MAKOTA VALDINA E A ANCESTRALIDADE NA CULINÁRIA BANTU


Makota Valdina (1943–2019) foi uma importante liderança religiosa, ambientalista e educadora brasileira, conhecida por sua atuação na valorização da cultura afro-brasileira e pela defesa das tradições do povo Bantu, um dos maiores grupos etnolinguísticos da África. Foto Hury Harmad  

Ela era uma liderança do Candomblé de nação Angola e dedicou sua vida a combater preconceitos e a promover a preservação da cultura africana no Brasil.

Makota Valdina não deixou registros específicos sobre a culinária bantu, mas seus ensinamentos e sua filosofia de valorização dos saberes ancestrais estão profundamente conectados às práticas culinárias tradicionais de matriz africana. Para ela, o alimento não era apenas sustento, mas também um elemento sagrado e simbólico, integrado às vivências espirituais e culturais do povo de santo.

Sua visão abrangente sobre a preservação das tradições e a relação intrínseca entre natureza, espiritualidade e cultura reflete-se na culinária ancestral, que mantém vivas as memórias dos povos africanos trazidos ao Brasil. 

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Essa herança vai além do ato de cozinhar: é um espaço de transmissão de conhecimentos, fortalecimento de identidades e celebração da história e da resistência afro-brasileira. Assim, embora não tenha produzido registros diretos sobre a culinária, sua filosofia e ensinamentos ecoam nos saberes e práticas alimentares ancestrais, perpetuando a ligação entre memória, espiritualidade e cultura.

A culinária Bantu, assim como outras manifestações culturais, está profundamente conectada às tradições religiosas e sociais dos povos africanos. No Brasil, muitos pratos típicos da culinária afro-brasileira têm origem nas práticas alimentares trazidas pelos povos Bantu, adaptadas ao contexto local. A comida possui um papel sagrado, sendo parte essencial dos rituais e oferendas do Candomblé e de outras manifestações culturais.

“O candomblé é a essência da Makota Valdina”

Fincada nestas tradições religiosas, ela tornou-se um instrumento de expressão da sabedoria popular baiana, brasileira, de base africana. Como é próprio de uma visão de mundo dessa origem, os conhecimentos e habilidades da Makota Valdina – o seu savoir-faire – se articulam e interagem constantemente, e não se estancam, ou se resumem a uma determinada dimensão do saber.

Nela, reflexões filosóficas acerca da cosmogonia do Candomblé, mais especificamente os de origem bantu, coabitam com um apurado senso estético na execução de danças, ou confecção de artesanatos rituais; ao domínio da culinária, ou do uso de ervas, une-se um repertório de cantigas sagradas de rara extensão.

Características da Culinária Bantu:

Uso de ingredientes simples e nutritivos: Como mandioca, as folhas tradicionais, o inhame, milho, banana, feijão e amendoim.

Pratos: Angu e o uso do Fubá, Cozido, Mingaus diversos (como o de milho ou de banana), e o uso frequente do azeite de dendê e leite de coco.

Ritualidade: A preparação dos alimentos é carregada de simbolismo e espiritualidade, sendo considerada uma extensão da conexão com os ancestrais e os orixás/inquices.

Compartilhamento: A comida é muitas vezes preparada coletivamente e compartilhada, reforçando os laços comunitários.

Makota Valdina entendia a importância da culinária como forma de resistência cultural e identidade. Ela defendia a preservação dos saberes ancestrais, que incluem não só os pratos, mas também o respeito às formas tradicionais de plantar, colher e cozinhar, conectando o alimento à natureza e à espiritualidade.

Durante sua trajetória, Makota Valdina integrou a diretoria da Federação Baiana de Culto Afro-Brasileiro (FEBACAB), período em que seu respeito e compromisso com as tradições do Candomblé, independente da nação, consolidaram sua reputação entre os praticantes dessa religião. Antes de concluir sua gestão, engajou-se nas lutas pela preservação do Parque São Bartolomeu, um antigo santuário natural do povo-de-santo em Salvador. Esse parque, uma ampla reserva urbana de Mata Atlântica, sofria com a degradação causada pela ação humana e pela negligência dos poderes públicos.

Junto a outras educadoras, Makota Valdina desenvolveu programas de educação ambiental que destacavam a relação sagrada entre o Candomblé e a natureza. "A natureza é a essência do Candomblé", ensinava ela. Dessa luta nasceu o Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (CEASB), onde atuou como educadora e conselheira. Entre suas contribuições, destacou-se também o trabalho de catalogação e plantio de ervas medicinais nas áreas próximas ao parque, fortalecendo o vínculo entre preservação ambiental e saberes tradicionais.

Ao longo do tempo, Makota Valdina tornou-se uma referência da sabedoria popular baiana, brasileira e de matriz africana. Sua visão de mundo, marcada pela riqueza e integração dos saberes de origem africana, unia reflexões filosóficas sobre a cosmogonia do Candomblé bantu a um apurado senso estético na dança, no artesanato ritual, na culinária e no uso de ervas. Além disso, possuía um extenso repertório de cantigas sagradas, testemunhando sua profunda conexão com as tradições.

Em fevereiro de 2003, representou as religiões de matriz africana de Salvador em um encontro com o recém-empossado Ministro da Cultura, Gilberto Gil. Também foi uma das líderes do Movimento Contra a Intolerância Religiosa em Brasília. Com sua palavra serena e firme, que ilumina, e sua indignação contundente, que inspira, Makota Valdina tem marcado profundamente diversas plateias em conferências e palestras no Brasil e no exterior.


Nossa pequena homenagemaos 50 anos de iniciação de Makota Valdina 

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