Fundação Palmares reconhece duas nvoas comunidades quilombolas na Bahia.

Duas comunidades quilombolas da Bahia tiveram reconhecimento da Fundação Palmares nesta quarta-feira (11).

Uma delas é a Mata Verde, situada em Bonito, na Chapada Diamantina.

A outra registrada é a de Ilha do Paty, em São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).


Segundo o G1, nos documentos, a Fundação certificou as comunidades como remanescentes de quilombos e instruiu os processos administrativos que autorizam as certificações.

A medida saiu no Diário Oficial da União desta quarta-feira (11), com base nas portarias da fundação do dia 22 de julho.

Nossa Visita a Ilha do Paty

Apesar do nosso trabalho no documentário Comida Aqui é mato, não se ater as especificações religiosas sobre a comida em quaisquer simbolismo religioso, mas em nossa visita ao Paty, é digno de nota a semelhança entre o rito teatro-musical das Paparutas com a sacralização do alimento nas cerimonias do candomblé.


Prosa das boas com Dona Zilda, iniciadora e matriarca da comunidade da Ilha do Paty, na época com seus 79 anos de idade e muita sabedoria.

Iniciadora da Paparutas.

visita técnica à Ilha do Pati, para a preparação do Documentário#ComidaAquiéMato. 

Foto: Jon Lewis

Vamos as fatos, ao chegarmos ao Paty, fomos informados de que ha três anos mais ou menos a "comedia", bom ater-se a este grifo, não era encenado na ilha, segundo as moradoras, um dos problemas eram a falta de um "cachê" para a sua preparação, fato é que a encenação vem sendo feita à convite em outros locais, como feiras turísticas ou universidades como uma demonstração puramente artística.

Outro dado registrado em nossa pesquisa, foi o fato de, segundo as próprias moradoras, não haver nenhum candomblé no local, nem pessoas que pratiquem na ilha, fazendo referencia a uma pessoa que já havia morto, como sendo a unica que se relacionava com a religião. 

É importante registrar que na ilha, existe uma igrejinha em honra a *São Roque (Omulu ou Obaluaiê no sincretismo), e três igrejas pentecostais, o que me leva a crer na possibilidade da perda das referencias religioso\cultural, se não, de forma impositiva sabendo de como pensam as igrejas pentecostais quanto aos preceitos do candomblé.

(*São Roque é considerado na religião católica como o protetor das doenças, na Bahia, sincretizado com Obaluaê, aparece como uma forma encontrada pela comunidade em sua formação para amenizar os males que lhes afligiam, tendo a devoção ao santo padroeiro permanecida ano após ano, através do hábito de fazer promessas e da realização de uma festa religiosa. 

São Roque é considerado na religião católica como o protetor das doenças, na Bahia, sincretizado com Obaluaê, aparece como uma forma encontrada pela comunidade em sua formação para amenizar os males que lhes afligiam, tendo a devoção ao santo padroeiro permanecida ano após ano, através do hábito de fazer promessas e da realização de uma festa religiosa. A devoção aos santos no Recôncavo Sul tem sua tradição desde o século XIX. 

Em estudo sobre a epidemia da cólera na Bahia oitocentista, Onildo Reis David também aponta o recorrer aos santos como um costume dos baianos para resolver os problemas e salienta dentre as devoções o culto a São Roque de forma coletiva no município de Cachoeira-Ba, Recôncavo Baiano, no qual as pessoas preferiam acreditar no poder de cura do santo a seguir as recomendações médicas para a prevenção da cólera. )



Em seu texto "A Cozinha dos Deuses-Candomblés e Alimentação" 1950 Roger Bastide faz algumas colocações importantes sobre a consagração do alimento no culto: Os alimentos que devem servir aos Deuses e aos fieis só poderão ser servidos depois de consagrados; e a cerimonia preliminar de croiciner, que se realiza sobre uma esteira coberta por um pano branco(talvez o mesmo eni-alá do Brasil).  Eni- ( Nome dado à esteira de palha utilizada pelos neófitos, sobretudo durante o período de reclusão. É empregada como "mesa", "cama" e "tapete" em distintos Ritos. No candomblé é usual a expressão "irmãos-de-esteira" para designar o conjunto de neófitos reclusos ao mesmo tempo, e que eventualmente tenham partilhado esse artefato simbólico na liturgia da iniciação.)


