ATERROS DO PANTANAL, ELEVAÇÕES ARTIFICIAIS QUE PODEM TER MILHARES DE ANOS, SÃO TESTEMUNHO VIVO DA INTERAÇÃO ENTRE NATUREZA E CULTURA
Fernando Ozorio de Almeida, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Luciano Pereira da Silva, Mariano Bonomo, Universidad Nacional de la Plata
O artigo destaca os aterros artificiais do Pantanal, conhecidos como "mounds", que remontam a milhares de anos e evidenciam a interação entre natureza e cultura na região.
O Pantanal, a maior planície alagável do planeta, com mais de 250 mil km², é muito mais do que um santuário ecológico. Esse mosaico de biomas — que mistura elementos da Amazônia, do Cerrado brasileiro e do Chaco paraguaio e boliviano — guarda uma história profunda de interação entre humanos e meio ambiente, evidenciada por estruturas elevadas chamadas de aterros.
Essas elevações artificiais, também conhecidas como “Morobohó” pelos Guató, datam de até 3 mil anos e representam marcos fundamentais da ocupação humana em um dos ecossistemas mais complexos e cambiantes do planeta.
Compreender os aterros é fundamental para preservar não apenas o patrimônio arqueológico, mas também as próprias dinâmicas ecológicas do Pantanal. Essas estruturas não são apenas testemunhos de um passado distante, mas também elementos ativos na manutenção da biodiversidade que considere também o passado recente e o tempo presente.
O que são os aterros?
Os aterros são construções feitas pela mão humana, compostas por terra, conchas, fragmentos de cerâmica, ossos de animais e, ocasionalmente, restos humanos. Essas estruturas compactas foram construídas para permitir a habitação em uma região onde água e terra constantemente se misturam.
Essas elevações foram construídas por comunidades indígenas para servirem como áreas habitáveis e agrícolas em meio às inundações sazonais. Além de fornecerem abrigo, os aterros contribuíram para a biodiversidade local, criando habitats para diversas espécies.
Pesquisas arqueológicas indicam que essas estruturas resultaram de um conhecimento profundo do ambiente e de práticas sustentáveis de manejo da terra.
A preservação desses sítios é essencial para compreender a história humana e ecológica do Pantanal.
Além de servirem como locais secos de moradia, os aterros abrigam áreas de cultivo e são áreas importantes para a fauna, como é o caso do sítio Jacarezinho, atualmente um santuário de aves. Hoje, os aterros são os refúgios prediletos para as onças e outros animais, abrigando uma flora para uso alimentar, tecnológico e medicinal, compreendida como resultante do manejo humano no passado longínquo e passado recente.
Conexão entre passado e presente
Hoje, o Pantanal é a casa de inúmeros povos indígenas que o habitam há milênios ou desde períodos menos longínquos. Entre eles estão os Boe Bororó do Cabaçal e Campanha, conhecidos pelas aldeias circulares descritas pelo etnógrafo Claude Lévi-Strauss; os Guató, canoeiros que ainda constroem aterros na região; os Terena, prováveis migrantes da Amazônia; os Chané/Guaná e os Guarani, que chegaram ao Pantanal no fim do período pré-colonial; os Mbyá-Guaicuru, que se expandiram a cavalo após a chegada dos europeus no século XVI; os canoeiros Paiaguá, “senhores do rio Paraguai”; e os Chiquitano, formados pela união nas missões de diversos povos indígenas da região.
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