Jornalista especializado em gastronomia Rafael Tonon acaba de lançar um livro sobre as transformações da alimentação e da culinária nos últimos 50 anos.

Rafael Tonon nasceu em Campinas (SP), em 1982. Jornalista especializado em gastronomia, é correspondente do Eater e colabora para veículos como Vice e Fine Dining Lovers.


Ao longo do seu percurso, Rafael Tonon dedicou-se a estudar a parte mais científica da culinária, pesquisando tendências, entrevistando especialistas, contextualizando modas e refletindo sobre o comportamento humano à mesa. Ainda assim, admite que o ramo que escolha continua a ser visto como algo secundário. “As pessoas pensam que o jornalismo gastronómico é uma coisa menor, supérflua, considera que o grande profissional é aquele que cobre como anteriores, uma guerra ou a cimeira da ONU.

Tornamo-nos tão obcecados por comida a ponto de querer saber de onde ela procede, o que comprar, de que forma preparar, como comer. Fomos acometidos pelo foodismo, um tipo de enfermidade aguda, uma obsessão aditiva que passou a necessitar até de termos tradicionalmente ligados ao universo dos medicamentos para dar conta de descrevê-lo.

Das primeiras cadeias de fast-food drive-in à indústria de restaurantes finos, das garagens tecnológicas do Vale do Silício aos campos orgânicos do Vale do Hudson, o autor descortina a recente revolução alimentar e seus movimentos, apresentando os personagens centrais dessas mudanças.

Por meio de dezenas de entrevistas e visitas a restaurantes, fábricas e fazendas, Rafael Tonon narra essas mudanças em uma reportagem envolvente e esclarecedora que combina as aventuras de Anthony Bourdain com as habilidades de Malcolm Gladwell para contar histórias de pessoas que estão mudando — neste momento — a forma como nos relacionamos com nossa alimentação.

O jornalista brasileiro vive no Porto em Portugal.

"Em Portugal, ao contrário do Brasil, há uma paixão pela receita da bisavó que continua a ser replicada de forma genuína."

Oconceito de cozinha portuguesa no mundo é muito diferente do que ela realmente representa. “Toda a gente pensa que a comida portuguesa é simples, reduzida e limitada, muito focada no bacalhau e no pastel de natal. Há um longo caminho a fazer na comunicação disso mesmo. Antes da pandemia, penso que a imagem internacional do país estava a crescer, mas levou um balde de água fria. 

Todos acham que é uma cozinha simples, mas na realidade não é. ”No Porto, surpreendeu-se com a quantidade de comida servida nos restaurantes, ingredientes como crianças, tripas ou fígados e uma diversidade muito enraizada na tradição. “Mesmo nos grandes restaurantes, há uma referência à comida mais tradicional, como a francesinha no The Yeatman ou as bifanas no Euskalduna.Existe uma intenção de olhar para o que é mais cultural e popular e dar-lhe um valor de alta cozinha, é muito interessante. 


O especialista antecipa que os hábitos de consumo à mesa podem mudar, deixando de fazer sentido como mesas comunitárias ou a partilha de pratos, por exemplo. “Durante uma pandemia, como as pessoas perceberam que podiam comer muito bem em casa, penso que agora valorizam muito mais a ida a um restaurante e dão mais importância a um bom serviço. No futuro, vão escolher melhor o sítio, vão escolher por experiências que não reproduzir em casa. ” O poder económico também deve sofrer mudanças e para isso, defender o jornalista, os resultados devem ser adaptados. “Ter um menu de 250 euros pode ser um disparate nesta fase.”

Depois de 2017 foi co-autor de um livro sobre os restaurantes mais antigos de S. Paulo, Rafael Tonon aventura-se agora numa obra a solo. “As Revolução da Comida - o impacto das nossas escolhas à mesa” é uma verdadeira viagem pelas transformações no universo da alimentação e da culinária nas últimas cinco décadas, onde a intenção é ajudar a entender o mundo a partir daquilo que consumimos. “Este é um livro para quem gosta de comer e do assunto comida, não é um livro para chefs ou especialistas em gastronomia” , absoluto o autor.

O novo livro de Rafael Tonon está à venda online e, a partir de junho, na Livraria da Travessa, em Lisboa.









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