A comida brasileira e o mito da democracia racial
Muita resistência! Caso contrário estaremos a fortalecer uma ideia de horizontalidade ilusória. No jogo paritário, os exploradores assumiram a narrativa dos heróis, uma espécie de poderoso rio que absorveu os pequenos confluentes indígenas e africanos. Confere aí, nos seus livros sobre a história da alimentação brasileira, se o cardápio europeu não aparece como referência e dos povos africanos e indígenas postos como periféricos em contribuição.
Vai mesmo engolir essa injustiça cognitiva a seco, achando que houve uma espécie de colaboração com os ingredientes substitutivos aos originais europeus ou o emprego de técnicas para ajudar a aproximar as preparações da “matriz civilizatória”?
Vamos colocar a comida na encruzilhada para denunciar o código das relações sociais do Brasil. No racismo à branquitude brasileira as preparações são servidas no mesmo prato, se aproximam, desde que haja hierarquia bem definida do prato principal.
Fazem os acompanhamentos serem servidos ao lado, desde que sempre periféricos. Haveria metáfora mais reveladora para expressar o disfarce pusilânime do prato à moda da casa? Um apelo à mestiçagem étnico-cultural que não repudia a predominância de valores culturais europeus.
Vamos transgredir os parâmetros injustos, desencadeirar a supremacia branca e celebrar as mãos afromeríndias que alimentam a vida com inventividade, inteligência, respeito à sociobiodiverdidade, em biointeração. Devemos dar estrelas as corpas autoras das preparações cheias de sabor, as mestras combinações, as guardiãs das sementes, de técnicas e tecnologias ancestrais. Vamos anunciar aquelas que transitam entre as cozinhas e os quintais, que pedem licença para entrar na mata, contam a lua para plantar, colher, parir. As que preparam no fogão o feijão e o banho que cura, fazem o azeite e usam pilão.
Comentários
Postar um comentário