O USO DAS FRUTAS PELOS INDIOS PATAXÓS - Já ouviu falar em Oiti?

Esta será uma das frutas beneficiadas no #Crukê Mayrahú - Comida da Mata.

Na Oficina, além de desenvolvermos novos produtos alimentícios baseados na produção local dessas mulheres, mostraremos à importância da cultura local, e do reconhecimento por parte das Assentadas da plantas nativas e sementes, faremos também trocas de saberes, ritualizando e celebrando a vida. 

O Oiti ou Goti (Moquilea ou Licania tomentosa Benth.), é um fruto de elevado potencial nutricional, porém, ainda pouco explorado e aproveitado.

Oiti" e "goiti" vêm do tupi uï'tï é uma espécie bastante valorizada pelos Pataxó, demora muitos anos para chegar a dar fruto e só se reproduz de 5 a 7 anos, como comenta um morador:

"O oiti é uma das árvores que a gente tem que reproduzir, hoje tá uma dificuldade papagaia aí fala, ah foi porque o índio capturou muito papagio, não é, as vezes muita manga dentro mata, acabou a comida do gavião, aí desequilibrou essa parte, muito gavião comendo papagaio.

Goti demora anos pra chegar a dar frutos, (50, 100), depois pra dar os frutos é de 5 em 5 anos."

Atualmente, constitui uma população de aproximadamente quinze mil indivíduos distribuídos em trinta e seis aldeias, sendo seis no estado de Minas Gerais, nos municípios de Carmésia (Sede, Retirinho e Imbiruçu); Arassuaí (Aldeia Jundiba); Açucena (Aldeia Jeru Tukumã); e Itapecerica (Aldeia Moãmimati); e trinta no estado da Bahia, concentradas na porção do extremo sul, nos municípios do Prado - Tawá, Cravero, Àguas Belas, Corumbauzinho, Cahy, Alegria Nova, Monte Dourado, Maturembá, Tibá e Pequi ; Itamaraju - Trevo do Parque; Porto Seguro - Juerana, Aldeia Velha, Imbiriba, Xandó, Bujigão, Barra Velha, Pará, Campo do Boi, Meio da Mata, Boca da Mata, Cassiana, Pé do Monte, Jitaí, Guaxuma e Aldeia Nova; e Santa Cruz Cabrália - Coroa Vermelha, Aroeira, Mata Medonha e Nova Coroa.

Há também famílias pataxós que vivem em áreas urbanas, principalmente nas cidades mais próximas às aldeias. Na minha aldeia não tinha problema nenhum, a vida era boa e comida tinha sempre. Não comida de branco, arroz, açúcar essas coisas...tinha comida de índio. Da mandioca fazia farinha e bolo de puba pra comer com moqueado de peixe, o riacho grande tinha muito peixe e a caça vinha também. Sempre que íamos buscar o peixe cantávamos pra tupã nos ajudar e nunca faltava nada. Hoje meus filhos trabalham para os outros e o que ganha nem dá pra comprar o feijão e a farinha. (Julice, 2005)"

Agricultura

Atualmente a agricultura é a atividade central dos Pataxó, de onde provém a base da alimentação e uma parte dos recursos advindos da venda de excedentes, principalmente a farinha de mandioca. 

É uma atividade dinâmica espaço-temporalmente e, por isso, buscaremos apresentar uma descrição generalizada da agricultura praticada abordando a agrobiodiversidade, as relações sociais envolvidas e os impactos ambientais.

A agrobiodiversidade cultivada pelos Pataxó de Comexatibá envolve inúmeras espécies e variedades vegetais, algumas constantemente e outras mais esporadicamente, algumas pela grande maioria das famílias e outras podem ser encontradas em uma ou duas famílias. 

Algumas espécies são domesticadas, outras semi-domesticadas e outras não domesticadas. 

A maioria das espécies é utilizada para a alimentação, porém também ocorre o cultivo de espécies medicinais, espécies para proteção e para fabricação de artesanato. 

A agricultura provoca uma grande transformação na paisagem e os novos espaços gerados para plantações e cultivos são denominados de Quintal, Horta, Sítio e Roça.

Nos quintais, que podem ou não abrigar uma horta, são plantadas flores ornamentais, plantas medicinais, plantas para proteção, plantas para tempero, verduras e frutíferas. 

