Ingrediente tradicional, farinhas agregam fibras e carboidratos às dietas
Farinhas são acessíveis, têm baixo custo, garantem segurança alimentar e fomentam agricultura familiar.
“Meu pai, minha mãe, eu e meus irmãos fomos criados trabalhando na roça.
A gente plantava tabaco e fazia farinha, que era o que eu mais gostava.
Hoje, quando eu chego aqui e tem trabalho de fazer farinha eu sempre ajudo meus irmãos. Eles plantam a maniva para colher a mandioca, aí com um ano eles arrancam, põe na água e fazem a farinha”.
O depoimento da agricultora Antonia Souza de Santos, do município de Bragança, no Pará, ilustra bem a relação de diversos agricultores a farinha de mandioca, elemento-chave da culinária e da cultura das populações tradicionais e camponesas de diversas partes do país.
Nessas comunidades, as casas de farinha são construções sempre presentes, representando locais de convivência, tradição e de preservação da culinária típica tradicional.
As farinhas são ingredientes utilizados em todas as regiões do país, feitas de diferentes bases. A tradicional farinha de mandioca, por exemplo é muito usada na região Nordeste, no preparo de pirão e farofa.
A farinha de trigo, comum no Sul e Sudeste, é o principal ingrediente para o preparo de bolos, bolachas e pões. Já a farinha de milho está presente no cuscuz, purês, cremes e angus, como fubá.
O modo de preparo de algumas delas ainda segue a tradição, passando de geração em geração, como conta o agricultor Reinaldo Silva, também de Bragança, no Pará.
“Todos fazem isso aqui: os filhos, netos, a família toda trabalha no mesmo ramo. Antigamente quando trabalhávamos com farinha fazia muito machucado na mão. Hoje já mudou um pouco, mas continua um processo manual".
Mas será que essas farinhas são todas iguais? “Essas três farinhas têm em comum o carboidrato como nutriente, que fornece energia para as nossas atividades cotidianas diárias. Elas são muito utilizadas por serem acessíveis, terem baixo custo, garantirem segurança alimentar e fomentarem a agricultura tradicional e a economia local”, diz a nutricionista Maria Edna Bezerra da Silva.
A contraindicação fica com a farinha de trigo, que deve ser evitada por quem desenvolve alergia a glúten, conhecida como doença celíaca, um problema crônico que induz o sistema imune a produzir células que atacam a mucosa do intestino delgado.
Entre os principais sintomas estão diarreia, distensão abdominal, deficiência de vitaminas, osteoporose, dor de cabeça e falta de energia.
Se você faz parte desse grupo, pode ficar tranquilo. Atualmente, novas farinhas vem ganhando espaço no mercado e na mesa dos brasileiros, acrescentando sabor e nutrientes como alternativas às mais tradicionais.
É o caso das farinhas de grão-de-bico e de maracujá, que são fontes de carboidratos, mas também agregam outros nutrientes a dieta, como conta Edna.
“As farinhas de grão-de-bico têm maior aporte proteico e de fibras, então tem valor nutricional melhor que farinha de trigo. A indicação é usar a farinha de grão-de-bico em algumas preparações de bolo e biscoito, porque tem maior poder proteico.”
Quem dizer experimentar essas novidades pode começar pela receita de panqueca de farinha de grão-de-bico, especialidade da Edna. O preparar dessa iguaria é simples, rápido e saboroso. Acompanhe:
Panqueca de farinha de grão-de-bico
1 xícara de farinha de grão-de-bico
2 colheres de farelo de trigo
1 pitada de sal
1 pitada de manjericão desidratado
50g de queijo ralado
1 xícara e meia de água e uma colher de manteiga
Modo de preparo: basta misturar todos os ingredientes em uma vasilha e colocar para assar em uma assadeira, lembrando de virá-la dos dois lados para cozinhar bem. Aí é só rechear com o que você preferir, como frango, legumes ou carne moída.
*As entrevistas com Antonia Santos e Reinaldo Silva foram retiradas da vídeo-performance "Mani", do artista Paulo César Jr, contemplado pelo Prêmio Rede Virtual de Arte e Cultura da Fundação Cultural do Pará.
Edição: Douglas Matos
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