SIMBOLOGIAS DOS BANQUETES COLETIVOS

Os banquetes coletivos em Hamadã são eventos tradicionais, uma expressão social que carregam grande significado cultural e social no Irã, especialmente na cidade de Hamadã. 

Muçulmanos egípcios se reúnem em ruas repletas de mesas longas para quebrar o jejum do Ramadã juntos em uma refeição "iftar" em massa em Ezbet Hamada, no subúrbio de Matariya, no nordeste da capital egípcia, Cairo, em 6 de abril de 2023, no 15º dia do mês sagrado muçulmano. (Foto cortesia: AFP)

CAIRO: O povo de Al-Matariyya, a leste do Cairo, celebra o Ramadã de uma maneira especial mais uma vez a cada ano, criando uma enorme mesa de iftar.

A criação mágica traz 'alegria e felicidade' a todos, diz organizador 

Moradores de Al-Matariyya contribuem com o que podem para garantir o sucesso do evento

A maravilhosa criação, cercada por luzes, balões e outras decorações, levou uma semana para ser montada e envolveu pessoas de toda a comunidade.

Ahmed Khalaf, um dos organizadores, disse: “Nós dividimos os papéis, com os rapazes se encarregando de comprar os suprimentos de mesa e as mulheres preparando todos os diferentes tipos de comida.

“No dia do iftar, as crianças participaram da limpeza e decoração das ruas para receber os jejuadores.

“Não nos importamos com o custo, pois todos os moradores do bairro participam do financiamento da mesa para levar alegria e felicidade às pessoas da região e de outras áreas vizinhas.

“Há um estado de harmonia e entendimento entre os participantes e os organizadores”, disse ele.

Centenas de moradores, incluindo fotógrafos e usuários de mídia social, se reuniram ao redor da mesa de iftar para “documentar um evento que incorpora o espírito de amor e coesão social entre os egípcios”, disse Saqr, acrescentando que o evento causou tanto rebuliço online que inspirou outros bairros a organizar eventos semelhantes.

Esses banquetes, muitas vezes associados a celebrações religiosas, rituais comunitários ou ocasiões especiais, representam a solidariedade e o espírito de comunidade entre as pessoas.

Significados e Simbologias 

•Solidariedade e Unidade Comunitária

Os banquetes reúnem pessoas de diferentes origens, promovendo a convivência e o fortalecimento dos laços sociais. Compartilhar uma refeição simboliza igualdade, harmonia e pertencimento.

•Caridade e Generosidade

Muitos desses eventos são organizados como atos de caridade, especialmente durante celebrações religiosas como o Ramadã ou Ashura. Os anfitriões ou organizadores servem comida gratuitamente, demonstrando generosidade e cuidando daqueles que têm menos recursos.

•Conexão com Tradições Religiosas e Espirituais

Em contextos religiosos, esses banquetes podem estar ligados à devoção, com orações e leituras do Alcorão realizadas antes ou depois da refeição. É uma forma de agradecer e compartilhar as bênçãos.

•Preservação Cultural

Os banquetes coletivos mantêm vivas as tradições locais, incluindo a culinária regional e os rituais associados a essas celebrações.

•Ritual de Passagem ou Comemoração

Alguns banquetes são organizados para marcar ocasiões específicas, como casamentos, funerais, festas de Ano Novo Persa (Nowruz), ou celebrações de santos locais.

Esses eventos, portanto, transcendem a simples ideia de uma refeição, sendo momentos de conexão espiritual, social e cultural, onde a comida se torna um símbolo de compartilhamento e unidade.

Os banquetes populares, quando analisados sob uma perspectiva coletiva de organização social, revelam-se como práticas profundamente enraizadas na cooperação, solidariedade e resistência. Esses eventos transcendem a simples partilha de alimentos, tornando-se espaços de construção política, cultural e comunitária. Abaixo, uma reflexão estruturada sobre esse tema.

Fundamentos Coletivos e Organizacionais

Horizontalidade e Participação Democrática: Em muitos casos, a organização ocorre de forma não hierárquica, com decisões tomadas em assembleias ou grupos de trabalho. Todos contribuem conforme suas habilidades (cozinhar, arrecadar recursos, divulgar), reforçando o senso de pertencimento.

Recursos Compartilhados: Alimentos podem vir de doações, hortas comunitárias, ou colheitas coletivas, refletindo práticas de economia solidária. O espaço físico (praças, centros comunitários) é ressignificado como bem comum.

Funções Sociais e Políticas

Resistência e Protesto: Historicamente, banquetes surgem em contextos de crise (ex.: "panelaços" na Argentina em 2001, ou as cozinhas coletivas no Brasil durante a pandemia). São atos de sobrevivência, mas também de denúncia contra desigualdades e falhas do Estado.

Educação e Conscientização: Muitos incluem debates, teatro, ou distribuição de materiais informativos, transformando o ato de comer em um momento de formação política (ex.: o programa de café da manhã gratuito do Partido dos Panteras Negras nos EUA, que combinava alimentação com educação antirracista).

Cultura e Identidade

Valorização de Saberes Locais: Pratos típicos e ingredientes regionais fortalecem identidades culturais e resistem à homogeneização alimentar. Ex.: comunidades indígenas que usam banquetes para revitalizar práticas culinárias tradicionais.

Celebração da Diversidade: Em contextos urbanos, esses eventos frequentemente integram grupos marginalizados (imigrantes, população em situação de rua), promovendo inclusão.

Desafios e Sustentabilidade

Dependência de Voluntariado: A rotatividade de participantes e o esgotamento de líderes podem fragilizar iniciativas. Soluções incluem estruturas mais descentralizadas e parcerias com movimentos sociais ou governos locais.

Autonomia vs. Institucionalização: Aceitar recursos públicos ou de ONGs pode gerar conflitos entre manter a independência política e garantir recursos. Ex.: cooperativas que negociam apoio sem abrir mão de sua gestão comunitária.

Exemplos Inspiradores

MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)**: Acampamentos organizam cozinhas coletivas, onde a produção agroecológica alimenta as famílias e simboliza a luta pela reforma agrária.

Comedores Populares no Peru: Iniciativas lideradas por mulheres que combatem a fome e criam redes de apoio mútuo em bairros periféricos.

Festa Junina Comunitária: No Nordeste brasileiro, arraiais colaborativos unem música, dança e comida, reforçando laços locais.

Conclusão: Banquetes como Microcosmos de Utopias

Os banquetes populares materializam a ideia de que "outro mundo é possível". Eles demonstram como a colaboração pode substituir a competição, como a comida pode ser um direito e não mercadoria, e como espaços públicos podem ser reconquistados para a vida coletiva. Mais do que eventos pontuais, são laboratórios de práticas sociais alternativas, onde se experimentam formas de organização baseadas em justiça, cuidado e democracia radical.


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