Já nos sítios são encontradas principalmente frutíferas para a alimentação. 

Nos casos em que é plantada uma única espécie no sítio, este lugar passa a ser denominado pela espécie escolhida como: coqueiral e dendezal.

O coco é muito apreciado tanto para consumo quanto para a venda e, neste caso, é plantado em grande quantidade. Assim como os dendezeiros, os coqueiros são plantas utilizadas como marco de lugares. 

Alguns dos que estão presentes no território (inclusive em áreas de fazendeiros e dentro do Parque) são designados pelo nome do antigo dono, ou seja, a pessoa responsável pelo plantio. 

Os dendezeiros são de grande importância econômica e ecológica, na manutenção da fauna, pois são ricas fontes para alimentação e para obtenção do óleo (e posteriormente do sabão), possuindo uso doméstico e de comercialização. 

*A relação dos Pataxó com negros remontam a séculos. Segundo Caetano da Silva (2008) é interessante notar que Cumuruxatiba, uma antiga aldeia indígena, a depender do enquadramento do olhar pode assumir feições de área de remanescentes de quilombos, pois foi possível encontrar entre os Pataxó descendentes de escravos fugidos do porto de Caravelas. O autor nota que isto “não é um fenômeno atípico”, pois, em Alcobaça existe uma comunidade auto-denominada afro-indígena, objeto inclusive de dissertação de mestrado.

As roças abrigam espécies de ciclo rápido e anuais como mandioca/aipim, milho e feijão, e são lugares dinâmicos. Além das famílias que moram na vila de Cumuruxatiba ou nas cidades

próximas, e trocam farinha por peixe, algumas famílias da aldeia Tawá também não possuem roça, em razão de não haver área suficiente para o plantio, que também envolve a necessidade de, de tempos em tempos, “deixar a terra descansar”.

Algumas famílias da aldeia Pequi, recentemente retomaram a área de uma fazenda limítrofe ao PND, tendo em vista a necessidade de dispor de mais áreas para roças e a opção por não desmatar áreas inseridas nos limites do Parque.

Produção de farinha para subsistência aldeia Pequi.

Enquanto os quintais e, principalmente as hortas, são espaços femininos, cabendo à mulher a escolha das espécies, os locais, as épocas e as técnicas de plantio, as roças podem ser espaços de atuação de homens e mulheres. Ao homem é incumbida a tarefa de “abrir” o espaço (limpar o mato, destocar, utilizar a enxada) e, à mulher (ainda que homens também possam participar dessa etapa), escolher as variedades e espécies que serão plantadas bem como os locais.

Quem cuida das plantações é a família. Para abertura da roça e durante o plantio é comum chamar os parentes ou amigos para ajudar, em esquema de “mutirão”, prática muito comum antigamente como relata um morador:

"Antes pra botar roça era só falar, faziam 4, 5 tarefas, ai quando era dia de derrubar minha avó matava um capado, gordo, grande, pra trabalhar aí ia derrubar, um cortava mais do que o outro. Quando faz roça hoje é só a família, antes, fazia mutirão, hoje não faz mais, quando colhe é da família (entrevista com Zezinho, em abril de 2012)."

As sementes para plantação podem ser obtidas de diversas formas. 

As partes de mandiocas (mandibas) colhidas em uma roça são guardadas para replante na roça seguinte, assim como as mudas de cana e abacaxi.

Quando o/a agricultor/a não possui muda para replante ele pede para algum parente ou amigo. 

Muitas variedades de mandioca e outras plantas são obtidas nas aldeias da região de Monte Pascoal, como podemos verificar comparando os nomes das variedades de mandioca e aipim em Comexatibá e Barra Velha (Cardoso e Parra, 2009).

O feijão pode ser comprado na cidade ou cedido pela Funai. Alguns moradores possuem sementes consideradas raras de feijão e de arroz que eram plantadas antigamente. Para o plantio do feijão é necessário adubo, exceto no caso do feijão de corda. 

O adubo pode ser comprado ou cedido pela Funai. Ultimamente, como observado por Cardoso e Parra (2008) durante a análise do sistema de agricultura em Barra Velha, com a diminuição de áreas disponíveis com condições fundamentais para uma produção que mantenha o sistema tradicional de corte, queima e pousio, os solos estão ficando extremamente desgastados.

