Os 100 anos da ‘morte’ de um ruidoso movimento de vanguarda
Movimento modernista conhecido como dadaísmo se difundiu pela Europa a partir de 1916, e teve vida curta - mas enorme influência na arte.
Por Gabriela Caputo
O poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963) dizia que, assim como tudo na vida, o dadaísmo era inútil. O movimento artístico de vanguarda, do qual Tzara foi um dos fundadores, floresceu na Europa em 1916, durante a I Guerra Mundial. Mais precisamente, o dadaísmo nasceu do encontro de artistas na casa noturna conhecida como Cabaret Voltaire, em Zurique, na Suíça. Com a mesma determinação com que foi iniciado, o movimento vanguardista teve sua morte proclamada poucos anos depois, em 22 de maio de 1922 — a data completou 100 anos neste domingo, 22. Em um festival que acontecia na escola de arte Bauhaus, em Weimar, na Alemanha, artistas e escritores dadaístas encenaram um funeral que decretou o fim da tendência.
Também conhecido como “dadá”, o movimento integrou as chamadas vanguardas europeias, desenvolvidas no continente no início do século 20. Futurismo, cubismo, surrealismo, expressionismo: todos eles buscavam romper com as tradições e encontrar novos significados para a arte.
No contexto histórico, a Europa experimentava as consequências da Segunda Revolução Industrial, com a popularização de grandes invenções, o aumento do consumo e o crescimento das cidades – logo, a transformação do ritmo de vida.
A arte, como sempre fez desde os primórdios da humanidade, precisava se reinventar para entender esse novo mundo que se delineava.
Apesar dos avanços, o ambiente de efervescência tecnológica também tinha nuances negativas: o desenrolar da I Guerra e suas sequelas massivas não escaparam ao olhar dos artistas.
Dentre as vanguardas, o dadaísmo era o mais crítico. A catástrofe experimentada no continente era, para os membros do movimento, resultado da própria civilização. Seu propósito, por extensão, era rejeitá-la e criar uma “antiarte”.
A negação dos valores, da tradição e da lógica eram as características principais do dadaísmo. Ao lado de Tzara, foram nomes proeminentes dessa turma o escritor alemão Hugo Ball (1886-1927) e o escultor franco-alemão Jean Arp (1886-1966).
Um visitante observa a mais famosa obra do artista francês, Marcel Duchamp, intitulada ‘A Fonte’, na Galeria Nacional de Arte Moderna, em Edimburgo, na Escócia Jeff Mitchell/Getty Images
A orientação irônica, provocadora, e até mesmo absurda do dadaísmo gerou obras orientadas pelo caos e por elementos de pouco valor. Grande exemplo é a famosa Fonte (1917), do francês Marcel Duchamp (1887-1968), que consiste em um mictório – hoje um ícone que marca a passagem do modernismo para a arte contmporânea.
O dadaísmo influenciou e deu lugar a uma outra vanguarda que se seguiu e bebeu de suas ideias, o chamado surrealismo. Meses antes do fatídico funeral, o escritor francês André Breton (1896-1966), um dos pais do movimento surrealista e antes associado ao dadaísmo, entrou em conflito com o então amigo Tzara. Ele declarou guerra ao dadá e, com uma declaração pública intitulada “Depois do dadaísmo”, deu os primeiros passos na criação dessa nova tendência, que tomaria forma em 1924 com o Manifesto Surrealista.
5/5 O artísta francês Marcel Duchamp (1887-1968) precursor do Dadaísmo, foto de 1959. (Foto: Michel Sima/Getty Images)
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