Mario de Andrade: Comedor de Amendoim



Mastigado na gostosura quente de amendoim...

Falado numa língua curumim

De palavras incertas num remeleixo melado melancólico...

Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...

Molham meus beiços que dão beijos alastrados

E depois remurmuram sem malícia as rezas bem nascidas...

Brasil amado não porque seja minha pátria,

Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...

Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,

O gosto dos meus descansos,

O balanço das minhas cantigas amores e danças.

Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,

Porque é o meu sentimento pachorrento,

Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.

Mário de Andrade O poeta come amendoim


Nesta única estrofe percebe-se como se integram, na lírica de Mário de Andrade, os vários temas ligados à identidade nacional: o profano que convive com o sagrado (E depois – do carnaval – semitoam sem malícia as rezas bem nascidas), o jeito de amar ‘derramado’ do brasileiro (dou beijos alastrados), o mix étnico e a herança lingüística da escravidão (molham meus beiços; triturados pelos meus dentes bons), o temperamento alegre-triste (remeleixo melado melancólico).

Tebi'u Eté significa Alimento Sagrado em língua Guarani.

Entre os guarani, o trato da terra ainda se faz, como no passado, praticamente durante o ano todo, tendo destaque as várias fases da cultura que desembocam na colheita ritual do primeiro milho.

O amendoim (do tupi mandu'wi, ou Maní «enterrado») é a semente comestível da planta, Arachis Hypogaea, da família Fabaceae. Embora confundido com noz, o amendoim é um membro da família da ervilha Fabaceae e a noz não é uma fruta, mas um legume ou vagem.

Considerado um afrodisiaco por ser rico em Ômega 3, vitaminas do complexo B, vitamina e zinco. E é o zinco que auxilia no aumento da produção de hormônios sexuais, que ajudam a aumentar o fluxo sanguíneo para os órgãos genitais e isto contribui para o aumento da libido.

Amendoim é um alimento fonte de argilina, um aminoácido que estimula o óxido nítrico, capaz de promover maior circulação sanguínea na região do pênis ou do clitóris"

Alguns especialistas acreditam que a leguminosa foi descoberta no Brasil ou tenha surgido na região do Gran Chaco, localizada entre o Paraguai, norte da Argentina e Peru. Porém, há documentos de 3.800 a.C. a 2.900 a.C., que afirmam que a semente surgiu ao leste dos Andes, onde era muito utilizada pelos indígenas.

A origem do amendoim é incerta. Segundo alguns historiadores, é oriundo da América do Sul (Argentina, Bolivia, Brasil, Peru ou Leste dos Andes) e muito utilizado pelos indígenas. Provas são os trabalhos – potes e vasos de barro – encontrados em formato de amendoim. Nos túmulos dos Incas foram encontrados potes com amendoins com o propósito de o morto poder alimentar-se na passagem para outra vida.

Outros estudiosos acreditam que quando os portugueses aqui chegaram ele já era cultivado pelos nossos indígenas. Tinha o nome de Mani, que significa enterrado em tupi guarani.

Trecho de A culinária caipira da Paulistânia

A história dos grupos indígenas brasileiros é uma história de massacre e aniquilação. Como bem diz modernamente o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, o resultado desse longo percurso foi transformar os índios em pobres. Centenas de povos desapareceram por completo ao longo dos séculos, e os que sobreviveram perderam boa parte de sua língua e cultura, tendo se convertido nesses pobres.

Ao se associar progresso e ordem em nossa história - e em nossa bandeira -, estabelece-se também uma maneira como o progresso deve se dar. Para a República, tratava-se de uma nova ordem, de um novo deslocamento para a frente, visando afastar-se do Império, que ficara no passado. E pode-se imaginar que boa parte da desordem militar que se seguiu à proclamação da República adviesse mesmo da falta de uma compreensão unívoca sobre o sentido de progresso.


http://www.editora3estrelas.folha.uol.com.br/primeiraleitura/126107-a-cozinha-dos-guaranis-de-onde-partiu-a-culinaria-caipira.shtml

@elcocineroloko

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