Com produtos do Pará, chef brasileira vira referência gastronômica em hotel de luxo de Portugal

Das raízes vieram os sabores, os cheiros, as lembranças da infância em Belém, onde nasceu a chef donfeiteira Cintia Koerper.

É um prazer trabalhar na Malhadinha Nova, nesta casa que é muito especial. Já são treze anos aqui e sou muita grata de poder trazer um pouquinho do sabor brasileiro para o Alentejo", diz Cintia, que herdou da mãe a paixão pela cozinha. Foi com ela que aprendeu as primeiras receitas.


Todas essas experiências e memórias embalam as suas criações que vêm conquistando admiradores de todas as partes do mundo, na Herdade da Malhadinha Nova, um refúgio de luxo com 450 hectares de natureza quase intacta, em Albernoa, no coração do Baixo Alentejo, uma das regiões com menor densidade populacional da Europa e um dos segredos mais bem guardados de Portugal.

“Eu busco sobretudo os sabores da minha infância e é fácil de trabalhar quando você tem uma referência da infância e quando se tem bons produtos como aqui. Unir as duas inspirações é o que adoro. É um privilégio trabalhar na Malhadinha pois nós temos praticamente tudo aqui na Herdade! Temos quase todas as frutas da estação. É maravilhoso poder colher o figo, por exemplo, e pensar com o que eu vou finalizar e harmonizar este figo tão doce e orgânico para uma sobremesa”, explica.

É essa harmonia de sabores que encanta a empresária portuguesa Rita Soares, uma das donas da Herdade da Malhadinha, um projeto familiar com mais de vinte anos e que, desde 2020, passou a fazer parte do grupo Relais & Châteaux, uma das mais prestigiosas associações de hotéis do mundo e, que para ser membro, duas coisas são fundamentais: hospitalidade excepcional e gastronomia de referência. É ao lado do marido e também chef, o alemão estrelado Joachim Koerper, e uma equipe experiente, que Cintia ajuda a cumprir essa missão de transformar a experiência dos que passam pela Herdade da Malhadinha Nova através das suas combinações originais, do cuidado aos detalhes e ao fazer arte em forma de comida.

Simbiose de sabores

“A Cintia e o Joachim fazem uma parceria harmoniosa e que é muito admirada aqui na Malhadinha. Eles se complementam e trazem muita riqueza gastronômica. A Cintia tem imensa liberdade para criar. Ela inspira-se na natureza completamente. Ontem serviu a sobremesa lindíssima do novo menu que é a margarida, que são as flores da Malhadinha à mesa. Impressiona ver como une um ou outro ingrediente que tem uma ligação de amor pela sua terra, produtos sempre escolhidos criteriosamente e que confere um sabor novo aos pratos. É muito importante pra nós essa simbiose e ficamos muito felizes que ela possa trazer um pouco da suas origens e da sua alma para a cozinha da Malhadinha!”, diz a empresária.         

Para Joachim Koeprer, chef consultor do hotel, que este ano completa cinquenta anos de carreira, ter a chef brasileira como parceira de vida e de cozinha, o inspira todos os dias e o faz conhecer novos sabores. “A Cintia é a minha maior crítica, me ajuda a evoluir. Aprendo com ela também e, constantemente, sou surpreendido com novos sabores do Brasil. Eu gosto de dizer que ao lado de um grande homem tem sempre uma grande mulher”, afirma o chef dono do Restaurante Eleven, em Lisboa, com uma estrela Michelin .

Cintia Koeper teve passagem por escolas de culinárias internacionais em Paris e Itália, mas voltar as raízes foi essencial para a chef que já mora em Portugal há quase quinze anos.“Fiz escola de cozinha Alain Ducasse, primeiramente no Rio de Janeiro e depois em Paris. Fui estudar cozinha italiana em Florença e também fui conhecer a cozinha paraense, da minha terra, pois não conhecia e não sabia fazer. Depois que conclui minha formação, voltei pra Belém para estagiar em um restaurante paraense”, comenta.

Origens e raízes se transformam

A influência da cozinha brasileira no universo gastronômico de Cintia Koerper é o orgulho da família que, muitas vezes, envia os ingredientes que a chef não encontra em Portugal.

“Muita referência eu vou buscar nas minhas origens. Não é em todo o menu que eu insiro um produto brasileiro porque muitas vezes o casamento não é harmonioso e tenho muita consciência disso. Só faço esta fusão quando percebo que vai funcionar e na, maioria das vezes, dá certo! Esta volta às raízes está no sangue, não tem como escapar e a família e os meus pais ficam muito orgulhosos e muitas vezes são eles que me enviam os produtos porque eu não posso ir ao Brasil. Com a globalização, alguns produtos nós já encontramos em Portugal mas quando eu quero um produto específico como, por exemplo, o cumaru, uma semente indígena do Pará, conhecida como a baunilha dos índios, muito usada na perfumaria, minha irmã é quem me envia. Quando eu quero um produto típico, como um chocolate produzido com as favas do cupuaçu, só encontro mesmo em Belém!”, explica.

Nessa cozinha de autor com uma assinatura inspirada no conceito “farm to table”, onde a maior parte do que chega à mesa vem do que é produzido na Herdade, Cintia aposta nas frutas locais. “Eu adoro trabalhar com frutas. Penso nas frutas da estação porque aqui as estações do ano são muito definidas. Então eu penso nas frutas consoante o que a terra dá naquele momento e acabo por fazer uma fusão com produtos brasileiros. Por exemplo, na altura do pêssego, e temos muito pêssegos, sempre frutado e doce,  eu acabo por juntar um cupuaçu que é uma fruta mais ácida: tem o doce do pêssego com a acidez do cupuaçu e complemento com um pouquinho de crocância da castanha do Pará”, explica.

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