunidades indígenas que resistem em solo brasileiro — são mais de 300 povos espalhados pelo país — e abrem as portas para que turistas e nativos respirem a cultura Pataxó.
Quem nos guia pela comunidade na beira da estrada próxima à Praia da Coroa Vermelha, em Santa Cruz de Cabrália, é Makiame Kahtãgá, o próprio líder da aldeia — estes são os títulos usados pelos povos desta comunidade. É ali que, entre os fortes batuques de tambores tãpo e o suave som do rio, o Pataxó revela como é a alimentação da Txag'rú Mirawê.

Como em muitos estados brasileiros, o ritual de alimentação começa pelo café preto. "Levantamos, tomamos banho e comemos frutas. Às vezes, um pedaço de bolo de puba", diz Makiame, que não dispensa um bom coado e chás (de pitanga, laranja, capim-santo ou erva cidreira, de preferência).

"Nossa alimentação mudou muito com a urbanização. Antigamente, era mais nutritiva, apenas à base de raizes como a batata e o aipim, tanto que no passado nós vivíamos muito mais. Quando um Pataxó morria aos 80 anos, diziamos que ele se foi jovem"

A facilidade trazida pelo mercado veio acompanhada de uma nova preocupação: os aditivos alimentares. Arroz e feijão, dupla de alimentos consumidos diariamente por grande parte dos brasileiros, são servidos com moderação pelos Pataxós pelo excesso de química nos grãos, por exemplo.
Os peixes são a grande aposta dos indígenas da Txag'rú Mirawê, que tem o costume de incluir a farinha de mandioca e a farinha de puba em praticamente todas as refeições. Makiame garante que "com um gole de água, ela estufa na barriga e qualquer um se sente nutrido pelo dia inteiro".
Outra curiosidade é que a alimentação dos Pataxós nao leva muito tempero — praticamente nenhum, aliás, apenas sal. "No máximo umas folhinhas de hortelã. Aprendi isso com a minha avó para que a gente sinta o verdadeiro sabor da comida, que é leve e nutritiva", conta o líder da aldeia.

"Aqui, todo alimento é sagrado, fruto da terra ou da caça. O animal é honrado até mesmo na hora da morte porque é abatido de forma rápida. O nosso povo [Pataxó] não gosta de armadilhas para evitar o sofrimento dos bichos. A caça faz parte da nossa história"



A jornalista viajou para o Festival Temperos de Cabrália a convite da Secretaria de Turismo de Santa Cruz Cabrália, que teve apoio da SEBRAE, Porto Azul Receptivo e Azul Viagens.

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