Fóssil de planta de 280 milhões de anos é identificado no Brasil

As cicadáceas sobreviveram a duas extinções em massa e serviam de alimento para dinossauros. Descoberta pode ajudar a entender sua evolução até hoje.

  • A espécie data ao período geológico Permiano e foi nomeada Iratinia australis, porque foi encontrada na Formação Irati, no Sul do Brasil. Inicialmente, quando foi encontrada em 1980, os paleontólogos descreveram-na como uma planta da espécie Lycopodium, que possui características externas semelhantes às cicas e que também era comum no antigo continente Gondwana. “Fomos com a intenção de estudar o fóssil e descobrimos uma coisa completamente diferente”, afirma um dos autores do estudo, André Jasper.

    O fóssil identificado é um pequeno pedaço de madeira, com cerca de 12 centímetros de comprimento e 2,5 centímetros de diâmetro.

  • Já a segunda ocorreu há 65 milhões de anos, no Cretáceo-Paleógeno. É a extinção em massa mais recente da Terra – e a que pôs fim aos dinossauros. Vale dizer, aqui, que as cicadáceas serviam de alimento para os dinos. As cicadáceas se espalharam pelo mundo todo: América, Ásia, Austrália, África… Seu apogeu aconteceu há 120 milhões de anos, mas elas nunca chegaram a dominar o reino vegetal. Foram suplantadas por plantas capazes de produzir flores e frutos, as angiospermas – que se espalham muito mais rápido (frutos, afinal, atraem animais, que vão comê-los e depositar as sementes por aí. Dessa forma, plantas como as cicadáceas e as coníferas (que são as gminospermas) ficaram para trás.

O fóssil de cicadácea é o pequeno pedaço de madeira da imagem que abre este texto. Ele possui 12 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro. Mas a verdade é que ele não foi encontrado agora – e sim décadas atrás, nos anos 1970.

Acontece que, na época em que foi descoberto, os botânicos classificaram a planta como um tipo parecido, o licopódio – que também era abundante nessa região de Gondwana. Ninguém deu bola para ela até que o brasileiro Rafael Spiekermann, estudante de doutorado do Instituto de Pesquisa Senckenberg, em Frankfurt, na Alemanha, resolveu analisá-la para sua tese sobre licopódios. “O fóssil possui uma anatomia totalmente diferente”, contou Spiekermann ao New York Times. “Se você cortar uma cicadácea hoje, verá que que os padrões anatômicos são semelhantes.”

“Esse é um exemplo claro de a ciência não é algo imediato – e que precisa de tempo e recursos”, disse à Super André Jasper, professor da Universidade do Vale do Taquari e que também colaborou com a pesquisa. “Coleções científicas de idades e regiões diferentes permitem a descoberta de novas espécies.”

O estudo teve colaboração também de outros pesquisadores do Instituto Senckenberg e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pelas suas características, a planta recebeu o nome de Iratinia australis. “Australis” que dizer “sul” em latim, e Iratinia faz referência à Formação Irati, a formação geológica da Bacia do Paraná, onde ela foi encontrada.

“A descoberta é importante para essa região”, explica Jasper. “Agora, pesquisadores de todo o mundo estarão atentos a novas descobertas na área, na esperança de que mais fósseis desse grupo sejam encontrados e ajudem a completar o quebra-cabeças da sua evolução ao longo do tempo.”

Plantas como a Iratinia australis e as samambaias são o que os cientistas chamam de fósseis vivos – organismos que têm estruturas praticamente idênticas a seus antigos ancestrais estudados em fósseis propriamente ditos. Outro exemplo são os peixes celacantos, que habitam a Terra há 400 milhões de anos.



“O fóssil é o mais antigo exemplar de madeira que preserva as características anatômicas das cicadáceas”, conta Jasper. De acordo com ele, o material ajudará a entender melhor a evolução da planta – e as condições ambientais nas quais ela crescia. Além disso, como há cicadáceas em vários ecossistemas ainda hoje, será possível entender também como essa planta conseguiu resistir a várias extinções em massa – e se espalhar pelo mundo.

Fonte: Super Interessante 


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