Acarajé tenta renovar título de Patrimônio


As baianas de acarajé vivem a expectativa da renovação do título de patrimônio imaterial da cultura brasileira, concedido em 2005, mas agora ameaçado devido às alterações do perfil das profissionais do tabuleiro.

Com cinco anos de atraso, baianas aguardam fim de burocracia para revalidar título de patrimônio do estado

Ofício, inscrito no Livro dos Saberes em 2005, precisava ser renovado desde 2015


Com cinco anos de atraso, baianas aguardam fim de burocracia para revalidar título de patrimônio do estado.


Por: Geovana Oliveira no dia 22 de setembro de 2021 às 17:42





Após 5 anos de espera, as baianas de acarajé finalmente começam a respirar aliviadas sobre o título como Patrimônio Imaterial da Bahia. O ofício, inscrito no Livro dos Saberes em 2005, precisava ser renovado desde 2015. 

O título coloca o serviço das baianas de acarajé como prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das comidas feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás. No entanto, deve ser atualizado a cada dez anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).  

Rita Santos, a diretora da ABAM (Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivos da Bahia), diz que passou os últimos anos cobrando um posicionamento do IPHAN. Já na última semana, um relatório favorável à renovação do título foi enviado para Brasília. Lá o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural vai decidir sobre a revalidação. 

A diretora da ABAM está confiante. "Estamos confiantes, não tem dúvidas. O IPHAN não está botando empecilho. Nós ficamos preocupadas porque de 2015 pra cá, esse tempo longo, houve muita renovação, descaracterização e nossa preocupação era que poderia prejudicar. Mas a partir do momento que foi enviado o relatório...", afirma. 

O trabalho de elaboração do relatório, por parte de técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), será avaliado em Brasília, por conselho recentemente modificado com a substituição de professores universitários por pastores.

A Associação Nacional de Baianas de Acarajé, Mingaus, Receptivos e Similares vem apoiando o Iphan no sentido de fornecer informações necessárias visando constituir a identidade atual da categoria, no momento sob forte impacto da influência de religiões monoteístas.

– Já tem baianas colocando maionese, queijo, presunto e até repolho no acarajé e no abará, além de não andarem vestidas de bata, torço e saia, como está legalmente determinado, além de ser a tradição desde os primeiros anos após a libertação das escravas – afirma a presidenta da associação, Rita Santos.

Estima-se em cerca de 5 mil o número de baianas de acarajé, das quais mais de 800 somente em Salvador.

A adesão aos ritos estranhos às origens africanas pode ser verificada em uma caminhada pela avenida Sete, ligando o Centro Histórico ao bairro da Barra, tendo restado a baiana conhecida por Neínha, única adepta em todo o trajeto, do acarajé oferecido aos voduns Oyá Iansã e Xangô, guardiães da iguaria.

Embora sofrendo a erosão cultural de sua origem, o acarajé mantém sucesso de vendas e sabor, tendo o governo do Piauí investido recentemente na formação de 80 profissionais para tomar conta de tabuleiros em Teresina.


Fonte: Jornal A Tarde

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