đ đ QUINTAIS URBANOS CRIAM REDES DE CUIDADO E RESISTĂNCIA NA PERIFERIA DE SĂO PAULO
Um estudo etnogråfico conduzido entre 2022 e 2024 pela antropóloga Andréa Barbosa, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), analisou cerca de 20 quintais nos bairros de Pimentas, em Guarulhos, e na Zona Leste de São Paulo, revelando como esses espaços seguem vivos e pulsantes, apesar das pressÔes da cidade.
A pesquisa, publicada pela Revista Pesquisa Fapesp, mostra que esses quintais nĂŁo sĂŁo apenas hortas improvisadas ou espaços de cultivo — sĂŁo territĂłrios de memĂłria e troca, onde se compartilham mudas, frutos, receitas, plantas medicinais e afetos. Neles, a presença de espĂ©cies como taioba, ora-pro-nĂłbis e major-gomes indica a permanĂȘncia de uma cultura alimentar e terapĂȘutica que resiste Ă padronização e Ă lĂłgica mercantil da alimentação urbana.
đ± Principais descobertas
Diversidade cultural, alimentar e medicinal
Os quintais abrigam uma rica variedade de plantas: frutĂferas, medicinais, ornamentais e alguns pequenos animais.
Identificam-se espĂ©cies negligenciadas por hortifrĂști e supermercados, como taioba, ora‑pro‑nobis e major‑gomes .
Muitas delas tĂȘm propriedades benĂ©ficas (proteĂnas, minerais, diurĂ©ticas) e sĂŁo usadas para remĂ©dios caseiros.
ConexĂŁo com o campo
Migrantes trazem mudas, sementes e saberes do meio rural, mantendo viva a cultura agrĂĄria dentro da cidade .
Os quintais funcionam como continuidade de prĂĄticas rurais e de autocuidado.
Espaços de sociabilidade e economia solidåria
SĂŁo locais de trocas comunitĂĄrias: mudas, frutos, sementes circulam entre vizinhos e famĂlias .
Exemplo: Eliane e Toninho distribuem uvas aos vizinhos durante o verĂŁo, fortalecendo vĂnculos comunitĂĄrios.
ResistĂȘncia Ă urbanização e novas formas de habitar
Com o desaparecimento desses espaços, surgem os “quintais imaginĂĄrios” (varandas, hortas verticais em apartamentos), adaptaçÔes urbanas .
A diversidade de quintais varia desde o “quintal‑luxe” atĂ© o “quintal‑laje” improvisado em regiĂ”es mais populares .
Hortas comunitĂĄrias e ativismo urbano
O estudo tambĂ©m comparou hortas de ocupantes (“okupas”) em Barcelona, indicando suas dimensĂ”es polĂticas contra gentrificação.
No Brasil, iniciativas como “canteiros medicinais perifĂ©ricos” (Parceria Unifesp‑Governo Federal em comunidades paulistanas) fortalecem redes de cuidado coletivo e geração de renda .
đ Contexto acadĂȘmico e importĂąncia
AndrĂ©a Barbosa publicou o artigo “Quintais produzindo a vida da cidade”, destacando a dimensĂŁo afetiva e relacional desses espaços .
Estudos paralelos reforçam o papel dos quintais na segurança alimentar, conservação da biodiversidade e valorização de conhecimentos populares .
đ§ Por que isso importa?
♧Cultural: preserva saberes das tradiçÔes rurais, indĂgenas e populares.
◇Nutricional & medicinal: garante acesso a plantas nutritivas e remĂ©dios naturais.
♤Social: fortalece redes comunitĂĄrias e empoderamento local.
♡Ambiental: contribui para a sustentabilidade, biodiversidade urbana e conexĂŁo com o verde.
Leia a reportagem completa:
đ https://revistapesquisa.fapesp.br/quintais-reforcam-lacos-comunitarios-na-periferia-de-sao-paulo
A reportagem acima foi publicada com o tĂtulo “Universo particular” na edição impressa nÂș 352 de junho de 2025.
Projeto
Plantas em circulação produzindo a vida da cidade: Como quintais, jardins e hortas se configuram como tĂĄtica de construção de relaçÔes, socialidades e afetos (nÂș 21/10075-4); Modalidade AuxĂlio Ă Pesquisa – Regular; Pesquisadora responsĂĄvel AndrĂ©a Claudia Miguel Marques Barbosa (Unifesp); Investimento R$ 101.909,84.
Artigo cientĂfico
BARBOSA, A. C. M. M. Quintais, roças e hortas: Pråticas urbanas e ruralização nas periferias. Iluminuras. v. 24, n. 56, p. 217-44. 2023.
Livro
RODRIGUES, E. et al. (org.). Canteiros medicinais periféricos. São Paulo: Glac EdiçÔes, 2025.


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