Sabores da floresta: da Amazônia para o mundo

Como um programa de aceleração transformou um pequeno restaurante familiar em uma empresa que exporta ingredientes amazônicos até para o Japão.



Manioca é uma empresa focada no desenvolvimento e comercialização de produtos tradicionais da Amazônia — Foto: Getty Images

Em 1972, o chef Paulo Martins fundou, ao lado de sua mãe, dona Anna Maria, um pequeno restaurante em Belém, no Pará. Especializado na culinária local, o Lá em Casa em pouco tempo se transformou em referência no uso de ingredientes tradicionais da Amazônia, algo totalmente exótico naquela época. O trabalho de Martins, porém, não se limitava à cozinha. Apaixonado pelos sabores únicos da região, passou a atuar também como embaixador da culinária amazônica em todo o mundo.

Idealizador do festival Ver-O-Peso da Cozinha Paraense, ele recebia anualmente grandes nomes da gastronomia, a quem apresentava além de novas receitas, toda a riqueza da biodiversidade da floresta. Com o tempo, se tornou fornecedor desses chefs, levando os ingredientes amazônicos para além dos limites da floresta, ainda que de forma informal e pouco estruturada.

A virada de chave veio apenas em 2014, quando Joanna Martins, filha de Paulo, percebeu que a distribuição desses ingredientes poderia se tornar um negócio independente do restaurante da família, atendendo não apenas os chefs parceiros, mas também o consumidor final, estivesse ele no Brasil ou no exterior.

Joanna, então, fundou a Manioca, uma empresa focada no desenvolvimento e comercialização de produtos tradicionais da Amazônia, como farinha d'água, tapioca, tucupi e feijão manteiguinha, em lojas físicas ou pela internet, possibilitando assim o acesso dos consumidores a iguarias antes disponíveis apenas em restaurantes especializados.

"Queríamos que o Brasil conhecesse os sabores da Amazônia de uma forma mais prática e saudável", explica Joanna. "A empresa já nasceu com o objetivo de desenvolver produtos para o consumidor final, para que ele pudesse usar tudo isso em casa, de forma simples, tornando a sua alimentação mais brasileira, mais conectada com a Amazônia."

A jornada da Manioca, porém, não foi nada fácil. Joanna conta ter descoberto rapidamente que o novo negócio não tinha nada a ver com o antigo modelo de distribuição estruturado pelo seu pai. Na nova empreitada, seria preciso desenvolver produtos naturais e não perecíveis, criar embalagens tão funcionais quanto atraentes, aprimorar a logística, investir em marketing. Seria preciso ajuda para colocar o seu plano em pé.

Tucupi express

É neste momento que entra em cena a Amaz, um misto de fundo de investimento e aceleradora especializada na identificação e estruturação de negócios de impacto na Amazônia. "É preciso investir no fortalecimento e na capacitação dos empreendedores para uma jornada de crescimento. Criamos um programa de aceleração para preparar esses negócios para que eles pudessem captar investimentos maiores lá na frente", afirma Mariano Cenamo, CEO da Amaz.

No caso da Manioca, já foram três rodadas de investimentos, que permitiram à empresa ampliar o portfólio para 25 itens - outros quatro devem chegar ao mercado ainda em 2021 - e criar produtos inovadores, como uma versão do tucupi que dispensa refrigeração, desenvolvido com ingredientes 100% naturais.

Tão importante quanto o dinheiro recebido dos investidores, foram as conexões criadas durante o programa, que se mostraram fundamentais para o sucesso do projeto. A principal delas, segundo Joanna Martins, foi com o Mercado Livre, que permitiu que os produtos da Manioca passassem a ser entregues em até 24 horas em São Paulo e 48 horas nas demais capitais.

Com um público doméstico em expansão e clientes fiéis também nos Estados Unidos, França e Japão, a empresa deve experimentar um crescimento expressivo no curto prazo. "Nosso faturamento deve crescer 10 vezes nos próximos cinco anos", estima a fundadora.

Cenamo, da Amaz, tem uma opinião parecida. "É uma das que estão crescendo mais rápido entre as empresas do nosso portfólio. A Manioca está levando a Amazônia para a casa das pessoas, oferecendo produtos produzidos por comunidades que preservam a floresta, que estimulam a bioeconomia na região", completa o executivo.

Fonte: Valor Econômico 




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