"ENTRE SABORES E IDENTIDADE: A CULTURA ALIMENTAR DE MINAS"

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A cultura alimentar mineira, frequentemente reduzida a estereótipos e simplificações, carrega em suas raízes um tecido profundo de relações sociais, históricas e simbólicas. A comida em Minas Gerais não se resume a um cardápio fixo ou a um conjunto de receitas tradicionais repetidas à exaustão. Pelo contrário, trata-se de um campo vivo de trocas, memórias e ressignificações, no qual os ingredientes e modos de preparo são apenas a superfície de um universo mais complexo.

O olhar humanístico sobre essa culinária exige um afastamento do lugar comum. Não se trata apenas da fartura das mesas, do fogão a lenha ou da onipresença do queijo, mas de compreender como esses elementos se inscrevem em um contexto mais amplo de identidade e resistência. O porco, a galinha, a mandioca, o milho e o feijão, pilares da alimentação mineira, não surgem isoladamente, mas são parte de uma teia de influências indígenas, africanas e europeias que se entrelaçaram ao longo de séculos, formando um modo de comer que é, antes de tudo, um modo de viver.


Ao longo da história, a cozinha mineira consolidou-se como um espaço de resistência cultural. O uso do porco em sua totalidade, por exemplo, reflete uma sabedoria ancestral que transforma cada parte do animal em alimento, sem desperdício, em um gesto de respeito à natureza e de sobrevivência diante da escassez. A própria estrutura das refeições, muitas vezes marcadas pela partilha, pela oralidade e pelo preparo comunitário, reforça um sentido de coletividade que resiste ao individualismo moderno.


Ao invés de simplesmente celebrar pratos icônicos como o feijão tropeiro ou o frango com quiabo, é fundamental investigar o que esses alimentos dizem sobre os mineiros e suas formas de habitar o mundo. A cozinha não é apenas sabor, mas um território de disputas e narrativas. Quem cozinha? Quem come? Quem tem acesso aos ingredientes e quem detém o conhecimento sobre seu uso? Essas são questões que um olhar mais crítico e aprofundado precisa levantar.


Um programa como "Rameh Cozinha", ao se propor a revisitar a culinária mineira, tem o potencial de fugir da mera reiteração do já conhecido e trazer à tona discussões essenciais sobre pertencimento e identidade. Se a abordagem for sensível e comprometida com a pluralidade de vozes que compõem a cultura alimentar mineira, ele poderá ser mais do que um espaço de receitas, tornando-se um campo de reflexão sobre o passado e o futuro da cozinha de Minas Gerais.


Afinal, comer em Minas não é apenas uma experiência gastronômica, mas um ato cultural carregado de sentidos. O desafio está em narrar essa história sem reduzi-la a um inventário de pratos típicos, mas compreendendo-a como um processo dinâmico, em constante construção e transformação.


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