Laranjinha Celeste, a “cachaça azul” de Paraty, feita partir das folhas da tangerina.

Paraty é um dos muitos lugares no Brasil onde o destilado teve papel importante na economia e na criação da identidade local.

Menos de dez alambiques da cidade fluminense, que já teve mais de 400 deles, ainda usam rodas-d'água para mover moenda.


A aguardente composta Laranjinha Celeste é produzida e engarrafada no Sítio Santo Antônio em Paraty (RJ), no mesmo alambique onde é fabricada a cachaça Maria Izabel.
azulada, por exemplo, é uma das mais interessantes.
Colocam-se folhas de tangerina dentro do destilador e obtém-se assim uma cachaça com o mesmo gosto da "normal", mas com um aroma de tangerina e um leve tom azulado.

O rótulo é muito bem elaborado, não traz informações sobre a graduação alcoólica e a característica da bebida, a garrafa contém 275 ml.
Laranjinha Celeste não é uma Cachaça, como utiliza folhas de mexerica no processo de destilação passa a ser uma aguardente composta de acordo com a legislação brasileira. Essa bebida é apenas comercializada diretamente no alambique, foi o que relatou a proprietária Maria Izabel.

A aguardente é límpida, escorre bem na borda do copo, é levemente azulada característica da destilação com casca de mexerica. No nariz vem o cheiro da cana, uva e a mexerica. O sabor é agradável, com uma certa acidez, no retrogosto percebe-se a mexerica.

Segundo Luiz Antônio Tedesco, desde o seu nascimento, em 1607, parece que o destino de Paraty, já estava traçado, pois, se, como defendem muitos de seus apreciadores, a cachaça é um santo remédio, nada mais apropriado do que a cidade cujo nome também é sinônimo da bebida tenha surgido em torno da igreja de Nossa Senhora dos Remédios -e com o nome de Vila de Nossa Senhora dos Remédios. Daí para se tornar uma grande produtora de pinga foi uma questão de (pouco) tempo.

No século seguinte, Paraty já contava com quase 400 alambiques. "O que segurou economicamente Paraty nos séculos 18 e 19 foi o movimento do porto e a produção de aguardente, que era usada como moeda para a compra de escravos na África", conta o historiador Diuner Mello, explicando também que o nome "paraty" como sinônimo de cachaça começou a ser usado já no século 18. 
Hoje, ao turista que quer conhecer o sabor dessa história, resta menos de uma dezena de alambiques. Cada qual guarda sua singularidade, mas, em comum, quase todos mantêm a tradição de usarem a mesma fonte de energia para mover suas moendas.
Enormes rodas-d'água alimentadas por pequenos cursos de água desviados de rios movimentam as moendas nos engenhos. São um espetáculo à parte, que remete à época em que a cidade iniciava a produção do destilado. E, vizinhas aos alambiques, freqüentemente estão as casas de farinha, movidas também a energia hidráulica e com um sistema de engrenagens muito peculiar, com peças e rodas de madeira e correias de couro e borracha fazendo a transmissão.
Se foi uma das precursoras na produção de pinga no país, Paraty também inovou ao criar alguns tipos característicos da bebida.

De São Vicente, a cana-de-açúcar foi trazida para o litoral do Rio de Janeiro ainda no século XVI. Em Paraty, com mão de obra escrava de africanos e índios guaianás, a cana era plantada nos morros, onde as chuvas constantes não proporcionaram condições favoráveis para a produção do açúcar. Foi então que encontram na fabricação da aguardente de cana uma alternativa para movimentar a economia local.

Não se sabe exatamente quantos alambiques havia na região no período do Ciclo da Cana-de-Açúcar, mas o uso da cachaça como moeda de troca por escravos na África e a participação de produtores de aguardente em conflitos históricos do século XVII, nos fazem supor que a fabricação do destilado já tinha grande importância econômica e influência política no Rio de Janeiro.

O conflito mais relevante da época foi a chamada “Revolta da Cachaça”. Em 1660, para inibir a produção da cachaça e valorizar a comercialização da bagaceira europeia, Portugal estabeleceu um excessivo imposto cobrado dos fabricantes da aguardente do Rio de Janeiro, que insatisfeitos com a taxação, se rebelaram contra a Metrópole. Aproveitando o levante, neste mesmo ano, Paraty começa uma série de movimentos buscando sua emancipação de Angra dos Reis e sua elevação à categoria de vila. Alguns anos depois, com apoio dos produtores de cachaça, ela se estabelece como “Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty”.

Hoje existe uma versão atual de um dos destilados mais famosos do período colonial, que leva folhas de laranjeira no processo de fabricação, dando uma cor azulada e um aroma cítrico à aguardente – um belo exemplar de bebida cheia de histórias e sabores – características próprias do destilado brasileiro.

O site Mapa da Cachaça fez um detalhado levantamento dos destilados à base de folhas, nela pode-se conhecer a história da Laranjinha Celeste.


A História das Cachaças de Paraty

A produtora Maria Izabel, de Paraty, possui diversos rótulos de cachaça que passam por madeiras como o carvalho e o jequitibá. Uma de suas produções mais tradicionais é a famosa Laranjinha Celeste, produzida pelo acréscimo de folhas de mexerica ao caldo de cana-de-açúcar fermentado no momento da destilação. Seguindo a legislação, Maria Izabel rotula suas Laranjinhas como aguardentes compostas.

Azuladinha de Paraty-Cachaças Maria Izabel

Com mais de um século de história, a Azuladinha de Paraty é uma cachaça destilada com folhas de tangerina – fazendo com que a aguardente ganhe uma cor azulada contra a luz. Segundo o livro Cachaça, Prazer Brasileiro, de Marcelo Câmara, a primeira versão da Azuladinha – que hoje só existe em coleções e acervos de degustadores – ganhou, em 1908, a Medalha de Ouro da Exposição Nacional do mesmo ano. Atualmente, versões da bebida são produzidas por engenhos de Paraty, como o Engenho D’Ouro, e sua história faz parte da tradição cachaceira da cidade. A bebida tem tamanha importância histórica que está enquadrada com a Indicação Geográfica de Paraty concedida pelo INPI.

Cada produtor de Paraty tem sua própria receita. A Maria Izabel diz usar flores e folhas da tangerina. Já a Azuladinha da Coqueiro foi a primeira formalizada da cidade e, além de carregar as características cítricas da planta, tem também com base aquele aroma e sabor típico da cachaça paratiana.


Há ainda no mercado os licores de fruta que podem ter cachaça como base, mas pela legislação devem ser chamados de licor porque além de terem frutas como matéria-prima no preparo há também adição de açúcar.

O objetivo desse texto é valorizar os produtores de cachaça que estão dentro da lei. Ao comprarmos essas cachaças que se enquadram nas regras, temos menos chance de consumirmos um produto inferior, que inclusive pode ser prejudicial à saúde. Provavelmente, ou pelo menos assim deveria ser, produtos que levam indevidamente cachaça no nome não possuem registro no Ministério da Agricultura e não deveriam estar expostos em prateleiras para consumo.

Além de ajudar os consumidores, buscamos instruir também os produtores que não conhecem os detalhes específicos da nossa legislação. Para quem busca mais detalhes, compartilhamos aqui as principais leis, decretos e instruções normativas relacionadas ao mercado da cachaça.


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