Bas'Ilele Malomalo: espiritualidade africana e Paulinho nas Olímpiadas

Desde que saiu da aldeia Idumbe, na República Democrática do Congo, onde nasceu, tudo o que o professor Bas'Ilele Malomalo faz tende para uma conexão com a sua ancestralidade, conforme ele próprio destaca. O filósofo, teólogo e terapeuta da espiritualidade africana já lecionou no Ceará e hoje mora em Salvador, na Bahia, onde é professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab)

Em julho, o ativista dos direitos do Ubuntu-Maat-Kalunga e diretor internacional da Comunidade Madinatu Munawara estreou sua coluna no jornal O POVO , onde deve trazer mensalmente os conteúdos da África continental e diaspórica.

Por LAIS OLIVEIRA 13 DE AGOSTO DE 2021

O pesquisador avalia o espaço ocupado no jornal como importante para valorização negra e africana no Ceará e no Brasil. 

Mas faz questão de ressaltar que será uma coluna feita coletivamente , jamais de forma individual. “Eu não ando sozinho, eu tenho um povo andando junto comigo”, explica.

Em entrevista, Bas'Ilele comenta sobre as singularidades das espiritualidades africanas e discute a representatividade das religiões de matriz africana, além dos caminhos para o combate ao racismo religioso.

Ainda, aproveita para mandar muito Axé para o jogador Paulinho, que manifestou publicamente gratidão ao seu orixá, Exu, durante a campanha olímpica vitoriosa do Brasil em Tóquio. “Mais gente deve agir como o Paulinho, dar visibilidade às culturas que formam este País, mas que são discriminadas”, salientea.


O POVO - A espiritualidade africana sempre foi algo muito presente na sua vida?

Bas'Ilele Malomalo- Minha relação com a espiritualidade africana vem do lugar onde nasci, da minha linhagem, meu pai, Ilel'a Djoyidjoyi, e minha mãe, Basambolo Ngone. A primeira espiritualidade começa, numa concepção africana, quando duas famílias se cruzam. Nasci numa aldeia chamada de Idumbe, em 1973, e quando se nasce numa aldeia estamos ligados com tudo. E isso é uma conexão com a Comunidade-Sagrado-Ancestral, a Comunidade-Universo-Natureza e a Comunidade-Bantu. Essa conexão é muito cedo com rios, com a natureza, com os tambores. Mas ao longo do caminho, por causa do colonialismo, nossa família foi posta no cristianismo, mas mesmo assim compatível com a espiritualidade tradicional.

Ao longo da minha formação, vou entrar em contato com o acadêmico, além dessa vivência familiar. Sou um cidadão do mundo. Com quatro anos mudei para a capital da República Democrática do Congo (Kinshasa). Depois, de 1997 a 1998, morei em Moçambique. Em 1999, cheguei no Brasil, em São Paulo, para fazer meus estudos de teologia. Na época, estava numa instituição religiosa católica, onde estava quatro anos estudando. Depois dei outra direção para minha vida, para constituir minha família e fazer meus estudos.

Na época, eu também desejava ser professor universitário. Então entrei no mestrado da Universidade Metodista para fazer Ciência da Religião, entre 2003 e 2006, e ainda em São Paulo fiz doutorado em 2010. Dali, passei no concurso na Unilab [Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira] em 2012 e me mudo para o Ceará, onde morei de 2012 até 2015.

No final de 2015, me mudo para Bahia por causa da Unilab, que tem um campus aqui. A partir de 2019, fui iniciado dentro da espiritualidade africana, a partir do meu mestre Sheik Dadiara Modibo, conhecido por Grand Papa. Desde o Congo até aqui tudo o que faço tende para essa espiritualidade, para proporcionar vida e promover a vida. Isso é espiritualidade.

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