A maior parte da colheita é consumida ou utilizada pela família, podendo também ocorrer trocas e vendas do excedente. 

Há casos em que são plantadas espécies específicas para venda, além da farinha proveniente da mandioca, espécies como o maracujá, a pimenta-do-reino, a melancia, abacaxi, banana, batata doce, inhame, abóbora e milho, que são comercializados em Cumuruxatiba e Itamarajú.

A torra da farinha é uma atividade que pode mobilizar outras pessoas além da família e constitui um momento de sociabilidade entre os Pataxó, como pudemos presenciar em diversas famílias.

O feitio da farinha é constituído de diversas etapas. Primeiramente a mandioca arrancada é transportada para a casa de farinha e raspada com o auxílio de uma faca. 

A mandioca pode passar por um processo de desintoxicação, sendo deixada de molho na água para “pubar”.

Depois a mandioca é ralada num ralador a motor, e posteriormente é prensada numa prensa de madeira. 

Após esse processo, a massa é peneirada numa peneira de juçara ou de urúba e torrada no forno, com lenha de biriba para depois ser ensacada. 

A farinha é produzida, na maior parte, para o consumo nas aldeias, podendo ocasionalmente ser comercializada em Cumuruxatiba e arredores.

Foi verificado que hoje os Pataxó têm acesso a poucas áreas passíveis de uma adequada prática agrícola, sendo boa parte do atual território ocupado por fazendas ou pelo PND. 

A maior parte dos solos disponíveis são arenosos ou já estão muito cansados devido ao uso intensivo.

Coleta e extrativismo vegetal

A coleta e o extrativismo vegetal envolvem saberes e a vivências do morador no local.

Para se coletar ou extrair uma espécie é preciso conhecer o lugar onde encontrá-la, a época do ano, a técnica necessária e sua utilidade.

Todas as paisagens abrigam espécies que os Pataxó sabem descrever a utilidade, suas características biológicas, seu habitat e as formas de coleta e extração.

No território Comexatibá as áreas de matas abrigam uma grande diversidade de espécies utilizadas na construção, na alimentação, no artesanato e nos cuidados à saúde. 

A coleta de madeira ocorre para construção de casas.

Porém embora reconheçam o local exato da presença de inúmeras espécies vegetais, a coleta é bem seletiva devido à relativa escassez de algumas espécies, à restrição do acesso por tratar-se de Parque e à própria conscientização de muitos moradores.

As matas podem ser visitadas para coleta de frutos e sementes para artesanato.

Para isso o morador precisa saber a época de frutificação. Por exemplo, a semente do tento (falso Pau Brasil) é coletada nos meses de fevereiro e em março.

No Córrego do Bastião Telhado é o lugar mais fácil de encontrar, é uma árvore rara porque, segundo os Pataxó, a Bralanda tirava muita madeira para fazer móvel.

Nas matas encontram-se carrapato, paraju, pati, juçara a qual se coleta o açaí e o palmito e a envira.

O oiti é uma das árvores que a gente tem que reproduzir, hoje tá uma dificuldade

papagaia aí fala, ah foi porque o índio capturou muito papagio, não é, as vezes muita manga dentro mata, acabou a comida do gavião, aí desequilibrou essa parte, muito gavião comendo papagaio.

Goti demora anos pra chegar a dar frutos, (50, 100), depois pra dar os frutos é de 5 em 5 anos. (entrevista com S. Gentil em abril de 2012).

Nas mussunungas da praia, localizadas em frente à praia, na porção Nordeste da Terra Indígena, são coletados a aricuri, o pariri com a bolinha preta, o coco xandó e a salsa da praia que usam para fazer colar. 

Os campos nativos são visitados para coleta de carqueja. 

O brejo abriga o Guanandi, que fica duro por causa de suas raízes. 

É utilizado para construção de casas e leme de barco. No apicum coleta-se gravata e a cortiça – feito uma pinha amarelinha “o homem come e o caranguejo come”.

O mucugê é uma árvore da qual se coleta o leite para remédio. 

