Já ouviu falar das "As Mondine

Saiba como mulheres trabalhadoras dos campos de arroz na Itália, se tornaram heroínas da esquerda, frente ao fascismo.

Por Flora Derounian

Em uma era antes do surgimento dos pesticidas e da mecanização, uma força de trabalho exclusivamente feminina foi empregada para “desinfetar” e coletar as plantações de arroz da Itália. 

A força, a firmeza e consciência dessa luta deram uma enorme contribuição às conquistas sociais na Itália fascista. 

Elas trabalharam e contribuíram para a libertação do nazi-fascismo, mesmo sem direito ao voto, faziam ouvir suas vozes e contribuir para a mudança.

As mesmas lutas realizadas pelas trabalhadoras e trabalhadores não cessaram com a proclamação da República Democrática Italiana, mas atingiram o auge em maio de 1949. 

Com a queda de Mussolini e do fascismo, um novo cenário político esperado, o voto para as mulheres, a emanação Da Constituição, o momento da redenção do proletariado agrícola chega sob a pressão do Partido Comunista que exigia uma reforma agrária que se opusesse aos latifundiários e, portanto, ao fascismo que eles sempre apoiaram, afirmando que a terra era distribuída para quem trabalha lá.

Eram as  "Mondines" trabalhadoras dos campos de arroz italianos, podem ser coisa do passado, mas eles têm um notável legado político.

Em uma era antes do surgimento dos pesticidas e da mecanização, a força de trabalho feminina foi empregada para “desinfetar” e colher as plantações de arroz da Itália.

A Itália era e continua sendo o maior produtor de arroz da Europa . 

As ervas daninhas de arroz, conhecidas em italiano como "mondine", podiam ser encontradas até os joelhos em campos inundados de maio a julho, em todo o "cinturão de arroz" da Itália, que abrange as regiões setentrionais do Piemonte, Emília Romanha, Lombardia e Veneto.

 

Para evitar a punição por falar durante o horário de trabalho, elas desenvolveram um incrível repertório de músicas de chamada e resposta polifônicas, muitas vezes lamentando condições miseráveis ​​de trabalho ou empregadores exploradores.

Como um senador italiano disse em 1953, o trabalho das herbicidas de arroz merecia seu próprio círculo no inferno de Dante. 

Além de oito horas por dia sob o sol forte, as coletoras de arroz foram atormentadas por mosquitos portadores de malária e desnutrição, e sofreram taxas de aborto muito mais altas do que outras mulheres trabalhadoras.

Bella Ciao é uma canção italiana popular, nascida antes da Libertação, que mais tarde se tornou famosa depois da Resistência porque estava idealmente associada ao movimento partidário italiano, apesar de ser uma canção popular italiana, ligada a eventos nacionais, ainda é conhecida em muitas partes da Europa como uma canção de rebelião contra o nazi-fascismo.

A atriz Silvana Mangano interpretou o papel de uma trabalhadora nos campos de arroz por seu papel no cult Bitter Rice em 1949, ela teria dito: “Assim, por oito horas? Eu não faria esse trabalho nem por um milhão por dia! ”Várias das entrevistas que estou estudando conheceram Mangano em 1948 como figurantes no set do filme.

No meio do joelho em protesto

Talvez seja por causa dessas condições de exploração que o ativismo coletivo e político prosperou nos campos de arroz. 

A partir de 1900, as coletoras de arroz juntaram-se às organizações de esquerda, como os partidos comunistas e socialistas italianos, mas também à Unione donne italiane (a União das Mulheres Italianas) e instituições da classe trabalhadora, como o Case del Popolo. Casas) e cooperativas.

Durante a ocupação nazista da Itália, muitas abandonaram os campos de arroz e, em 1944, recusaram-se a trabalhar para seus opressores, algumas não voltaram a trabalhar até a queda do fascismo.

As "Mondines" também eram ativas na libertação da Itália dos nazistas. Muitos entrevistados faziam parte da Resistência Italiana, sendo que algumas esconderam partidários em suas casas, ou agindo como mensageiros entre batalhões.

Tragicamente, assim como a participação mais ampla das mulheres na libertação da Itália dos nazistas e fascistas, as contribuições dos invasores à guerra muitas vezes não foram reconhecidas. 

Uma entrevistado que era uma mondine do arroz e membro da resistência recordou como após a guerra seu marido foi dado um prêmio para seu papel como um partidário, quando foi oferecido também a ela um prêmio, seu marido interveio, dizendo "um na casa é suficiente".

Irmãs de Togliatti

As mondines também protestaram contra a sua substituição por máquinas agrícolas. 

Uma trabalhadora em Filo, Bolonha durante a segunda guerra mundial, contou em uma entrevista:

Nós fomos contra as colheitadeiras, juntas na terra ... e nós as paramos. Meu marido me disse 'Um dia desses eles não vão parar'. Eu respondi: 'Eu morreria feliz pelo meu trabalho'.

O papel dos herbicidas foi definitivamente substituído por pesticidas e mecanização na década de 1960.

Nas entrevistas, as mulheres fizeram referências frequentes a figuras de esquerda, como o líder comunista italiano Palmiro Togliatti , que cantaram como “campeões dos trabalhadores”. Outros se declararam “irmãs de Togliatti”. Uma mulher, que morava em Medicina, contou:

Sentimos que a luta pela libertação era, sim, uma luta contra os alemães e os fascistas, mas também uma grande fonte de esperança para nós camponeses, tão explorados e pobres.

Heroínas e mártires

Hoje, os herbicidas de arroz da Itália ganharam um culto de seguidores por suas músicas e seus vestidos. 

Os coros agora tocam as músicas das mendines em festivais na Itália e no exterior, às vezes em colaborações incongruentes com jovens bandas de rock.

Um trailer do filme Bitter Rice.

O sucesso do filme Bitter Rice catapultou as ervas daninhas para a consciência pública por causa de como elas se vestiam. 

Anteriormente, os invasores usavam longas saias nos campos, mas no filme Mangano usava shorts e meias rasgadas, posteriormente elas adotaram esse estilo e se tornaram sua característica mais lembrada - e reproduzida.

Elas também são lembradas pelo assassinato de Maria Margotti, que foi baleada por um membro da polícia durante um protesto agrícola em maio de 1949. 

Sua morte foi usada pela esquerda italiana como prova da repressão e do abuso do Estado às classes trabalhadoras, elementos do partido comunista italiano usaram a morte de Margotti para encorajar a resistência popular ao governo democrata-cristão.

O ativismo e a agitação das Mendines do arroz eram notáveis. No entanto, minha pesquisa revelou que, com o passar do tempo, sua memória foi silenciada, sexualizada ou - como mostra o caso de Margotti, foi usado para fins políticos.

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