LAGARTO 145 ANOS: DA MANDIOCA À MANIÇOBA, MUNICÍPIO CONSOLIDA O PODER DA TRADIÇÃO, CULINÁRIA E AGRICULTURA VIVA
O município de Lagarto é rico em tradições. Aos sábados, por exemplo, a comida que não pode faltar na mesa é a maniçoba, que começa a ser comercializada nas primeiras horas da manhã para que o costume seja seguido no horário da janta. O prato, oriundo da folha de mandioca, foi reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial do estado de Sergipe, por meio do Projeto de Lei N° 324, de 21 de dezembro de 2021, da então deputada estadual Goretti Reis e atual secretária de Saúde do município.
Semelhante a um caldo, a maniçoba é preparada com cerca de sete dias antes de chegar à mesa, tempo ideal para que a folha da mandioca seja moída e cozida, e toda a toxicidade seja retirada. As carnes suínas e bovinas e os temperos como alho, cebola, cheiro verde, entre outros são acrescentados em seguida para que sejam apurados entre dois a três dias de cozimento em fogo baixo.
Em Lagarto, a tradição do preparado da maniçoba é passada de geração em geração. Dona Maria Joselita de Vasconcelos, mais conhecida como Dona Zelita, faz a maniçoba há cerca de 40 anos. Ela aprendeu a preparar a receita com sua mãe e, hoje, tem a maniçoba como uma fonte de renda. A procura pela deliciosa maniçoba que Dona Zelita prepara é alta, o que a tornou conhecida entre os lagartenses e homenageada, em 2011, com um prêmio concedido pela Secretaria de Cultura do município.
Apesar de hoje em dia contar com a ajuda de outras pessoas na cozinha, por não conseguir mais mexer a maniçoba no caldeirão, o preparo inicial e o tempero ficam por sua conta. A folha, no caso dela, é comprada já moída, o que dispensa a necessidade dos sete dias do preparo, já que as toxinas da folha bruta foram liberadas.
“Começo comprando a folha da mandioca já moída, o que otimiza no tempo do preparo, não sendo necessário esperar por sete dias de cozimento. Depois disso, começo a cozinhar na sexta à tarde até às 21h. No sábado, cozinho o pé de boi e porco, jabá e toucinho, de 8h às 11h, para só depois colocar todos os temperos que desejo e mexer com a farinha molhada para não embolar. Quando tudo está preparado, desfio toda a carne para não ficarem os pedaços grandes, e sirvo no prato das pessoas”, explica.
História da maniçoba em Lagarto
O professor doutor Claudefranklin Monteiro, destaca em seu texto ‘A maniçoba como marco identitário da cultura lagartense’, que o prato típico tem origem para além das fronteiras do município, chegando a Lagarto no final do século XIX.
“Alguns estudos demonstram que a deliciosa iguaria, de origem indígena, teria chegado a Lagarto por volta do final do século XIX, certamente vinda da região norte do país, de modo particular do Estado do Pará (origem) ou da Região de Feira de Santana, Recôncavo Baiano. Essa incógnita da vinda da maniçoba para Lagarto tem despertado a curiosidade dos estudiosos, especialmente na área de História. A julgar pelo que já foi escrito sobre a História de Lagarto, o prato naturalizou-se lagartense por importação, certamente no comércio interprovincial de escravos ou até mesmo de uma iniciativa particular”, explica.
Importância da mandioca para região
A mandioca, também conhecida como macaxeira, aipim, mandioca-doce, amarga, mansa, brava, entre outras, é um dos produtos mais plantados, comercializados e consumidos na região. É através dela que muitas famílias de produtores garantem uma fonte de renda, trabalho e sobrevivência, pois pode ser plantada em diversos tipos de solos, se adapta com facilidade e é o ingrediente principal em diversos tipos de receitas, como a maniçoba.
A depender da variedade e da condição climática, o período de plantação da mandioca até a sua retirada dura em torno de oito a 24 meses, e ocorre, geralmente, no início da estação chuvosa.
Seu Edvaldo Soares, mais conhecido como Nanado, 67, reside no povoado Várzea dos Cágados e desde a infância vê a mandioca como fonte de sobrevivência familiar. A produção de mandioca iniciou pelo seu pai, que ao morrer deixou o legado do trabalho continuado por Nanado.
Em Lagarto, muitas pessoas vivem da mandioca, seja através da produção e comercialização, como da compra e produção de algum alimento, a exemplo da própria maniçoba, da farinha, tapioca, entre outros. No caso de Seu Nanado, ele planta e comercializa a mandioca.
“A mandioca já é uma tradição que vem da nossa família. Comecei a plantar desde pequeno, com meu pai. Quando ele morreu, continuei plantando e vendendo. Vendo a tonelada e é através disso que sustento a minha casa. Geralmente, dura quase um ano e meio, da plantação até a colheita. Mas para plantar é tranquilo. Plantou, ela nasce e se cria, isso é certeza”, disse o produtor.
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O especial Lagarto 145 anos reúne uma série de reportagens em profundidade em texto e audiovisual, produzidas pelas equipes de Jornalismo e Marketing da Secretaria Municipal de Comunicação. Neste mês de aniversário, a série tem como finalidade fortalecer o sentimento de pertencimento do povo lagartense, a partir de alguns dos diversos elementos que compõem a identidade histórica, regional, cultural e social da nossa cidade. A reportagem que você acabou de ler destaca o consumo da maniçoba, um prato tradicional do município que tem como base a folha da mandioca — outro elemento de muita força para a identidade agrícola de Lagarto.






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