Povos indígenas celebram colheitas do mês de junho com festas tradicionais
Mungunzá, canjica, beiju, aluá, bolos, danças e encontros com a espiritualidade marcam as festas da época das colheitas realizadas pelos povos indígenas, todo mês de junho.
Em meio à pandemia, lideranças de diversas etnias adaptaram o formato de suas celebrações para seguir realizando seus rituais e se fortalecendo nos costumes e tradições de seus ancestrais.
“Estas celebrações nos fortalecem para seguirmos firmes nas lutas pelo território e para manter viva nossa cultura”, destaca a assistente técnica da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (Ceppir) da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), Ceiça Pitaguary. Não abrimos mão de celebrar, mesmo que de forma restrita ou remota. As nossas festas de colheita representam alegria e fartura na mesa das famílias indígenas”, destaca Ceiça, ao rememorar a festa da Mangueira Sagrada do povo Pitaguary, que volta a acontecer depois de uma pausa de cinco anos.
“Em um ano tão assustador, vamos pedir forças aos nossos encantados para seguirmos firmes na caminhada. Vamos também homenagear nosso querido Cacique Daniel Pitaguary, que tanto lutou pela demarcação das nossas terras e tanto se esforçou para que fossem implantadas as politicas que hoje temos aqui e que beneficiam todo o nosso povo”. A festa é realizada ao redor da mangueira sagrada, uma grande árvore que fica no centro da aldeia Santo Antônio, localizada entre Maracanaú e Pacatuba, e que representa a retomada e a conquista do território do povo Pitaguary na década de 90.
Na aldeia Japuara, em Caucaia, está o povo Anacé, que todos os anos realiza a festa “Plantar na Mata”. A festa é um cortejo que segue do cemitério até a retomada de São Sebastião, um local sagrado onde foi enterrado o Cacique Antônio Ferreira, e que representa a reconquista do território. “No ritual, realizamos o plantio de grãos e legumes, dançamos o toré, rezamos um terço adaptado a nossa cultura e fazemos os comes e bebes, lembrando ao nosso povo que devemos plantar e não sepultar, e devolver sempre à terra o que é dela, esperando que surjam assim, novos guerreiros”, pontua Climério Anacé. A festa ocorre desde 2019, ano em que o território foi tombado e acontece sempre no dia 17 de junho.
Eliane Tabajara mora na aldeia Cajueiro, em Poranga, e conta que a festa da colheita acontece há 14 anos, marcando diversas gerações dos povos Tabajara e Kalabaça. “Festejamos para agradecer ao nosso Pai Tupã pela chuva e colheita que ele nos deu durante o ano. Na festa, celebramos a vida, a fartura e a alegria de vivermos no nosso território. É um momento de muita fartura, em que preparamos pratos a partir do que colhemos, do milho e da mandioca, fazemos mugunzá, beiju, farofas e ainda realizamos nosso ritual sagrado do toré”, conta.
Em Aratuba, Cicero Perreira, liderança do povo Kanindé, conta orgulhoso sobre a festa do Mungunzá, que acontece sempre no dia 13 de junho e vem sendo passada de pai para filho por muitas gerações. “Nossa tradição é pisar o milho seco no pilão e depois fazer a mistura com a fava cozida e a carne de porco, além do mungunzá, pão de milho, canjica e tudo que você imaginar que possa se fazer a partir do milho. É um ritual acompanhado pelo forró, sanfona e muita alegria”, explica Cicero.
“Nossos antepassados, quando não tinham arroz, feijão e carnes, comiam o mungunzá e o aluá, e essa era a comida que representava fartura nas nossas casas desde aquele tempo e segue até os dias de hoje”, conta a liderança do povo Kanindé.
Ali pertinho, no Kalembre (aldeia) Feijão, que fica entre Aratuba e Canindé, o povo Karão realiza a festa dos Pingorós (presentes das chuvas), uma celebração milenar em torno da cosmologia de plantações e colheitas com base nos calendários naturais traduzidos pelo povo e guiado pelos Kahoo (espíritos superiores). Um ritual que dura o ano todo de forma cíclica ininterrupta, mas com diversas etapas e rituais durante os períodos, explica Gleidson Karão.
“A celebração dos Pingorós é guiada por constelações e planetas, no entanto algumas datas variam no calendário convencional. Nosso povo segue o calendário natural, todo ano esse ritual acontece independentemente de qualquer imprevisto, pois é esse ritual que assegura nossa subsistência. A festa é um agradecimento aos Kahoo pelo alimento que nos é presenteado e dura três dias”, observa Gleidson.
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