E passam os anos, a brisa morna, que arrepia, e põe os pelos arriba, a gota fria, que cae do lado direito das têmporas ainda me passa, sopro frio, humido, quase um reflexo; mesmo que, com o passo dos anos, sordidamente aprendamos a falsear, no seu mais íntimo, a sensação segue ali, como se fosse, um marcador de intensidades, sabe algo assim febril, que se possa graduar.

Na mansidão, o tempo transforma, e junto com ele, a percepções sobre as coisas, sobre o que fazemos aqui, que significados tem as coisas e as pessoas, um cinismo vulgar...

Para ter temperança, há que haver tempero, roçar pele, fretar com coragem e paixão, direi mesmo que em alguns momentos, só vale a pena, se for no fio frio e afiado da gilete, do facão.

Tardei muito em perceber, em compreender meu ofício, e o que esperar dele, como se ele, fosse um fim em si mesmo, como se cozinhar fosse um ente abstrato, que se pode modelar tecnicamente, com frieza de amolador de faca.

E o engano, ou talvez o édipo cego que tratamos de embalar, de acalentar, tementes ao inevitável, bisbilhota, e te apresenta o espelho, e tudo afrouxa, desliza, escapa das mãos.

Addagio, fugatta, bemol...

Despir, despossuír, des...estruturar... tirar da pedra tudo que não plantei, posto que, carregamos como um fardo o que amamos, mas amar é perder, é despir-se, deixar voar cada membrana, sem medo, sem pecado, culpa cristã.

Ontem de manhã, fui a cozinha, como sempre faço, arrumei a mesa, preparei meu café, e pensei por um momento, sou adito, ao maldito desejo, do desejo de emoção.

Inspiração 

https://youtu.be/W3OORtKss8U

El cocinero loko 02.07.2020

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