Ocorre na mussununga preta na mata. Numa entrevista realizada durante uma visita ao local onde ocorre mucugê, um morador nos relatou as técnicas e usos dessa espécie:

"Aqui onde tem Mucugê a terra é mais úmida e mais fresca, aqui é uma baixada, e ele gosta de terra aguada, não gosta de terra seca. Aqui cava três palmos acaba dando na água. O Mucugê é mais na mussununga preta. Só deu aqui nessa terra Alegria Nova e Boca da Mata. 

A lua tá minguante, aí não fica bom, o Mucugê fica grosso. Conforme a lua vai descendo o leite que poca. Ele enche muito na lua cheia e poca e desce o leite. 

Na lua nova o leite sobe para os galhos. Antigamente o pessoal tirava o leite do Mucugê pra fazer borracha, e tomar como remédio A borracha antes era de Mangaba e Mucugê.

No parque tinha muito Mucugê, aqueles copinhos que tinham pra seringa era igual.

O leite do Mucugê serve para vários tipos de coisas, quando bebe muito parece que bebe cachaça, ele é forte. 

Na garrafinha não dura muito, tem que ser no mesmo dia, se não ele azeda, é que nem leite de gado mesmo. Ele talha todinho. Agora depois que ele talhar fica o leite eo grosso é uma borracha, se beber e tiver fraco ele dá tontura, serve como um remédio. Ele dá força pra quem está fraco, é vitamina pra criança."

Em outros cantos se trata como, Bicuíba, você vai lá esta com inflamação tira uma casca dela, e toma.Esse tipo de arvore nós não vamos eliminar.

Então a gente protege varias plantações da própria mata que é remédio. 

Hoje a gente trabalha em cima disso, utiliza os remédios medicinais da própria mata. 

Tem a Bicuíba, tem o Mucugê, o Pau d'Arco, a Sapucaia, várias arvores dentro da mata, o próprio Jacarandá. (entrevista com S. Gentil em abril de 2012).

Diversas outras espécies são coletadas com finalidades medicinais, folhas, cascas de árvores, frutos dependendo da espécie e da utilidade, “Tudo quanto é mato dá remédio, é só saber”.

“Remédio de farmácia já esta lavado, levou a vitamina. E o do mato não, tá apurado.  É o mesmo que uma galinha”. “A gente usa muito remédio do mato”.

A maioria das espécies coletadas pelos Pataxó de Comexatibá (TABELA 3) serve para o autoconsumo, mas algumas espécies são comercializadas como é o caso da aroeira.

È coletada anualmente (principalmente nos últimos 3 anos), em áreas de mussununga alta (localizadas na porção Leste do PND até a praia), de restinga (encontrada em toda a faixa costeira, a leste e nordeste da TI) e nas capoeiras e ultimamente também é plantada com intenção de aumentar as vendas pertencendo aos cuidados da família que a planta. 

A safra concentra-se nos meses de abril e maio e gera uma grande mobilização nas comunidades envolvendo todos os membros da família. 

As crianças e adolescentes (algumas vezes com os adultos) vão para a mata coletar a semente.

Durante o fim de tarde (ou no caso de alguma pessoa ter ficado responsável pela tarefa) ocorre a separação da semente do galho que aí sim é vendida (de R$ 2,50 a 3,00) para o atravessador que vai às casas da comunidade de moto buscar a semente para revenda ou vendem em outras localidades e municípios como Caravelas. 

A aroeira serve para várias doenças como gastrite, inflamação no baço e tempero.


Fonte: Relatorio Funai Terra Indígena Comexatibá (Cahy/Pequi)

Município de Prado (BA)

Reconhecendo e respeitando os povos tradicionais dessa terra, nessa oficina, no Assentamento Santa Maria, em Maraú, estaremos atualizando a nossa culinária ancestral.


Com as mulheres do Grupo Juçara e o cozinheiro baiano Alício Charoth @charoth10 , 3 dias de programação, na cozinha agroecológica da @essenciaagrofloresta



Vem pra roça se deliciar com a gente 🍃


Dias 22, 23 e 24 de julho

Em Maraú - Bahia

Inscrições abertas pelo WhatsApp (93)992413769  ou link na bio da @kombiraiz

Serviço:

*O valor sugerido é de R$400 por pessoa*, inclui alimentação (café da manhã, almoço e jantar) e estadia no próprio espaço Essência da Terra, em lindas acomodações bioconstruidas: quartos coletivo com camas individuais com conforto; banheiro seco e duchas direto da nascente. 

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