É fundamental proteger as Cadeias Produtivas dos Alimentos Culturais, das comunidades tradicionais.

Quando falamos em sustentabilidade devemos estar atentos ao descaso com que governos vem tratando as cadeias produtivas dos alimentos tradicionais.


Coletor de dendê, Zona rural de Ilhéus, Bahia. 
Foto @araquemoficial 

Tudo isso se deve ao modelo adotado pelo governo, de valorização do Agronegócio, baseadas nos altos investimentos em tecnologia, nos pesticidas e na monocultura. 

Indústria do veneno

Segundo matéria recente do site Brasil de Fato, "Adubos e fertilizantes, milho em grão, farelo de soja, sementes, produtos veterinários, agrotóxicos e rações são alguns dos itens que hoje são isentos e sobre os quais passará a incidir taxa de 4,14% no estado"

"Não há crise de governança em matéria de agrotóxicos. Trata-se da consecução de uma política estrategicamente pensada e aplicada, direcionada para o fomento do agronegócio, um dos eixos fundamentais do modelo de reprodução do capitalismo rentista e especializado na exportação de bens primários, com baixíssimo valor agregado", diz o texto, acrescentando que cerca de 80% do agrotóxico consumido no país destina-se para apenas quatro culturas: soja, cana de açúcar, milho e algodão.

Os autores ressaltam que o mercado de fabricação de agrotóxicos é oligopolizado por empresas estrangeiras e movimenta, em média, US$ 10 bilhões – mais de R$ 55 bilhões – anualmente no Brasil.

Mas o que são os alimentos tradicionais? 

São os alimentos chamados, também, de produtos com história, pois se constituem e fazem parte de um local e de uma determinada cultura, sendo produzidos com a matéria-prima local de uma determinada região.

Devido aos conhecimentos e saberes-fazeres presentes nesses alimentos, através de gerações, a sua produção resgata não só a história envolta neles, mas o caráter histórico do próprio produtor. Nesse sentido, delineamos alguns aspectos que evidenciam a importância de se produzir esse tipo de alimento, como o turismo rural, necessidade do mercado por produtos diferenciados, para o desenvolvimento econômico dos produtores e de sua região.

Alem disso, o fortalecimento das cadeias produtivas de produtos e serviços gerados a partir dos recursos da sociobiodiversidade, é fundamental para possibilitar a integração da conservação e uso sustentável dos ecossistemas ao desenvolvimento econômico sustentável do país.

Conhecida popularmente como dendezeiro, a palma-de-óleo é considerada a planta com maior potencial de ganhar participação mais significativa entre as fontes de óleo para a produção de biodiesel, além de continuar abastecendo a indústria de alimentos.

No entanto, a disponibilidade de sementes de qualidade, o aumento do número de variedades disponíveis e a valorização econômica de todos os coprodutos do processamento ainda são desafios para estimular investimentos.

A cadeia produtiva do dendê sofre com a falta de investimentos, o que dificulta a realização do manejo adequado dos dendezeiros e a manutenção da atividade nas regiões - parte dos produtores optam por deixar o dendê de lado para iniciarem um novo cultivo que gera mais lucros, além disso parte dos jovens também não desejam continuar com a atividade familiar pela falta de retorno econômico.

Na Bahia, quando se ouve falar em dendê, imediatamente vem à mente um saboroso acarajé, frito na hora, num belo tacho de óleo de dendê. Mas, o que a maioria das pessoas não sabe é que do dendezeiro se aproveita praticamente tudo.

O dendê é transformado em produtos que vão desde os diversos tipos de óleos comuns e nobres, a sabão, artesanatos e, principalmente, para a produção do combustível biodiesel.

Agricultura familiar
Com a exploração basicamente nas regiões Baixo Sul e Litoral Sul da Bahia, o dendê é uma cultura muito explorada pela agricultura familiar, de forma extrativista e, atualmente, também de forma comercial.

Culinária Baiana
Elemento fundamental da culinária baiana, o Dendê tem a importante tarefa de manter não só a presença da nossa culinária tradicional, nossas iguarias e seu valor cultural, bem como a estrutura social e economica na preservação das religiões de matriz africana.
Afirma a jornalista e pesquisadora americana Jocelyn C. Zuckerman  (Aceite de palma: entre el colonialismo de ayer y la deforestación de hoy) as cadeias produtivas do Dendê na Bahia, diferentemente de boa parte onde seu uso vem sendo um desastre ecológico, foi preservado na Bahia, devido a essa relação.

Segundo Câmara Cascudo, “ao receituário de ovos e de azeite doce de oliva português, agregou-se o azeite de dendê africano, o coco e o leite de coco trazido das Índias, a mandioca indígena e os frutos e frutas da terra.” Daí vem, portanto, o uso do dendê, ou azeite de cheiro que, para a Dona Flor de Jorge Amado tem “cor de ouro velho, a cor do vatapá”.

Fora o romantismo das palavras de Cascudo, se o Brasil não repensar suas políticas relacionadas a alimentação em nosso país, não vai sobrar nada pra contar essa história. 

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