GUMBÔ UMA CONEXÃO BANTU
A palavra GUMBÔ tem origem em línguas bantas da África, especificamente do termo ki ngombo, que significa quiabo. Essa conexão linguística evidencia a herança africana presente nos hábitos culturais e culinários da diáspora.
O GUMBÔ, como prato, é um exemplo claro dessa influência, sendo um ensopado que se popularizou nos Estados Unidos, especialmente na região da Louisiana, através da interação das culturas africana, indígena, europeia e caribenha, chegando até o Baixo Sul da Bahia com características próprias.
Essa palavra bantu carrega, assim, não apenas um significado culinário, mas também uma memória ancestral que conecta os povos da diáspora a suas raízes africanas.
O uso do quiabo (Abelmoschus esculentus), da bucha (Luffa aegyptiaca) para engrossar caldos e o próprio nome remetem diretamente às práticas alimentares africanas, que foram ressignificadas no contexto da diáspora forçada.
O GUMBÔ tem inspiração no Ajebó, uma comida ritual do Orixá Xangô Airá, que pode ser oferecida para pedir proteção e ajuda contra injustiças, calúnias e problemas judiciais.
Gumbô (ou gumbo) e o quimbombô são termos que remetem ao quiabo, e ambos têm forte relação com a ancestralidade africana. O quiabo foi trazido para as Américas por africanos escravizados, que também trouxeram consigo suas práticas culturais, culinárias e espirituais.
Na culinária afro-diaspórica, o quiabo se tornou um ingrediente central em pratos como o gumbo nos Estados Unidos e em várias receitas típicas da África e do Brasil. Esses pratos não são apenas alimentos, mas também representações da resistência cultural e da preservação da identidade africana.
GUMBÔ é uma Espuma de Camarões frescos, tomates, quiabo e bucha, creme de coco e frutos do Dendê.
Pensar essas questões pela lente da ancestralidade nos convida a reconhecer a importância do legado africano, a diáspora e as histórias que sobrevivem nos hábitos alimentares, na linguagem e nas práticas comunitárias.
O gumbô/quimbombô simboliza mais do que um ingrediente; é um elo vivo com a memória e as tradições que desafiaram a violência colonial e permanecem até hoje como parte da construção de identidades culturais no Atlântico Negro.
A relação entre a espuma do quiabo, o orixá Oxalá e o ajebó está profundamente conectada aos aspectos simbólicos e rituais das tradições afro-brasileiras, em especial no Candomblé.
Oxalá e a Pureza
Oxalá, considerado o pai dos orixás, está associado à pureza, à serenidade e à paz. Ele é relacionado a elementos brancos e claros, que remetem à calma e à harmonia. Nos rituais, é comum que seus alimentos sejam preparados com cuidado especial, usando ingredientes que simbolizem sua essência.
Quiabo e a Espuma
O quiabo é um elemento presente em diversas oferendas e rituais. Quando preparado, ele libera uma substância viscosa que, ao ser mexida, pode formar uma espuma. Essa espuma é vista simbolicamente como um elemento purificador e calmante, relacionado às energias de Oxalá. A textura do quiabo também remete à suavidade e à capacidade de acalmar situações e espíritos.
Ajebó
O ajebó é uma comida ritual oferecida a Oxalá e composta, muitas vezes, de quiabo. O preparo do ajebó envolve cortar os quiabos em pequenos pedaços, cozinhá-los com calma, sem que eles percam sua viscosidade. Esse prato é oferecido com reverência, simbolizando o apaziguamento de conflitos, a purificação e o fortalecimento das boas energias.
A Conexão Simbólica
A espuma do quiabo, vista em um contexto ritual, representa a calma e o equilíbrio que Oxalá traz aos seus filhos e ao mundo. No preparo do ajebó, essa espuma é um sinal de que a oferenda está carregada da energia do orixá, trazendo purificação e harmonia aos envolvidos. Assim, o quiabo e sua espuma tornam-se mais do que alimentos: são veículos espirituais para se conectar com a essência pacífica e purificadora de Oxalá.
O Mito de Airá
Segundo a mitologia, Oxalá foi injustamente preso por sete anos no reino de seu filho, Xangô, que desconhecia o ocorrido. Durante esse tempo, grandes calamidades atingiram o reino. Ao descobrir a verdade, Xangô libertou Oxalá e organizou grandes festas em sua homenagem, evento que deu origem à celebração conhecida como Águas de Oxalá.
A lenda de Oxalá conta que ele se decepcionou com os homens e chorou silenciosamente após os pássaros se aproveitarem de seu sono profundo para comer os frutos de seu quintal.
Apesar das festividades, Oxalá estava debilitado e desejava retornar a Ifé, onde sua esposa Yemanjá o aguardava. Incapaz de acompanhá-lo, Xangô confiou a Airá a missão de escoltar Oxalá. A viagem foi longa e difícil, pois Oxalá caminhava lentamente devido aos ferimentos. Airá, dedicado, chegou a carregá-lo nas costas e cuidava para que ele descansasse à noite, aquecendo-o com grandes fogueiras e distraindo-o com histórias do povo de Oyó.
O gumbô é, de fato, muito mais do que um simples prato. Ele carrega consigo uma dimensão energética, sensorial e afetiva profundamente ligada à ancestralidade e à memória coletiva dos povos da diáspora africana.
Energia e Nutrição
Do ponto de vista energético, o Gumbô combina ingredientes ricos e vigorosos, como o quiabo, tomates, bucha (luffa) camarões frescos, e temperos marcantes.
Esses elementos não apenas fornecem energia física, mas também evocam as tradições alimentares africanas de pratos que nutrem o corpo de forma integral, promovendo força e vitalidade.
Sensorialidade
No aspecto sensorial, o gumbô é uma explosão de sabores e texturas. O quiabo e a bucha, com suas características mucilaginosas, dá ao prato uma textura única e envolvente, enquanto os temperos, como pimenta, cebola, alho e ervas, estimulam os sentidos. Cada colherada é uma experiência imersiva que ativa paladar, olfato e até memória tátil, remetendo às cozinhas onde ele foi preparado.
Afetividade
A afetividade do gumbô reside em sua história. É um prato que simboliza resiliência, comunidade e troca cultural. Preparado muitas vezes em grandes panelas para alimentar famílias inteiras ou comunidades, ele carrega o espírito de união. Além disso, o gumbô é uma ponte com os antepassados, um lembrete de como as práticas alimentares africanas resistiram ao longo do tempo, mesmo em contextos de opressão.
Ao comer ou preparar um gumbô, vive-se uma experiência de conexão: com a ancestralidade, com a terra e com as pessoas ao redor. É, ao mesmo tempo, um alimento que nutre o corpo, eleva o espírito e fortalece laços culturais e emocionais.
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