Depois a comida é cozida num fogo de sacrifício e oferecida primeiro aos voudous ou a seus vevês, isto é aos desenhos simbólicos desses vodous feitos no chão com farinha.

A consagração da comida aparece sobretudo em certas cerimonias particulares, como festa do Inhame novo, na sua forma mais antiga, por Manuel Querino(Querino. 1938)


Apesar de ganhar notoriedade local, regional e nacional mais recentemente, trata-se de um movimento cultural secular, tem a missão de manter viva a tradição de preparar pratos típicos da cozinha africana, como o acarajé, caruru, frigideira de siri, moqueca de camarão, peixe frito e o feijão fradinho. Após preparar as iguarias, elas saem de casa dançando ao ritmo dos tambores com os pratos na cabeça em direção à pequena praça, onde todos os moradores da comunidade, já as aguardam para começar a festa. 


No centro da roda fica uma Paparuta, localmente chamada Aiá ou a dona da cozinha, que vem sempre vestida de branco, dançando com uma colher de pau na mão e um grande caldeirão e tem a função de acompanhar, fiscalizar e experimentar as guloseimas que serão ofertadas aos presentes. 


É este importante personagem figura como central no folguedo e tem a função, dentre outras atribuições, de provar e aprovar ou não os pratos, que lhe são apresentados pelas demais. Importante aqui salientar que, apesar da centralidade de Aiá todas as demais integrantes, também tem importância singular no evento, como forma de enfatizar a irmandade e solidariedade ente os componentes do grupo."



"A mão da iabassê é sagrada, são mãos delicadas e poderosas que preparam o alimento. Mãos que merecem louvores. 

O respeito e abnegação desta senhora pelas divindades e por quem nelas acreditam é tanta que nos inspira a bondade. Nas casas de culto, do simples chá de ervas ao mais elaborado prato a ser servido, tudo isso faz parte da generosidade dessa Aiá"



Sobre o texto acima encontramos o termo Aiá, proferido por elas mesmas, que imagino fazer referencia a iabassê, a mãe da cozinha e senhora de toda a cozinha; a Iyasinje é a cozinheira; e a Iyajemin é quem armazena e distribui a comida.


Outro dado que devo registrar aqui, é sobre a escolha da Aiá, que chamou a atenção do Jon e a mim, e para isso volto a Bastide, quando fala sobre as Iabassês, (normalmente mulheres mais velhas ou que já tivessem no período da menopausa(sabe-se que os africanos têm respeito, misto de medo, pelo sangue menstrual. Bastide).

Segue: esta é exatamente a expressão que encontrei no Nordeste para justificar a existência de mulheres sacerdotes, "virar homem".


O que nos chamou a atenção, é a mulher escolhida para Aiá, claramente  de opção homossexual. 


Um outra referencia citada por elas,  foi sobre o chegada das "Comedias" ao Paty, Dona Zilda (79 anos),  falou que foi levado por sua tia, a pesar de não ter nenhuma fonte documental( TRADIÇÃO ORAL) segundo ela era uma forma de se divertir nas preparações durante toda a noite.

Sabemos que muito destes festejos eram estimulados pelos senhores de engenho na época da escravidão, numa forma negociada de diminuir as tensões e fuga dos escravos. 

Ainda sobre as "Comedias" eram em torno de 12, sendo uma delas a apresentação da "Frutas" ( ou seja, mais uma vez a sacralização do alimento) outro elemento muito simbólico no Candomblé, as civilizações africanas, desde os primórdios realizavam festas para "dessacralizar" os frutos da terra, ou melhor para colocarem o presente dos ancestrais, num nível que pudessem ser tocados pelos humanos, a partir da concepção de que tudo que sai da terra pertence a esta, e é tão sagrado quanto a mesma.


Sobre a etnologia do nome Paparutas.


Segundo descrição do dicionario Iorubá PARU – panela (Vd. TASÁ)


Papar no linguajar popular, significa comer, mas se estendermos um pouco, Papar pode se a "Papa" comida mole servida aos orixás,  refere-se também aos mingaus e a utilização dos farináceos na cozinha dos caçadores, guerreiros e comunidades anteriores ao desenvolvimento e a domesticação de algumas plantas.

O termo vem do nome paparota que significa de papar, comida, refeição, de acordo com líder comunitário Altamirando de Amorim, como as pessoas da comunidade chamavam 

As Paparutas, manteve-se o nome As Paparutas Boas que, no entendimento local dizem ser Comidas Boas. 

Alicio Charoth


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