Botânicos mudarão nomes racistas de centenas de plantas; entenda a decisão

Durante congresso na Espanha, grupo de pesquisadores criou comitê para acompanhar nomenclaturas de espécies de plantas, fungos e algas a partir de 2026

Pela primeira vez, pesquisadores votaram para eliminar nomes científicos de organismos por serem considerados ofensivos. A votação ocorreu na última quinta-feira (18) durante o Congresso Botânico Internacional em Madrid, na Espanha
Como resultado, um grupo de botânicos decidiu que mais de 200 espécies de plantas, fungos e algas não devem mais conter a palavra "caffra", um termo racista que se refere a pessoas pretas, principalmente na África do Sul. Em árabe, a palavra significa "descrente" e, originalmente, era usada para falar de não muçulmanos, até que foi redirecionada para escravos pretos africanos.
A votação foi proposta por Gideon Smith e Estrela Figueiredo, taxonomistas de plantas na Universidade Nelson Mandela (NMU) no Porto Elizabeth, na África do Sul. A medida foi aceita com 351 em uma decisão de votos a favor e 205 contra.
"Tivemos fé em todo o processo e o grande apoio global dos nossos colegas, mesmo que o resultado da votação tenha sido apertado", disse Gideon Smith à revista Nature.
Smith e Figueiredo estipulam que todas as espécies cujos nomes são baseados em "caffra", tenham o termo substituído por derivados de "afr", de forma a reconhecer a África. A partir de 2026, a árvore coral da costa, por exemplo, deixará de ser chamada Erythrina caffra e terá o nome modificado para Erythrina affra.
A decisão traz suas complicações: apesar de acreditar que a retirada do termo racista tenha sido boa no geral, a botânica Aline Freire-Fierro, da Universidade Técnica de Cotopaxi, no Equador, teme que a decisão abra a porta para outras mudanças parecidas. "Isso pode potencialmente causar muita confusão e problemas para profissionais de vários campos além da botânica."
Pensando nessa questão, cientistas da Seção de Nomenclatura do Congresso Botânico criaram um comitê de ética para os nomes de novas plantas, fungos e algas descobertas. 
O nome de uma espécie, geralmente determinado pelo pesquisador que a descobriu e a descreveu na literatura científica, agora pode ser rejeitado pelo comitê, caso este o considere ofensivo para um grupo de pessoas. A regra será aplicada para espécies descritas pela primeira vez a partir de 2026.

Por Redação Galileu

 

Comentários

Postagens mais visitadas