REGISTROS DA CULINÁRIA BAIANA TRADICIONAL

Nesta obra, o autor faz uma reflexão sobre as religiões de matriz africana, abordando temas como a culinária, os orixás e as práticas tradicionais do Brasil. 

Ele explora o universo das práticas culturais afro-brasileiras, misturando histórias, mitos e a culinária que tem um forte vínculo com a religiosidade e os orixás. O livro também discute as relações entre a comida, as tradições afro-brasileiras e o mundo dos encantamentos e rituais.

A obra tem uma perspectiva antropológica e etnográfica, buscando compreender as práticas sociais e religiosas, e a importância da culinária, não apenas como uma prática de alimentação, mas também como um elemento ritualístico e simbólico nas religiões afro-brasileiras, especialmente nas cultos como o Candomblé e a Umbanda. 

Além disso, ele reflete sobre como esses elementos de tradição africana se mantiveram vivos e se misturaram com outras influências culturais brasileiras ao longo do tempo.

SOBRE O AUTOR

Vilson Caetano tem uma forte atuação nas áreas de antropologia e literatura, com foco em temas relacionados às culturas afro-brasileiras, religiosidade e tradições populares. Ele também se dedica à pesquisa sobre as influências africanas na sociedade brasileira e como elas se manifestam no cotidiano, seja na culinária, na música, ou nas festividades.

Esse livro, em particular, é um mergulho profundo nas tradições culinárias e culturais que formam a base das religiões afro-brasileiras, ao mesmo tempo em que faz uma reflexão sobre a importância desses aspectos na sociedade contemporânea.


Uma de suas obras mais destacadas é "A Cozinha, Os Orixás e Os Truques", na qual ele explora a relação entre a culinária afro-brasileira e a religiosidade dos orixás, temas profundamente ligados à cultura de origem africana no Brasil. Neste livro, Sousa Júnior se aprofunda nas práticas, crenças e rituais das religiões afro-brasileiras, examinando como esses aspectos são representados e vivenciados nas tradições alimentares.

Vilson Caetano Sousa Júnior é considerado uma figura importante no campo dos estudos culturais e afro-brasileiros, contribuindo para a preservação e divulgação das tradições afro-brasileiras.


Seguem os principais pontos para análise:

•Herança Africana na Culinária Brasileira:

O autor utiliza as reflexões de Nina Rodrigues e Manuel Querino para destacar a presença da culinária africana, com destaque para os bantos, nagôs e outros grupos. Ele reconhece a dificuldade de identificar exatamente quais costumes e pratos podem ser atribuídos aos africanos, mas salienta a importância das práticas trazidas por esses povos na construção do repertório culinário brasileiro, especialmente na Bahia.

•Comida e Religiosidade:

Um ponto central do texto é a relação entre a culinária africana e as práticas religiosas dos terreiros de candomblé. A "comida de santo" aparece como elemento indispensável na conexão com os Orixás, respeitando códigos, preceitos e tabus. O autor aponta que essas refeições possuem um papel simbólico e ritualístico, sendo fundamentais para a transmissão de axé, o que reforça o papel espiritual da alimentação.

•Transformações Culinárias:

A comida de origem africana não permaneceu estática; ela foi reelaborada no Brasil com técnicas e ingredientes locais. Isso reflete uma adaptação cultural, na qual alimentos bantos, jejes e nagô-iorubás foram reinterpretados à luz das condições e produtos encontrados no Brasil, como o uso do milho e da mandioca.

•Fome e Sustento:

O texto também menciona a escassez de alimentos enfrentada nos primórdios do Brasil colonial. Nesse cenário, os africanos contribuíram com sua expertise no aproveitamento de recursos locais, o que permitiu a subsistência e a criação de uma culinária adaptada às necessidades locais.

•Urbanização e Estudos Recentes:

O autor chama a atenção para a distinção entre a vivência africana no campo e na cidade. A escravidão urbana, um aspecto menos abordado até recentemente, é destacada como um tema que merece mais estudos e análises.

