Experiência e quitanda são ativos do ‘novo turismo’

Visitantes passam a buscar cada vez mais conexão, história e sabores em Minas.

Entre um pulo na cozinha para pegar o cuscuz doce, o biscoito de polvilho e os doces de calda e uma “corrida de olho” no forno, para de lá vir fumegando a broa de melado, Yolanda Silva, 54, compartilha com os turistas patrimônio imaterial. Um bem valoroso, sem preço, porque não está à venda. Sentados ao pé do fogão à lenha, os visitantes ouvem as histórias de Santo Antônio do Salto, distrito de Ouro Preto, na região Central de Minas e dos antepassados da quitandeira, em uma troca de sabores e ancestralidade.  

O café da tarde na casa de Yolanda, juntamente com os passeios nas trilhas do distrito, faz parte de um roteiro baseado no “turismo de experiência”, uma aposta em tempos de pandemia. Alinhado ao ecoturismo, essa forma de conhecer novas paisagens pressupõe envolvimento com as pessoas do local, num intercâmbio cultural de vivências.  

Yolanda faz parte do grupo de culinária responsável pela produção das delícias do Festival de Quitandas de Santo Antônio do Salto, cancelado em 2020 e neste ano, por causa da Covid-19. “Ficamos muito abaladas, até entendermos essa possibilidade. É um recomeço”, comemora, com saudade da festa, que tinha música e concurso de quitandas. “O festival mudou nossas vidas, o contato com as pessoas de fora, que veem e valorizam nosso trabalho”, relata. 

Segundo o IBGE, a cultura e o turismo de natureza motivaram mais de 60% das viagens de lazer no Brasil em 2019. A potencialidade desse nicho cresceu com a busca por lugares tranquilos e seguros – uma forma escapar de aglomerações e do estresse provocado pelo distanciamento social.  

Assim como as quitandeiras do Salto, Sebastião Santana, 57, do distrito de Santa Rita de Ouro Preto, reinventou sua forma de ganhar a vida com o turismo de experiência. Antes, ele achava que seu negócio era a venda das hortaliças, verduras e legumes de sua horta. Hoje, o agricultor compreende que seu ofício é encantar os turistas com suas experiências, seu conhecimento do saber fazer, dos modos de vida e de expressão.  

“O que a gente leva da vida são os bons momentos”, resume Sebastião. Com a suspensão da feira livre de Ouro Preto, o agricultor conseguiu manter a receita também por ter migrado para o comércio online, com grupos no WhatsApp. “Veio o desafio, e temos que ter criatividade para não ficar por baixo”, diz. Hoje, ele investe no sítio, com a construção de quartos para hóspedes e um escritório. “Era um sonho antigo e já estamos correndo atrás do selo de orgânico”, acrescenta.  

Professor do Instituto de Geociências da UFMG, Bernardo Gontijo vê no turismo de experiência mais que uma tendência. “É uma chance de ouro para revertermos alguma coisa nesse planeta. Conhecer lugares de uma maneira aprofundada, numa postura, de fato, ecoturística. Vale a pena fazer essa autodescoberta”, avalia. 

Festas tradicionais ganham roupagem nova na retomada 

Após uma edição digital, o Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes volta ao formato presencial. O principal festival gastronômico de Minas Gerais terá sua próxima edição entre os dias 18 e 26 de setembro e promete contar com cozinheiros famosos de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os menus serão servidos somente nos cerca de 30 restaurantes participantes, e não mais nas ruas e praças. “A gente está trabalhando constantemente com esse ambiente adverso”, diz Rodrigo Ferraz, organizador do festival, que ocorre no Campo das Vertentes. “As dificuldades continuam. Só em 2022 teremos todas as condições tranquilas”, diz.  

Aulas, palestras, bate-papos e apresentações culturais continuam sendo realizadas somente no meio virtual. A defesa pelo tombamento da cozinha mineira como patrimônio imaterial será debatida durante o evento. “A edição será híbrida em respeito à cidade e para evitarmos aglomeração”, diz.  

Itabirito é principalmente conhecido pelo Julifest e pela tradicional Festa do Pastel de Angu, bem imaterial da cidade. Na última edição do festival de julho, ocorrida em 2017, as 22 barracas participantes arrecadaram mais de R$ 1,5 milhão. Os hotéis da cidade atingiram média de 70% de ocupação nos quatro dias de comemoração.  

O evento não ocorreu em 2018 e 2019 por causa do risco de rompimento de barragens de rejeitos de mineração e, a partir de 2020, por causa da Covid-19. “É um evento de abrangência regional e, neste ano, migramos para o online, com foco e infraestrutura menores. A programação trazia grandes nomes e agora priorizamos a classe artística local, muito impactada pela epidemia”, diz a diretora de Turismo da cidade, Rosilene Martins. 

Fonte: O Tempo




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