ENRIQUE DUSSEL A DESCOLONIZAÇÃO CULTURAL E OS ASPECTOS DA CULTURA ALIMENTAR DOS POVOS TRADICIONAIS.

Enrique Dussel (Mendoza, 24 de dezembro de 1934 – Cidade do México, 5 de novembro de 2023) foi um filósofo argentino radicado (exilado) no México. Dussel é um dos maiores expoentes da filosofia da libertação e do pensamento latino-americano em geral.

É autor de uma grande quantidade de obras, e seu pensamento discorre sobre temas como filosofia, política, ética, teologia e até mesmo design.Colocou-se como crítico da pós-modernidade, chamando por um novo momento denominado transmodernidade.

A descolonização cultural, segundo Dussel, passa por uma reinterpretação da história e do saber, resgatando os conhecimentos e práticas das comunidades que foram marginalizadas pelo colonialismo e pelo eurocentrismo. Isso inclui a valorização das culturas alimentares dos povos tradicionais, que são frequentemente ignoradas ou subordinadas à lógica do mercado global.

Cultura alimentar dos povos tradicionais e descolonização

A alimentação é uma dimensão fundamental da identidade cultural e da resistência dos povos. Alguns aspectos ligados à cultura alimentar que se relacionam com as ideias de Dussel incluem:

•Resgate e reinterpretação dos saberes ancestrais: As práticas de cultivo, coleta e preparo de alimentos dos povos tradicionais representam uma sabedoria acumulada ao longo de séculos. Essa sabedoria é muitas vezes ameaçada pela introdução de monoculturas e pela industrialização da produção alimentar.

•Soberania alimentar: Os povos indígenas e tradicionais frequentemente defendem o direito de controlar suas próprias fontes de alimento. Isso se opõe ao modelo colonial, que impôs culturas agrícolas estrangeiras e sistemas de exploração predatória.

•Relação simbiótica com a natureza: A filosofia da libertação ecoa a visão de muitos povos tradicionais de que a relação com a terra deve ser de cuidado e reciprocidade, em contraste com a lógica exploratória do capitalismo colonial.

•Resistência à homogeneização cultural: A globalização e a colonização cultural impõem padrões alimentares que muitas vezes desvalorizam as dietas tradicionais em favor de produtos industrializados. O resgate dessas tradições pode ser um ato de resistência e reafirmação identitária.

 Nesse sentido, proteger e valorizar a cultura alimentar dos povos tradicionais é uma forma concreta de resistir ao colonialismo cultural e reafirmar o direito à diversidade.

DUSSEL E O DIREITO À ALIMENTAÇÃO NA AMÉRICA LATINA 

O olhar de Enrique Dussel sobre à realidade latino-americana a partir das experiências concretas dos povos marginalizados. Seu pensamento vem sendo utilizado para abordar questões como o direito à alimentação, que é um dos temas centrais no contexto das desigualdades sociais da América Latina.

Dussel parte de uma crítica ao sistema hegemônico, especialmente ao capitalismo globalizado, que marginaliza populações vulneráveis, negando-lhes direitos básicos como o acesso à alimentação adequada. Para ele, é fundamental colocar a vida no centro da ética e da política, o que implica a prioridade absoluta de atender às necessidades básicas dos mais pobres e excluídos.

Nesse sentido, o direito à alimentação não é apenas uma questão de política pública, mas um imperativo ético.

Perspectiva dusseliana sobre o direito à alimentação:

•Centralidade da vida: Dussel insiste na defesa da vida como valor fundamental. A fome, como forma de negação da vida, deve ser combatida como uma prioridade ética e política. O acesso à alimentação deve ser tratado como um direito inalienável e universal.

•Crítica ao sistema econômico: Ele aponta que o sistema capitalista global prioriza o lucro em detrimento do bem-estar humano. Isso se reflete na concentração de terras, no agronegócio orientado para exportação e na negligência das necessidades alimentares das populações locais.

•Alteridade e solidariedade: Dussel sublinha a importância de ouvir os pobres e marginalizados, pois são eles que sofrem os impactos mais graves da fome. Ele defende uma ética da alteridade, em que os excluídos devem ser o ponto de partida para a construção de soluções justas e inclusivas.

•Construção de políticas emancipatórias: Inspirado por sua visão ética e política, Dussel propõe que os governos e movimentos sociais da América Latina priorizem políticas de soberania alimentar, reforma agrária e acesso igualitário aos recursos naturais, combatendo estruturas que perpetuam a fome e a pobreza.

