Época de pesca da Tainha A gastronomia de qualidade e cultura açoriana marcam presença no Sul do Brasil.

Está liberada a pesca artesanal da tainha em Florianópolis, desde as primeiras horas deste sábado (1º). 

Na Praia dos Ingleses, local que pegou mais tainhas no ano passado na Capital, a movimentação ainda é tranquila. Muitos pescadores aproveitam para limpar os ranchos de pesca, organizar os materiais e posicionar as embarcações na faixa de areia. A safra da tainha vai, oficialmente, de 1º de maio ao dia 31 de julho.


Influências Açorianas na pesca da Tainha


A pesca da tainha em Florianópolis começa tradicionalmente em maio, quando é possível comer o peixe fresco. A tainha frita é servida em postas e pode vir acompanhada do pirão, arroz branco, salada e fritas. Não deixe de experimentar também a ova frita da tainha.

Os açorianos que imigraram para à faixa litorânea do Sul do Brasil, entre 1748 e 
1756, tiveram que passar por muitos processos adaptativos na alimentação e culinária. 

Frente as dificuldades e adversidades encontradas, na sua nova terra, foram por eles 
contornadas através de muita imaginação, criação e adaptação. 
E neste processo adaptativo, os açorianos em Santa Catarina passaram a pescar e a consumir mais peixes do que nos Açores, pois o peixe em Santa Catarina era abundante e era muito difícil a criação de gado. 
Com isso, desenvolveram a pesca artesanal, utilizaram vários instrumentos de pesca dos 
indígenas e inventaram o engenho de farinha de mandioca. 
Segundo Farias (1998:361), o trigo, alimento básico nos Açores, foi no litoral 
catarinense inteiramente substituído pela farinha de mandioca, que era desconhecida no arquipélago, e que veio a se tornar num acompanhamento indispensável nas refeições, seja como pirão ou como farofa. 
Os colonos açorianos, em Santa Catarina, passaram por uma transformação 
significativa da sua actividade produtiva. Para isso, o açoriano se equivaleu da tecnologia 
que ele trazia consigo das Ilhas (arquipélago) onde a adaptou a um novo ambiente. 
Como o objectivo de nossa pesquisa é estudar a alimentação e culinária na cultura 
dos descendentes de açorianos numa localidade em Florianópolis – em Santo Antônio de Lisboa.

Os açorianos na história da Ilha de Santa Catarina.

Costuma-se atribuir muito a vinda dos 
açorianos para Santa Catarina como fruto da miséria, falta de terra e dos abalos sísmicos. 
Mas segundo Avelino de Freitas Menezes (pesquisador que mais se dedica à história do 
arquipélago açoriano no século XVIII), e portanto o autor em que Ferreira se apoia, para falar sobre este assunto, coloca que Meneses é taxativo em afirmar que a miséria, falta de 
terra e abalos sísmicos sempre existiram no Arquipélago e que a década de 1740 não foi 
das piores para os ilhéus, sendo até um período de relativa expansão económica. Segundo o pesquisador Avelino de Freitas Meneze, a Coroa portuguesa dificilmente se sensibilizaria por causa da petição de 
habitantes pobres que pediam para migrar. Menezes afirma que a causa da colonização do Sul do Brasil foi de natureza militar atendendo aos interesses da Coroa de tomar posse 
definitivamente do Sul da América através do “Uti-possidetis” (quem ocupa é dono). 
Para o pesquisador, a vinda dos açorianos foi uma colonização, haja vista que vieram para 
ocupar território.

Organizou-se, então, uma emigração em massa de "casais” açorianos, e madeirenses em menor número, que se dirigiu para o Sul do Brasil. 

Houve migração também para o norte: Pará e Maranhão. Como resultado da Carta Régia 
de 31 de Agosto de 1746 e de um Alvará e Editais, publicados nas Ilhas dos Açores, que 
concediam transportes gratuito, ajuda de custo, ferramentas, armas, animais, isenção dos 
homens do serviço militar e terra para o cultivo, migraram, entre 1748 e 1756, 
aproximadamente 5 mil pessoas. Parte delas foi enviada para o Rio Grande do Sul, mas o 
grande contingente foi assentado no litoral catarinense, desde São Francisco até Laguna. 
Na Ilha de Santa Catarina foram distribuídos por vários locais: Trindade, Ribeirão, Lagoa, 
Ratones, Santo Antônio, Canasvieiras, Rio Tavares.
E no continente: São Miguel, Enseada 
de Brito, São José, Paulo Lopes, Garopaba, Vila Nova. Alguns destes lugares já existiam, 
outros foram fundados com a chegada dos açorianos. O Rei determinava instruções sobre 
os locais que deveriam ser escolhidos, como deveriam ser feitos os arruamentos, onde se 
localizaria a Igreja e muitas outras coisas (sublinhado nosso).
Os “casais” receberam como sesmaria uma porção de terra, mas pelos registros 
efectuados em Santa Catarina, não era a metragem prometida, nem era o solo próprio para o cultivo dos produtos tradicionais nos Açores e na Madeira. 
Nos Açores, o solo era de origem vulcânica, altamente fértil; na Ilha de Santa Catarina e no continente litorâneo, os terrenos eram de areia e mangue. Acostumados ao cultivo de trigo, por exemplo, tiveram que se adaptar ao plantio e consumo de mandioca. Mantiveram a tradição da pesca. 
A chegada coincidiu com a implementação e desenvolvimento das “armações de baleia”. 
Assim passaram a desempenhar aquela actividade em alto mar (Flores, 1998:135). 
A presença de tropas militares e o recrutamento militar passou a ser constante. Em 
1777 os castelhanos tomaram a Ilha. 
O terror dominou. Os civis embrenharam-se pelo mato, onde muitos pereceram extenuados de fadiga e fome (Idem).
Houve desigualdades na distribuição de terras: ao lado dos pequenos proprietários 
rurais, com áreas insuficientes para delas tirar o essencial à manutenção da própria família, 
estabeleceram-se alguns latifundiários. Alguns vieram com título de nobreza (Idem).
Para Flores (1998:135), as razões pelas quais se deu a ocupação do litoral 
catarinense por colonos açorianos era muito óbvia: a população do litoral catarinense de 
origem açoriana ocupou a região no século XVIII, na perspectiva da Coroa Portuguesa - 
para defender a terra nas questões com os espanhóis.
Leia mais:

ALIMENTAÇÃO E CULINÁRIA NA CULTURA DOS DESCENDENTES DE 

AÇORIANOS EM SANTO ANTÔNIO DE LISBOA – FLORIANÓPOLIS

(ILHA DE SANTA CATARINA – BRASIL)

ROSE MARIA MARTINS GOMES DE SOUSA

Comentários

Postagens mais visitadas