Tarubá, um fermentado brasileiro

Pode soar como novo o interesse das pessoas por bebidas fermentadas.

De um tempo para cá, não paramos de ouvir falar em Kombucha ou Kefir, mas não é bem assim, as bebidas fermentadas existem desde o despertar da civilização egípcia, há evidência da primeira bebida alcoólica na China ao redor do ano 7000 a.C. 

Na Grécia, uma das primeiras bebidas alcoólicas que ganhou popularidade foi o hidromel, uma bebida fermentada feita de mel e água. A literatura grega está repleta de advertências contra beber em excesso.

Várias civilizações de índios americanos criaram bebidas alcoólicas nas épocas pré-colombianas.

Uma variedade de bebida fermentada da região dos Andes, na América do Sul, foi criada com milho, uvas e maçãs e recebeu o nome de “chicha”.

Ela era utilizada em rituais, em festas, portanto, dentro de uma pauta cultural bem

definida. Os índios usavam também o tabaco, que era desconhecido dos portugueses e de outros europeus. 

No entanto, os portugueses conheciam o vinho e a cerveja e, logo mais, aprenderiam a fazer a cachaça, coisa que não foi difícil, pois para fazer o açúcar a partir da cana-de-açúcar, no processo de fabricação do mosto (caldo em processo de fermentação), acabaram descobrindo

um melaço que colocavam no cocho para animais e escravos, denominado de "Cagaça", que depois veio a ser cachaça, destilada em alambique de barro e, muito mais tarde, de cobre.

Tarubá, Caxiri e Cauim.

Os indígenas tinham um amplo conhecimento sobre a produção de bebidas fermentadas a partir de tubérculos, raízes, folhas, sementes e frutos, como a abatiui (milho), beeutingui (farinha de mandioca), cachiri (mandioca, batata-doce ou inhame), cacimacaxera (mandioca), corote (mandioca e frutos), caoi (fruto de acaijba), catimpuera (milho), caxiri (buriti), caviracaru (mandioca), caxiri (mandioca), cauim (nome genérico para várias bebidas fermentadas à base de milho, mandioca, caju, batata, amendoim, banana, ananás etc.) eivir (farinha de milho), giroba (mandioca), guariba (mandiocaba ou mandioca doce), ivir (milho), jetiuy (batata), manavy (ananás), mocororó (arroz ou (mandioca), nanaí (abacaxi), oloniti (milho), pacobi (frutos de pacobete e pacobuçu), pacouy (mandioca), pajauru (beiju), pajuari (frutos fermentados), tarubá (beiju), tepiocuy (beiju), tiborna (mandioca), tikira (beiju), tipiaci (farinha de mandioca), tucanaíra (mel de abelhas) e saburá (de favos e água)

A Tarubá é uma bebida indígena  típica da região amazônica que até hoje agrada o gosto popular. 

Tal como o Cauim para os indígenas brasileiros e o Alúa de origem afro, as bebidas fermentadas tem forte presença em nossa cultura.

De costumes antigos a receita que passou de pai para filho e hoje é bastante consumida nesta época de festas juninas e quermesses.

É na comunidade de Irurama a 17 quilometro de Santarém no oeste do Pará que ainda se faz o Tarubá, bebida natural indígena preparada à base de mandioca. O processo inicia no roçado de mandioca onde a raiz é colhida em um trabalho bem simples e rápido. 

Ainda no meio da mata os produtores colhem palhas de curuá uma espécie de palmeira que será utilizada na preparação do Tarubá, o próximo passo é descascar e levar a mandioca que em seguida é sevada na maquina de processamento. 

A mandioca é transformada em uma massa que colocada dentro do “tipiti” um espremedor feito de cipó. 

Ao puxar o tipiti a massa libera um liquido amarelo que é o tucupi que apesar de não ser utilizado no Tarubá está muito presente em outros pratos da culinária regional.

A massa fica escorrendo por pelo menos 5 minutos e depois é peneirada e jogada no grande forno para a Preparação do beiju enquanto isso as palhas da palmeira são separadas e expostas como proteção para a massa que será jogada em cima. Existe um segredo que é um polvilho feito com curimí seco (mato encontrado facilmente na floresta  Amazônica) e os restinhos do beiju que ficam no forno, a mistura é amassada no pilão e é jogada sobre as palhas. 

O beiju é molhado em água natural e exposto na palha, um dos segredos para deixar o Tarubá no ponto é a Utilização desse mato retirado da Própria floresta Amazônica, o curumí que foi preparado o polvilho e depois é colocado por cima do beiju que já foi molhado e fica aqui descansando, é assim que se faz o processo totalmente natural! todo esse processo gerou a poupa do Tarubá, e quanto mais tempo a massa passar em contato com o curumí maior será o teor alcoólico por causa da fermentação, para preparar um balde desses com poupa de Tarubá são necessários 30 quilos de mandioca, um quilo de poupa é vendido a 3 reais. Agora é a vez do preparo da bebida que é bem simples.





A poupa pode ser batido no liquidificador somente com água ou acrescentando leite e açúcar. Toda a família se reúne e aprecia a bebida que parece uma vitamina natural, saborosa e rica em nutrientes.

Fonte: Márcia Andrade

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