Três brasileiros da Bahia e do Pará disputam prêmio de melhor cacau do mundo

Produtores estão entre os 50 melhores no Cocoa of Excellence, do Salon du Chocolat de Paris, considerado o mais importante evento de chocolate e cacau.

Por MARCOS FANTIN E ELIANE SILVA

Dois produtores de cacau da Bahia e um assentado do Pará colocaram suas amêndoas entre as 50 melhores do mundo e vão concorrer em outubro ao prêmio Cocoa of Excellence, do Salon du Chocolat de Paris, o mais importante evento de chocolate e cacau do mundo.

O evento, que foi cancelado no ano passado devido à pandemia, vai ter disputa neste ano, mas de forma virtual. Foram inscritas 235 amostras de todos os países produtores. Os vencedores serão conhecidos entre fim de outubro e começo de novembro.

O baiano João Tavares, que venceu o concurso internacional duas vezes (2010 e 2011), foi classificado com uma amostra de cacau catongo da sua fazenda Leolinda, de 340 hectares, que fica em Uruçuca. Tavares, filho e neto de cacauicultores, é o maior produtor do país do chamado cacau fino ou cacau gourmet. Foi o responsável por colocar o Brasil na rota mundial dos produtores de amêndoas especiais.

A segunda amostra classificada é de Angélica Maria Tavares, também de Uruçuca e mãe de João Tavares. Ela concorre com uma amostra da variedade FL 89 produzida na fazenda que leva seu nome.

Tavares explica que as duas amêndoas são extremamente distintas. "O catongo é uma variedade que não tem antocianina na composição, que é característica de quase todos os cacaus e dá a sua pigmentação roxa. Ele é uma amêndoa branca que possui notas de nozes, um pouco amendoado, de flor. Já o FL 89 é um cacau muito frutado, intenso, com notas muito fortes de ameixa passa e é extremamente saboroso."

"Esse reconhecimento coloca o Brasil no mapa do mundo do cacau de alta qualidade e traz oportunidades aqui dentro"

O produtor comemora o reconhecimento em estar mais uma vez concorrendo entre os melhores cacaus do mundo. "Já é um sentimento de vitória, os cacaus são maravilhosos e nós estamos muito confiantes para ter um resultado positivo."

Tavares ainda destaca a importância que o prêmio tem para o Brasil. "Isso coloca o Brasil no mapa do mundo do cacau de alta qualidade. Quando ganhamos, em 2010, ninguém falava do cacau brasileiro lá fora. Isso traz oportunidades aqui dentro", finaliza.

O produtor familiar paraense João Evangelista Lima vai competir com uma amostra híbrida paraense. Ele cultiva cacau no assentamento Turuê, um dos maiores da América Latina, com mais de 3 mil famílias assentadas, no município paraense de Novo Repartimento. A inscrição de Lima teve o apoio da Fundação Solidariedad, que incentiva os agricultores familiares a plantar cacau na sombra de árvores nativas.

"É uma sensação de felicidade saber que minha plantação é reconhecida. Tomara que esse prêmio fique nas nossas regiões e sirva como um incentivo"

João Evangelista Lima, produtor de cacau


Lima produz cacau há 18 anos, e há dois, o cacau fino, que o levou ao concurso. Ele acredita no potencial de plantio do Brasil, mas vê o agravamento dos problemas ambientais atrapalharem os produtores independentes.

“Nós temos tantos lugares que as pessoas plantam para manter seu padrão de vida trabalhando na roça, e sem precisar queimar, desmatar, derrubar mata. Acredito que os produtores precisam de mais incentivo, assim como a Fundação Solidariedad me auxilia, para poder plantar de forma sustentável, sem interferir no meio ambiente”.

O produtor afirma que hoje, 95% de sua renda vem da produção de cacau e comemora o sucesso de estar concorrendo ao prêmio internacional. “É muito gratificante estar entre os 50 melhores cacaus do mundo, é uma sensação de felicidade saber que minha plantação é reconhecida. Tomara que esse prêmio fique nas nossas regiões e sirva como um incentivo”.

“Este resultado demonstra todo o potencial que o país tem para se consolidar no mercado internacional de cacau premium. É o resultado do trabalho e da dedicação destes produtores em campo. Demonstra a força das nossas origens, uma vez que foram contempladas amostras do Sul da Bahia e do Pará", diz a bióloga Adriana Reis, doutora em biotecnologia e gerente de qualidade do Centro de Inovação do Cacau (CIC).

Segundo ela, cada amostra apresenta uma identidade singular e uma explosão de sabor que diz muito sobre o cacau do Brasil. O CIC mantém um laboratório no Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia, em Ilhéus, para análise de amêndoas de cacau, com foco na melhoria da qualidade.

A Bahia era o maior produtor brasileiro de cacau, mas foi superada pelo Pará nos últimos dois anos. Em 2020, registrou 144.663 mil toneladas, com uma produtividade média de 964 quilos por hectare, o que corresponde a 51,54% da produção nacional, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Bahia colheu 118 mil toneladas. No ano anterior, o Pará tinha colhido 130 mil toneladas.

Fonte Globo Rural

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