DO COMBUSTÍVEL AO PRATO: COMO AS PETROLIFERAS ESTÃO COLONIZANDO NOSSOS SISTEMAS ALIMENTARES
Um novo relatório do IPES-Food, intitulado "Fuel to Fork" (Do Combustível ao Prato), revela uma realidade alarmante. Alimentos e agricultura já são responsáveis por 15% do uso global de combustíveis fósseis e por 40% do consumo de produtos petroquímicos. Essa conexão profunda entre petróleo e alimentação não é apenas uma coincidência industrial — ela é estratégica. À medida que outros setores começam a se descarbonizar, as grandes petrolíferas estão apostando nos sistemas alimentares como sua nova fronteira de crescimento.
Essa penetração ocorre por meio da produção intensiva de fertilizantes nitrogenados (altamente dependentes de gás natural), da onipresença dos plásticos nas embalagens e nas cadeias logísticas, e pela proliferação de alimentos ultraprocessados — todos fortemente atrelados à indústria fóssil.
Esse modelo, porém, alimenta diretamente as mudanças climáticas, intensifica a poluição, desestabiliza os preços globais dos alimentos e agrava a insegurança alimentar. Em um contexto de conflitos e oscilações no preço do petróleo, os impactos sobre o acesso à alimentação básica tornam-se ainda mais severos, principalmente para populações vulnerabilizadas.
O relatório também faz um alerta sobre soluções tecnológicas de fachada, como a chamada "amônia azul", a agricultura digitalizada e a produção de proteínas sintéticas, que, embora promovidas como alternativas sustentáveis, mantêm ou até aprofundam a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, tais tecnologias frequentemente concentram ainda mais o poder nas mãos de grandes corporações, minando a autonomia de comunidades agrícolas e camponesas.
Em vez disso, o IPES-Food propõe um caminho radical e necessário:
Eliminar gradualmente os subsídios aos combustíveis fósseis e aos agroquímicos;
Investir em agroecologia, soberania alimentar e cadeias curtas de abastecimento, que valorizem a produção local e os saberes tradicionais;
Colocar a alimentação no centro da ação climática, garantindo que a COP 30, que ocorrerá no Brasil, seja um marco na integração entre justiça climática e segurança alimentar.
Neste momento crucial, em que os impactos da crise climática se tornam cada vez mais evidentes, é urgente desvincular o sistema alimentar da lógica fóssil e corporativa. O futuro da alimentação — e do planeta — depende da coragem política e da mobilização social para transformar radicalmente o modo como produzimos, distribuímos e consumimos alimentos.
📎 Leia o relatório completo: Fuel to Fork – IPES-Food


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