COVARDIA


Eram dias frios

intensamente frios, 

para a época do ano,

doíam ossos e tutanos


Ouvíamos o silêncio,

conversas de bocaouvido,

quase sussurros.

Havias mortos, e não eram poucos 

as ruas desertas, eram quase assombrações


Dizia -se coisas estranhas,

rumores eram ouvidos,

pessoas eram levadas,

desapareciam, 

assalpões, sumidouros


Nas ruas, 

a intensa garoa, 

deixava um rastro de melancolia,

de tão contida, uma quase tristeza


No coração 

rompiam lágrimas 

tombou João 

calou Maria 

No parque, árvores secas, formavam um manto desolador, terra bruta, batida.

Árvores secas, exibiam pequenos brotos coloridos, estalavam como num passe de mágica, sob meu olhar.

Tripudiem dos mortos da Covid-19 

Dos que tombaram nos anos duros do golpe militar, e até da nossa inteligência.

A cultura e a história, são impiedosos com os covardes, inclementes com a desumanidade.

Folhas secas, levadas ao vento, 

só tem um destino,

O esquecimento!



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