Estudante quilombola da UFTM triplica produção de milho após juntar conhecimentos da família com os adquiridos na Universidade

Por Maria Júlia Araújo

Com os resultados, Guilherme Silva Xavier deseja mostrar que é possível viver no campo e preservar os laços das comunidades. Propriedade da família dele fica no município de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha.

Guilherme tem 21 anos e mora na comunidade quilombola São Pedro Alagadiço, localizada no município de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha. Em uma conversa com a família, o estudante convenceu os pais a investirem na plantação e, com a ajuda do professor Aguinaldo José Freitas Leal, começou a analisar o solo da propriedade.

“Após receber os resultados, identifiquei que o fator limitante era a relação cálcio e magnésio. Junto com meu pai, fiz a aquisição de calcário e realizei a aplicação na terra, seguindo os conhecimentos que adquiri na universidade”, explicou.


Ele ainda contou que a plantação de milho é uma tradição na comunidade desde seus antepassados e que, para alcançar os resultados desejados, foi preciso unir os conhecimentos da família com os do curso de Agronomia. No fim, ele disse que a produção superou as expectativas.

“Quando fiz os cálculos, previ que conseguiríamos 100 sacas por hectar, meu pai nem acreditou que isso seria possível em apenas um ano. Ainda assim, o resultado nos surpreendeu. Conseguimos ir de 40 sacas para 120 sacas por hectar. Foi uma alegria imensa”, contou orgulhoso o estudante.

Segundo Guilherme, o trabalho foi feito em família. Antes dos investimentos, a propriedade contava com um cultivo tecnificado, porém, não eram realizados alguns procedimentos. “Nós não tínhamos um controle de pragas e ervas daninhas eficiente e nem fazíamos uma rotação de cultura adequada”, relatou.

Agora, com esse resultado, o objetivo do estudante é continuar investindo na propriedade e ajudar não apenas a família, mas toda a comunidade local. Ele contou que quer mostrar que a agricultura familiar é possível e que tem como morar no campo com uma condição de vida adequada.

“Hoje a gente vê muito o êxodo rural. Muito disso é devido a falta de conhecimento sobre o aperfeiçoamento das condições de cultivo. É possível continuar na comunidade e preservar os laços que criamos aqui. Para nós, quilombolas, é importante manter essa tradição e garantir que ela não se perca”, destacou o futuro engenheiro agrônomo.

Ele ainda contou que o plano é, junto com a Universidade, desenvolver projetos de assistência técnica, para assim, agradecer a toda a população e a comunidade quilombola por ter a oportunidade de estar em uma instituição federal de ensino. Por fim, o agradecimento de Guilherme vai para a família.

“Agradeço muito aos meus pais, pela parceria, pela motivação e por estarem sempre me ajudando. A gente não consegue nada sem o apoio da família”, finalizou.

Conheça o projeto que Guilherme faz parte

Guilherme faz parte de uma turma na qual é realizada a pedagogia de alternância. Neste modelo, os alunos são preparados para desenvolver o aprendizado da Universidade, nas comunidades em que habitam.

O processo é realizado junto ao corpo docente e a coordenação pedagógica do curso. “São desenvolvidas em todas as etapas, propostas de ensino a serem desenvolvidas nas comunidades de origem dos discentes”, informou a coordenadora pedagógica, Luci Aparecida Souza Borges de Faria.

O futuro engenheiro agrônomo contou que foi sob essa metodologia que ele encontrou a liberdade de aplicar o conhecimento técnico e científico na agricultura familiar. “Vejo um potencial enorme na pedagogia de alternância e nas metodologias de ensino voltadas a esse tipo de cultivo”, destacou.

Fabiano Moreira Xavier, pai de Guilherme, aposta que o sucesso poderá estimular a comunidade. “Foi muito satisfatório quando vimos que o milho estava rendendo aos montes e eu fiquei muito feliz em ver a satisfação do Guilherme quando chegou em casa e viu a quantidade de sacas da produção. E isso é muito importante porque incentiva outros produtores a fazerem um trabalho em sua propriedade para também aumentar a produção. O Guilherme já está querendo aumentar ainda mais nossa produção", diz Fabiano.

Fotos: Guilherme da Silva Xavier/curso de Agronomia do Pronera




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