Nova investigação liga redes de supermercados e fast food da Europa a violações de Direitos Humanos de povos indígenas no Brasil

Nos anos 1950, um grupo de indígenas Guarani-Kaiowá que vivia na comunidade de Takuara, no Mato Grosso do Sul, foi expulso à força da terra em que vivia há séculos para abrir caminho para o desenvolvimento agrícola.



Hoje, Takuara é conhecida como Brasília do Sul, uma fazenda de 9.700 hectares que se tornou sinônimo de abusos aos direitos indígenas no Brasil.

De acordo com uma nova investigação, Brasília do Sul é hoje uma grande produtora de soja e fornecedora do grão para grandes cooperativas e redes, entre elas a Lar Cooperativa Agroindustrial, uma das maiores produtoras de carne de frango do Brasil.

Nova investigação liga redes de supermercados e fast food da Europa a violações de Direitos Humanos de povos indígenas no Brasil.

  • Nova investigação estabeleceu uma ligação entre as redes de supermercados, fast food e marcas de comida para pets da Europa com a fazenda Brasília do Sul, de 9.700 hectares, que se tornou sinônimo de abusos aos direitos indígenas no Mato Grosso do Sul.

  • Brasília do Sul abrigava um grupo de indígenas Guarani-Kaiowá, que foi expulso à força nos anos 1950 para abrir caminho ao desenvolvimento agrícola.

  • De acordo com o relatório, a gigante do fast food KFC e os supermercados Sainsbury’s, Asda, Aldi e Iceland, no Reino Unido, bem como a ração para animais vendidas na Alemanha pelas redes Lidl, Aldi, Netto, Edeka e outras grandes varejistas, são fabricadas com o frango alimentado pela soja produzida pela Brasília do Sul.

  • Delara Burkhardt, relatora-sombra do Grupo de Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, disse que as descobertas da reportagem mostram por que a UE precisa de regras contra o desmatamento “importado” e pediu que o consentimento livre, prévio e informado para o uso e conversão das terras faça parte da futura norma anti-desmatamento da UE.

Uma investigação de maio de organizações não-governamentais (ONG) revela que o fornecimento de aves à Europa está associado a produções de soja no Brasil que levaram à expulsão de populações nativas da região brasileira do Mato Grosso do Sul.

As ONGs Earthsight e a De Olho nos Ruralistas, que monitoriza a atividade da indústria agrícola no Brasil, associam grandes supermercados no Reino Unido, cadeias britânicas da KFC e marcas de rações para animais na Alemanha à repressão de grupos indígenas no Brasil e à sua expulsão de terras ancestrais.

A investigação aponta que, em 1966, um magnata brasileiro montou um agronegócio numa parcela de quase 10 mil hectares no Mato Grosso do Sul, no Brasil, terra ocupada pelo povo indígena Guarani Kaiowá. Hoje é um dos grandes fornecedores de soja que alimenta as aves de um dos maiores produtores do Brasil, a Lar Cooperativa Agroindustrial.

Os dados mostram que a britânica Westbridge Foods importou da Lar, entre 2018 e 2021, mais de 370 mil toneladas de frango congelado e marinado, o que equivale a perto de um terço das aves que a empresa brasileira envia para a União Europeia e para o Reino Unido.

A investigação aponta que a empresa britânica Westbridge Foods, que no seu site diz que a sua base de clientes “inclui os maiores retalhistas e produtores de alimentos na Europa”, fornece frango congelado e marinado a supermercados e cadeias de ‘fast food’ no Reino Unido.

Entre eles, conta a investigação, estão marcas como a KFC e o Aldi, cujas cadeias de abastecimento estão alegadamente associadas a violações os Direitos Humanos cometidas contra o povo indígena Guarani Kaiowá nessa região do Brasil, onde as populações são obrigadas a abandonar as suas terras ancestrais para dar lugar a produções agroindustriais.

Já na Alemanha, as ONGs salientam que a Paulsen Foods é também um dos maiores compradores de frango da Lar, alimentados pelas plantações de soja que obrigaram o povo Guarani Kaiowá a abandonar as suas terras, e que importou dessa mesma fonte cerca de 14 mil toneladas de frangos e derivados entre 2017 e 2021. A Paulsen Foods fornece, por sua vez, produtos de aves para “rações para animais a alguns dos maiores retalhistas da Alemanha”, as ONGs salientam que a Paulsen Foods é também um dos maiores compradores de frango da Lar, alimentados pelas plantações de soja que obrigaram o povo Guarani Kaiowá a abandonar as suas terras, e que importou dessa mesma fonte cerca de 14 mil toneladas de frangos e derivados entre 2017 e 2021. A Paulsen Foods fornece, por sua vez, produtos de aves para “rações para animais a alguns dos maiores retalhistas da Alemanha”, entre eles o Lidl e o Aldi.

O relatório das ONG aponta que, em 2010, o Supremo Tribunal do Brasil impediu que esse terreno em Mato Grosso do Sul fosse devolvido à população nativa, que ao longo das últimas duas décadas tem tentado reaver a terra que lhe foi tirada.

A investigação denuncia a violência que essa população tem sofrido às mãos do agronegócio, apontando que em 2003, o líder da comunidade Guarani Kaiowá foi espancado até à morte por trabalhadores armados de Brasília do Sul no acampamento que o grupo indígena tinha estabelecido nessa área para interromper as atividades industriais.

Rubens Carvalho, da Earthsight, diz, citado pela ‘Euronews’, que no dia em que o chefe indígena foi morto, “muitos membros da comunidade foram torturados e agredidos” e destaca ocasiões de intimidação armada desse grupo, incluindo com a participação de autoridades policiais brasileiras. Três pessoas terão sido condenadas pelo ataque, mas ninguém foi sentenciado pela morte do líder.

O representante da Earthsight lamenta que “neste momento, temos um governo no Brasil que é ativamente hostil aos direitos indígenas e que tem feito de tudo para bloquear o acesso às terras indígenas”.

“O povo Guarani Kaiowá está há mais de 20 anos à espera para regressar à sua terra ancestral”, sustém Rubens Carvalho, e acrescenta que “infelizmente, parece irrealista que isso venha a acontecer em breve, especialmente sob o atual governo”.

Numa publicação no Twitter, a Earthsight apelou a que o Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia atuem para combater as violações dos direitos dos povos indígenas no Brasil alimentados pelos mercados europeus e “para garantir que a proposta da UE para regular produtos livres de desflorestação protege adequadamente as comunidades indígenas e defende os seus direitos às terras”.

Fonte Mongabay

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