Direito à alimentação na América Latina:

No contexto latino-americano, o direito à alimentação é especialmente relevante devido às históricas desigualdades sociais, à concentração de terras e à vulnerabilidade das populações indígenas, camponesas e urbanas. As ideias de Enrique Dussel convidam a uma reflexão profunda sobre como transformar essas realidades a partir de uma ética que priorize a dignidade humana, a justiça social e a inclusão.

Dussel nos lembra que a fome não é apenas um problema técnico ou econômico, mas uma questão ética e política que exige respostas radicais e comprometidas com os mais pobres.

A DESCOLONIZAÇÃO EM OPOSIÇÃO AO NEOLIBERALISMO

Enrique Dussel, oferece uma crítica contundente ao pensamento neoliberal, que ele associa ao projeto hegemônico da modernidade ocidental. Dussel argumenta que o neoliberalismo, enquanto uma forma de colonialidade econômica e cultural, perpetua desigualdades e exclusões, favorecendo as elites globais às custas das maiorias marginalizadas, especialmente nas regiões periféricas do mundo.

Modernidade e colonialidade:

Para Dussel, a modernidade não é um processo universal de progresso, mas sim uma narrativa construída com base na exploração colonial. O neoliberalismo, como manifestação contemporânea da modernidade, reforça a lógica da colonialidade ao promover a globalização econômica, que homogeneíza culturas, explora recursos periféricos e marginaliza saberes locais.

•O neoliberalismo apresenta-se como "universal", mas na verdade impõe valores eurocêntricos e padrões de consumo que deslegitimam outras formas de vida e organização social.

Crítica à lógica do mercado:

Dussel questiona a centralidade do mercado no neoliberalismo, que subordina todos os aspectos da vida humana à lógica da mercantilização e do lucro. Esse modelo ignora dimensões éticas e comunitárias, fundamentais para uma sociedade justa. A descolonização, para Dussel, propõe uma ética baseada na dignidade humana e no cuidado com o outro, em oposição à lógica individualista e competitiva do neoliberalismo.

•Oprimidos como sujeitos históricos:

No neoliberalismo, as populações marginalizadas são vistas como "obstáculos" ao desenvolvimento ou como mão de obra explorável. Dussel, porém, coloca os oprimidos como os verdadeiros sujeitos históricos. Para ele, a descolonização envolve a valorização das vozes, saberes e práticas desses grupos, rompendo com a exclusão estrutural promovida pelo neoliberalismo.

Economia solidária e sustentabilidade:

Em oposição ao modelo neoliberal, Dussel defende alternativas como a economia solidária e práticas que respeitem os limites do meio ambiente. A descolonização econômica implica o reconhecimento de formas de organização não capitalistas, baseadas na cooperação, na reciprocidade e no respeito aos bens comuns.

Política da libertação versus política neoliberal:

A política neoliberal favorece o mínimo de intervenção estatal e o máximo de liberdade para os mercados, o que, segundo Dussel, amplia desigualdades e concentra riquezas. Em contraste, a política da libertação propõe um modelo de organização política que prioriza os excluídos e marginalizados, reconstruindo a sociedade a partir das bases e das periferias.


A DESCOLONIZAÇÃO COMO RESISTÊNCIA 

A descolonização, na visão de Dussel, não é apenas uma ruptura com as estruturas coloniais históricas, mas também com suas manifestações contemporâneas, como o neoliberalismo. Isso envolve:

Recuperar epistemologias locais: Reconhecer e valorizar os saberes e práticas dos povos subalternizados, rompendo com a supremacia do pensamento ocidental.

Desmantelar estruturas econômicas opressoras: Questionar a dívida externa, o extrativismo predatório e o consumo desenfreado promovido pelo neoliberalismo.

Construir um mundo pluriversal: Rejeitar a ideia de uma única narrativa global e abrir espaço para múltiplas formas de ser, viver e pensar.

Para Enrique Dussel, a descolonização é uma crítica profunda às bases filosóficas e econômicas do neoliberalismo. Enquanto este promove a exploração e a exclusão em nome do mercado, a descolonização busca construir uma alternativa ética, política e cultural que resgate a dignidade dos povos oprimidos e valorize a diversidade humana. É um chamado para repensar o mundo a partir da periferia, em oposição à centralidade eurocêntrica.

Pensadores da Nação Latino Americana

Enrique Dussel (1934) é filósofo argetino, formulador da Filosofia da Libertação e da crítia radial à modernidade

https://youtu.be/VD-AkXBXpqs?si=vFHALZS2_A-qRtIB


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