O texto de Vilson Caetano oferece uma reflexão rica sobre a influência africana na formação da culinária brasileira, destacando seu papel cultural, religioso e de adaptação a novas realidades. Ele demonstra como a alimentação vai além de uma necessidade biológica, tornando-se uma expressão de identidade, espiritualidade e resistência.


Críticas Positivas:

•Ressignificação da culinária africana no Brasil:

Vilson Caetano oferece uma análise aprofundada sobre como as práticas alimentares trazidas pelos africanos foram adaptadas às condições brasileiras, preservando suas raízes culturais enquanto se transformavam em um novo contexto. Ele demonstra sensibilidade ao abordar as interseções entre alimentação, religiosidade e identidade cultural.

•Integração entre comida e religiosidade:

A conexão entre a culinária e os rituais religiosos dos Orixás é um dos pontos altos do texto. Caetano destaca com clareza o simbolismo e os significados espirituais dos alimentos, apresentando a "comida de santo" como uma prática essencial no candomblé.

•Diálogo com autores clássicos:

O autor utiliza as contribuições de estudiosos como Nina Rodrigues e Manuel Querino, reconhecendo a importância histórica dessas pesquisas e enriquecendo sua análise com referências fundamentadas.

•Valorização da herança africana:

O texto reforça a importância dos povos africanos na construção da culinária brasileira, contrariando visões que minimizam ou diluem essa influência. Caetano promove uma leitura que resgata e dá centralidade às práticas culturais desses grupos.

•Reconhecimento da diversidade africana:

O autor enfatiza que a África não é uma unidade homogênea, destacando as contribuições específicas de grupos bantos, jejes e nagôs, e mostrando como cada um deles influenciou de maneira particular a culinária religiosa e secular no Brasil.

Questionamentos:

•Embora o texto foque na Bahia, onde o candomblé tem forte presença, como a influência africana se manifesta em outras partes do Brasil, especialmente em locais onde a religiosidade afro-brasileira é menos presente? Seria interessante explorar as variações regionais dessa culinária.

•Questões metodológicas:

O texto apresenta reflexões valiosas, mas poderia aprofundar mais sobre as bases metodológicas utilizadas para identificar e diferenciar práticas africanas das que surgiram no Brasil. Como o autor delimita o que é "africano", "afro-brasileiro" ou fruto da interação entre culturas?

•Adaptações contemporâneas:

Como as práticas alimentares e a "comida de santo" estão sendo reinterpretadas hoje em dia, no contexto da globalização e do turismo gastronômico? A relação com o mercado e o consumo moderno poderia ser abordada.

•Discussão sobre escravidão urbana:

O autor menciona brevemente a escravidão urbana, mas essa questão poderia ser ampliada. Quais eram as especificidades da alimentação dos africanos escravizados em áreas urbanas e como isso influenciou a cultura culinária local?

O texto de Vilson Caetano é uma contribuição importante para o entendimento da relação entre culinária, cultura e religiosidade afro-brasileira. No entanto, uma abordagem mais ampla, tanto em termos regionais quanto históricos, bem como um aprofundamento metodológico, poderiam fortalecer ainda mais a obra. O texto convida à reflexão sobre como as práticas alimentares preservam identidades e memórias, mas também evoluem em resposta a novas condições sociais e econômicas.


Para baixar:

https://pt.scribd.com/document/154743916/A-COZINHA-OS-ORIXA-S-E-OS-TRUQUES

○Nesta série, apresentarei títulos fundamentais que resgatam a riqueza da culinária baiana. Receitas que são registros históricos obtidos por meio de pesquisas em acervos, bibliotecas e antigos cadernos de receitas, que oferecem uma compreensão mais profunda da nossa cultura alimentar e explicam por que ela é considerada tão diversa e única.


Agradecimento especial à Mary Santana, e do acervo Valdeloir Rego da Biblioteca Central dos Barris.


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