OS MULATOS DE SADO
Na zona de Alcácer do Sal e de Grândola existem hoje traços da presença de mulatos. Mas qual é a sua origem e a sua história? Como chegaram a esta região de Portugal?
"Ribeira do Sado
Ó Sado, Sadeta
Meus olhos não viram
Tanta gente preta.
Quem quiser ver moças
Da cor do carvão
Vá dar um passeio
Até São Romão.[1]"
A história dos mulatos do Sado, na região de Alcácer do Sal e Grândola, em Portugal, remonta ao período da expansão marítima portuguesa, entre os séculos XV e XVII. Durante este tempo, o tráfico de escravos africanos foi uma prática comum no país. Muitos dos escravizados trazidos de África foram levados para regiões agrícolas em Portugal para trabalhar, especialmente nas plantações, no cultivo de arroz e no trabalho rural, atividades predominantes na área do vale do Sado.
Origem dos mulatos
Os mulatos resultam da miscigenação entre europeus e africanos escravizados. Os escravos trazidos de África, principalmente da costa ocidental (como Angola, Guiné e Cabo Verde), eram forçados a trabalhar em condições duras nos campos agrícolas, e as relações – muitas vezes de exploração – entre os proprietários e os escravizados deram origem a descendências mestiças.
Na zona do Sado, devido ao isolamento e à continuidade da presença destes trabalhadores, consolidou-se uma comunidade distinta, com características físicas e culturais próprias, marcadas pela mistura de heranças africanas e europeias. Estes grupos mantiveram-se por gerações, mesmo após a abolição da escravatura em Portugal, que ocorreu em 1761 no território continental e em 1869 nas colónias.
A sua história e permanência
Com o tempo, os descendentes dos escravizados africanos foram integrando-se progressivamente na sociedade portuguesa, mas muitas vezes continuaram a viver em condições de desigualdade social e económica. Na região do Sado, a sua presença é visível em comunidades que preservam algumas tradições culturais que misturam influências africanas e locais.
Hoje, a história dos mulatos do Sado representa um capítulo importante da memória coletiva portuguesa, refletindo a complexidade das relações sociais e raciais no contexto do colonialismo e da escravidão. Apesar da integração, as marcas culturais e os desafios associados a esta herança histórica ainda podem ser percebidos na identidade e no quotidiano das comunidades da região.
Os mulatos e outras populações, como escravizados e libertos, desempenhavam um papel importante no trabalho nas salinas de Setúbal (na região do rio Sado) durante o período colonial. As salinas eram uma das atividades econômicas mais relevantes da região, e a extração de sal exigia mão de obra intensa, especialmente devido ao trabalho pesado sob condições difíceis.
No caso dos mulatos, que eram descendentes de europeus e africanos, muitos podiam ser encontrados trabalhando nas salinas, tanto como escravizados quanto como trabalhadores livres. Este contexto reflete a estrutura social e econômica da época, marcada pela desigualdade e pela exploração da mão de obra de populações racializadas.
[1] Recolhida em Alcácer do Sal.
Livro de Isabel Castro Henriques: Pretos do Sado» – História e Memória de uma Comunidade Alentejana de Origem Africana (Séculos XV).
Habitante de Rio de Moinhos
Pastor de Rio de Moinhos
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