Conexão Natureza e Ancestralidade

O primeiro tema abordado por Lévi-Strauss em Mito e Significado é sobre a relação entre mito e a ciência.

Segundo ele, o pensamento mítico como outra linguagem, também seria pleno de significado. 

Famosos na história da etnologia brasileira por terem sido contatados 'oficialmente' pelo Marechal de Campo Rondon e estudados pelo renomado antropólogo Claude Lévi-Strauss, os Nambiquara hoje vivem em pequenas aldeias nas cabeceiras dos rios Juruena, Guaporé e (anteriormente) Madeira .



Caracterizando melhor esta fratura, o autor afirma que o depreciamento da mitologia, por parte do pensamento científico, foi operado durante os séculos XVII e XVIII, quando a matemática e o pensamento abstrato tomaram forma na mão de alguns filósofos como a linguagem mais apropriada para tratar da realidade em detrimento de explicações que recorressem aos dados sensoriais, como no caso do pensamento mítico.

Esta relação distanciada, não para o autor, entre a ciência e o mito seria resultado de um movimento operado no pensamento científico com o objetivo de afirmá-lo como forma de conhecimento.

Para ele, a antropologia devia buscar, por trás da diversidade da espécie humana, o que ela tem de universal.

Essa busca, porém, não poderia se basear em preconceitos ocidentais. Era preciso romper com as teorias evolucionistas do século 19, segundo as quais as sociedades ditas “primitivas” representam estágios ultrapassados pelo Ocidente no caminho do progresso. A saída era comparar as mais variadas sociedades em busca das chamadas “invariantes”, aquilo que todas têm em comum. Por exemplo: o tabu do incesto, a capacidade de comunicação, a necessidade de preparar os alimentos e a interação com a natureza.

Para Lévi-Strauss não há descontinuidade entre a ciência moderna e a ciência selvagem, mas, no futuro, as duas convergem para o mesmo ponto, indo além na justificativa que esses povos encontram na organização da sua vida prática, no gosto pelo conhecimento objetivo, e que o conhecimento subjetivo, faz parte da sua forma de organização de pensamento, que há uma formulação intelectual, que esses povos estabelecem métodos de comparação entre o pensamento científico e o primitivo, o que não quer dizer igualdade, mas identificam as diferenças.


Diga "Claude Lévi-Strauss", as pessoas respondem "estruturalismo". Certo, mas ele tem sido também, e de forma bastante consistente, um defensor solitário de uma perspectiva naturalista e mentalista na antropologia.

O estruturalismo levou os filósofos a desenvolver uma nova ontologia – isto é, a redefinir o que significa ser diferente e idêntico, único ou múltiplo, sucessivo ou contemporâneo. O estruturalismo também obrigou os filósofos a reconsiderar a própria natureza do sentido e da subjetividade – o primeiro destronado de sua posição de fim de todo ato significante, para acabar como mero efeito, e o segundo deslocado de sua posição de origem, para ser analisado como uma função. 

E essa tarefa não se limitava a questionar a coerência interna das construções herdadas de uma determinada tradição filosófica: também tinha o potencial de reorientar a prática de toda uma gama de atividades, em história, teoria literária, sociologia, linguística, psicanálise, marxismo, etc.

Podemos ver claramente como os povos originários se organizam na preservação da natureza.

"Há falsa crença que os indígenas só nomeia em função das suas necessidades imediatas", está é a chave de entendimento do Antropólogo, no texto "A ciência do concreto", ele entende que esses grupos trazem para sua realidade linguística conceitos abstratos, e muito mais harmônica com sua natureza.

O que vai de encontro com as formas encontradas pelas sociedades Ocidentais, que se fundam no progresso e desenvolvimento desenfreado, na destruição dos recursos naturais, e que atua para manter somente suas necessidade imediatas e interesses econômicos, porque é tão predatório se pergunta Lévi-Strauss.

A contradição, é que essas sociedades, exibem esse " desenvolvimento" apartir de um discurso e uma bandeira civilizatoria, enquanto as ditas primitivas, o fazem por exemplo com plantas e animais, apartir de conhecimentos organizados sistematicamente, da sua organização taxonômica, do estabelecimento de suas funções e usos, de como esses elementos farão parte do seu cotidiano.

Então muito cuidado ao julgar esses grupos que foram postos a margem, pois eles sinalizam uma forma diferenciada, que não parte somente dos seus interesses de exploração.

O que vemos aqui é uma inversão do suposto, diz Lévi-Strauss:

As espécies animais e vegetais, são conhecidas não porque são úteis ou interessantes, e sim, porque se declaram primeiro, que são úteis e interessantes, é que se fazem conhecidas. (Lévi-Strauss, 1989, p. 24). 

O antropólogo vai além, colocando o pensamento selvagem no mesmo patamar do pensamento domesticado ocidental:

Cada civilização tende a superestimar a orientação objetiva de seu pensamento; […]. Quando cometemos o erro de ver o selvagem como exclusivamente governado por suas necessidades orgânicas ou econômicas, não percebemos que ele nos dirige a mesma censura. (Lévi-Strauss, 1989, p. 17).

Esta é a razão porque devemos estar conscientes de que se tentarmos ler um mito da mesma maneira que lemos uma novela ou um artigo de jornal, ou seja, linha por linha, da esquerda para a direita, não poderemos chegar a entender o mito, porque temos de o apreender como uma totalidade e descobrir que o significado básico do mito não está ligado à sequência de acontecimentos que narra, mas antes, se assim se pode dizer, a grupos de acontecimentos, ainda que tais acontecimentos ocorram em momentos diferentes da história. (Lévi-Strauss, 1978, p.42)


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