Quem tem medo de Claudia Andujar?

Conhecida por ser a primeira fotógrafa a registrar o povo Yanomami, Claudia nunca fez um curso de fotografia – aprendeu sozinha essa arte.

Claudia Andujar, de 93 anos, é chamada de mãe por muitos índios Yanomami, etnia que ela conheceu por causa da fotografia em 1971, quando trabalhava na revista Realidade. Daí ela vem se dedicando a lutar pela preservação da cultura desse povo.

Em 1978 foi expulsa da reserva, que fica entre os estados do Amazonas e Roraima, pelo governo militar. “O governo brasileiro era militar e ficou muito desconfiado do que eu estava fazendo aqui e me expulsaram, mas porque eu era uma testemunha do massacre”

Claudia, então, começou a lutar pela demarcação da terra dos Yanomami. Foi uma das fundadoras da organização não governamental Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY).

“Lutei por isso, mas não foi fácil, pois eram anos extremamente difíceis, mas eles entenderam o que eu estava fazendo. Em 1992 a Terra Indígena Yanomami foi demarcada.”

Atualmente, o povo Yanomami está ameaçado pela invasão do território por garimpeiros de ouro e madeireiros. Sobre o momento político em que o país é presidido por um governo de direita, Claudia diz.

Em 1944, com a perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, fugiu com a mãe para a Suíça, e depois emigrou para os Estados Unidos, onde foi morar com um tio. Em Nova York, desenvolveu interesse pela pintura e trabalhou como guia na Organização das Nações Unidas.

Em 1955, veio ao Brasil para reencontrar a mãe, e decidiu estabelecer-se no país, onde deu início à carreira de fotógrafa.

Sem falar português, Claudia transformou a fotografia em instrumento de trabalho e de contato com o país.

“Em 1944 a Transilvânia [hoje Romênia] foi ocupada pelos alemães. O plano era fazer campos de concentração e retirar todos de suas casas e levá-los para esses campos. Foi o que aconteceu com muitas pessoas e meu pai foi um deles” disse.

Nos Estados Unidos, Claudia e a mãe foram morar em Nova Iorque, onde viveu dos 14 aos 17 anos. “O primeiro trabalho que consegui lá foi de vendedora em um supermercado. Depois fui trabalhar em uma empresa e estudava à noite na faculdade de ciências humanas. Foi lá que conheci Júlio Andujar, com quem casei. Ele era refugiado da Guerra Civil Espanhola”, disse.

Passou alguns meses casada com Júlio. Ele foi enviado para a Guerra da Coréia (1950-1953) e ela não quis ficar casada e lembrar tudo o que tinha passado com seu pai. Depois da separação, mesmo sem concluir a faculdade de ciências humanas, Claudia foi morar com a mãe em São Paulo.

“Minha mãe veio para o Brasil a convite de um namorado dela que escapou da Segunda Guerra. Ele era húngaro, pediu refúgio ao Brasil e convidou minha mãe. Assim cheguei aqui em 1955 a convite dela. Primeiro vim a passeio, só que gostei tanto do povo brasileiro que quis ficar. Trabalhei muito tempo como professora de francês e inglês”, afirma a fotógrafa.

Ao longo das décadas seguintes, percorreu o Brasil e colaborou com revistas nacionais e internacionais, como LifeApertureLookCláudiaQuatro Rodas e Setenta. A partir de 1966, começou a trabalhar como freelancer para a revista Realidade. Recebeu bolsa da Fundação Guggenheim (1971 e 1977) e participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior, com destaque para a 27ª Bienal de São Paulo e para a exposição Yanomami, na Fundação Cartier de Arte Contemporânea (Paris, 2002). Em 2015, a exposição No lugar do outro (IMS Rio) apresentou a primeira parte da carreira da fotógrafa. A segunda parte da carreira, dedicada aos Yanomami, foi apresentada na retrospectiva Claudia Andujar: A luta Yanomami.


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